SILVIO OSIAS
Uma première na terra dos Beatles: Eight Days a Week, the touring years
Publicado em 17/09/2016 às 17:25 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
Abro espaço na coluna para um texto exclusivo do professor doutor Lauro Meller, acadêmico da área de letras, nascido em João Pessoa, professor da UFRN. Atualmente, Lauro mora em Liverpool e, nesta quinta-feira (15), assistiu, como convidado, à estreia mundial do novo filme sobre os Beatles.
Uma première na terra dos Beatles: Eight Days a Week, the touring years
Lauro Meller, de Liverpool
Na última quinta-feira, estendeu-se um tapete azul em frente ao FACT Picturehouse, em Liverpool, para a première mundial do filme Eight Days a Week: the touring years, dirigido por Ron Howard. Enquanto o acesso não era liberado, uma pequena multidão de sexagenários, septuagenários e até octogenários, todos muito bem vestidos, começou a se aglomerar em frente ao cinema. O público local, que passava pela Bold Street e observava com curiosidade a presença de câmeras de televisão e da estrutura de isolamento com o nome do filme, não imaginava que, dentre aqueles recatados senhores e senhoras que aguardavam o início do filme, estavam Colin Hanton, Len Garry e Rod Davies, três dos membros originais dos Quarrymen, a primeira banda de John, imortalizados numa foto hoje histórica; Julia Baird, irmã de John Lennon; Joe Flannery, ex-sócio de Brian Esptein e booking agent dos Beatles em seus primórdios; e Allan Williams, primeiro empresário da banda e dono do Jacaranda, um bar a duas quadras dali, na Slater Street, onde os rapazes se apresentaram no início da carreira
Dirigido por Ron Howard, o filme traz o enfoque específico dos Beatles em turnê, desde o indispensável aprendizado nos cabarés de Hamburgo até a roda-viva que os levou a desistir dos palcos, quando a histeria das fãs os transformou numa caricatura de si próprios. Diante de tudo que já se disse, filmou e escreveu sobre os Beatles, é muito raro surgir uma perspectiva nova sobre o tema, e Eight Days a Week nos deixa a impressão de ser “mais do mesmo”, principalmente para quem assistiu aos episódios da série Anthology, lançada em 1995.
Nesse “novo” filme, não há surpresas nem revelações, e repetem-se os relatos das noites estafantes na Alemanha, do papel crucial de Brian Epstein como o empresário que soube criar uma imagem vendável de seus rapazes, da precária estrutura de apoio para “cair na estrada”, da piada que era tocar para 50 mil pessoas utilizando amplificadores de 100 watts, hoje utilizados por qualquer banda de garagem. Repetem-se, também, as mesmas histórias sobre os protestos que os Beatles enfrentaram ao tocarem no Budokan, em Tóquio, um templo de artes marciais, e sobre eles terem, supostamente, ignorado o convite de Imelda Marcos para uma recepção oficial, o que quase lhes custou a vida. A polêmica declaração de John sobre os Beatles serem mais populares que Jesus Cristo é relembrada, bem como a repercussão negativa que isso gerou em solo norte-americano, principalmente nos Estados do Sul. Mas, apesar de as histórias serem as mesmas, há muitas imagens inéditas, o que é impressionante ao lembrarmos que os Beatles pararam de excursionar há exatos 50 anos, no show do Candlestick Park, em São Francisco.
Para a estreia em Liverpool, que começou meia hora antes da de Londres, foi apresentado um vídeo introdutório ao filme - e que poderia perfeitamente fazer parte do corpo principal da obra -, com entrevistas dos ainda residentes na cidade ligados aos Fab Four e à sua história. Sem dúvida, boa parte da “mágica” dessa noite foi saber que as pessoas falando na telona estavam ali, sentadas praticamente ao seu lado.
Ringo Starr e Paul McCartney gravaram um curto recado ao público de Liverpool, exibido durante a sessão; preferiram comparecer à estreia em Londres, talvez por praticidade, talvez pelo glamour da capital. Esse gesto foi recebido com uma ponta de ressentimento por alguns dos presentes, e compreensivelmente. Apesar de serem hoje megaestrelas, e de terem conquistado todo sucesso por seus próprios méritos, Liverpool foi o marco zero da jornada que colocou os Beatles para sempre no mapa da cultura ocidental.
Lauro Meller, o autor do texto, também é músico e estuda a obra dos Beatles sob a perspectiva acadêmica. Professor da UFRN com doutorado em Letras pela PUC-Minas, bolsista CAPES em estágio pós-doutoral no Institute of Popular Music - University of Liverpool.
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