Visita, presidente, de Julia Duailibi, é importante documentário sobre a prisão de Lula

A Globo ajudou a botar Lula na cadeia e agora faz documentário sobre o período em que o então ex-presidente ficou preso. Li algo parecido nas redes sociais, a propósito de Visita, presidente, que a GloboNews exibiu nesta quarta-feira (28). É a visão estreita dos que são e serão sempre contra o jornalismo profissional e o fato de que ele é produzido em grandes empresas de comunicação. Sabem o que penso? - que, para esses críticos, não há saída. Eles batem tanto na direitização da Folha, que se posiciona mal no atual momento histórico que o país vive, quanto na Globo como um todo, que tem estado do lado da preservação da democracia.

Visita, presidente é, em primeiro lugar, primoroso jornalismo produzido por Julia Duailibi, âncora e comentarista da GloboNews. E é excelente documentário feito para televisão. Não é cinema, mas também tem muito de cinema documental na construção da sua narrativa, que alterna imagens de arquivo com as entrevistas que Julia fez. Seu documentário reconstitui a história, ainda tão recente, da prisão de Lula a partir da visão de quem esteve perto dele e chega ao público a quatro dias da sua posse para um terceiro mandato presidencial.

Jornalismo tem que ser isento, jornalismo tem que mostrar os dois lados, jornalismo não pode ter lado. Não sei o que Julia Duailibi pensa a respeito, mas, como jornalista profissional que sou há décadas, cá com meu olhar de homem velho, penso que jornalismo nem sempre tem que ser isento, nem sempre tem que mostrar os dois lados, muitas vezes pode ter lado, sim. Visita, presidente tem lado. No mínimo, está do lado de um exercício jornalístico de alta qualidade e da luta que por este pode ser exercida em defesa de uma democracia tão aviltada.

O caminho que Julia Duailibi escolheu para fazer Visita, presidente é claro. Ela optou por realizar um documentário que não ouve os dois lados. Ela quis contar a história da prisão de Lula ouvindo os que estiveram e estão com ele. Companheiros e companheiras da luta política, advogados, amigos, o fotógrafo Stuckert e Janja, figura essencial para que o ex-presidente se mantivesse emocionalmente equilibrado durante os 580 dias em que esteve preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Até o carcereiro mudou de lado.

Não há depoimentos frios, distanciados. Haddad, Gleisi, Stuckert, Greenhalgh, Zé Eduardo, Zanin - todos lutaram por Lula, até que se provasse que ele não poderia ter sido preso, que o então juiz Sergio Moro foi parcial. As muitas falas que reconstituem a história contêm afeto, emoção, cumplicidade. Mas são elas que, colhidas e montadas sob a habilíssima batuta de Julia Duailibi, constroem esse filme que começa em abril de 2018, quando Moro mandou prender Lula, e termina em novembro de 2019, quando, afinal, o agora presidente eleito foi solto.

A história de Lula é uma grande história. É uma das maiores histórias da política brasileira. Ela também passa por Curitiba. O personagem central do documentário não quis falar. Talvez necessite de distanciamento. Esse distanciamento, a rigor, nenhum de nós tem. Ainda estamos testemunhando a história. Lula foi eleito presidente, e Bolsonaro foi defenestrado do poder pelas urnas. Democracia em reconstrução é o que há pela frente. Com Visita,presidente, o jornalismo dá uma contribuição significativa. Julia Duailibi faz a parte dela.