SILVIO OSIAS
Você ama Bob Dylan ou ele ainda é um completo desconhecido?
Cinebiografia sobre os primeiros anos do músico americano estreia no Brasil no dia 27 de fevereiro.
Publicado em 20/02/2025 às 7:41

Quem ama Bob Dylan, como eu, está contando os dias. Quem ainda o tem como um completo desconhecido, logo terá uma oportunidade de se apaixonar.
É que, na quinta-feira que vem, dia 27 de fevereiro de 2025, estreia nos cinemas brasileiros o filme Um Completo Desconhecido, dirigido por James Mangold.
Um Completo Desconhecido não conta toda a história da vida de Bob Dylan. Na verdade, se debruça apenas sobre os primeiros anos da sua trajetória.
Bom que o título brasileiro do filme - Um Completo Desconhecido - guarde absoluta fidelidade ao título original no inglês: A Complete Unknow.
Está na letra da canção Like a Rolling Stone: "How does it feel, how does it feel?/To be without a home/Like a complete unknown/Like a rolling stone".
Timothée Chalamet faz Bob Dylan. Monica Barbaro é Joan Baez, a musa da canção de protesto dos anos 1960. O filme tem oito indicações ao Oscar.
Na canção popular dos Estados Unidos produzida por essa geração que nasceu na década de 1940 e se tornou conhecida mundialmente a partir dos anos 1960, o nome de Bob Dylan pode até não ser, na essência, o de maior talento musical, mas, sem qualquer dúvida, é o mais importante.
Robert Allen Zimmerman, nascido em Deluth, Minnesota, estado da fronteira com o Canadá. Bob Dylan - com o Dylan do nome artístico retirado do poeta Dylan Thomas. Dylan, simplesmente, como nós o chamamos. Ou do jeito que ele mesmo canta: "You may call me Bobby", "you may call me Zimmy".
Se você quer conhecê-lo melhor, leia a extensa biografia No Direction Home (no Brasil, A Vida e a Música de Bob Dylan/Larousse), de Robert Felton, que, sem constrangimentos, ostenta as virtudes e exibe os defeitos do artista e do homem.
Ou veja o filme que se chama igualmente No Direction Home, um documentário de quatro horas de duração, no qual o diretor Martin Scorsese sintetiza o que Dylan é debruçado somente sobre os cinco primeiros anos da carreira dele.
Ou, ainda, se deixe arrebatar pelas centenas e centenas de páginas de Bob Dylan, Letras 1961-1974 e Bob Dylan, Letras 1975/2020, ambos lançados pela Companhia Das Letras, com tradução para o português de Caetano W. Galindo.
Há também o volume um das Crônicas/Planeta, que oferece o poeta fazendo prosa. E, bem recentemente, A Filosofia da Música Moderna/Companhia Das Letras, com ensaios que o próprio Bob Dylan escreveu sobre canções que marcaram sua vida.
Os quatro números que ele faz no filme The Concert For Bangladesh são deslumbrantes. Têm Leon Russell e os beatles George Harrison e Ringo Starr ao seu lado.
Ele voltava de um autoexílio em Woodstock, com a barba por fazer, o cabelo cheio de cachos, a beleza da juventude (acabara de completar 30 anos), um surrado blusão jeans e um violão que, na introdução do número final, parece uma viola nordestina.
É Just Like a Woman. Ele escreveu centenas de canções. Essa é uma das mais bonitas. "Ah, você finge igualzinho a uma mulher, é verdade/Você faz amor igualzinho a uma mulher, é verdade/Aí você sofre igualzinho a uma mulher/Mas você desmonta igualzinho a uma criança" - São versos de um letrista de canção popular, mas são versos que remetem aos grandes poetas - quando a gente debate se há ou não distinção entre os dois.
Em The Freewheelin' Bob Dylan, seu segundo disco, lançado em maio de 1963, há uma canção chamada A Hard Rain's a-Gonna Fall. "Eu encontrei um homem que foi ferido no amor/Eu encontrei um outro homem que foi ferido pelo ódio/E é pesada, e é pesada, é pesada, e é pesada/E é uma chuva pesada que vai cair".
Seis meses mais tarde, no dia 22 de novembro, a pequenina câmera amadora de um anônimo de nome Abraham Zapruder seria a única a registrar o assassinato do presidente John Kennedy, em Dallas.
Mais de 40 anos depois, no documentário No Direction Home, Martin Scorsese juntou os versos da canção profética de Dylan com as imagens realíssimas de Zapruder. E estas agora estão associadas àqueles.
Dylan foi folk, fez canção de protesto, foi acústico. Dylan largou o folk, a canção de protesto e trocou o violão por uma guitarra Fender. Dylan cantou de cara limpa e com o rosto todo pintado. Dylan é judeu, mas já foi cristão.
Em The Last Waltz (O Último Concerto de Rock), Martin Scorsese o filmou lindamente, usando um chapéu e cantando Forever Young com The Band a acompanhá-lo.
Quando vi seu show ao vivo e ele cantou Forever Young, uns garotos ao meu lado, no meio da multidão, o saudavam enquanto ele praticamente declamava os seus versos:
"Que você cresça e seja justo/Que cresça verdadeiro/Que saiba sempre a verdade/E veja as luzes que te cercam/Que você tenha sempre coragem/Que fique ereto e seja forte".
Nenhum de nós será jovem para sempre. Dylan hoje é um homem velho. Fará 84 anos em maio. Mas desejemos que o vento siga trazendo respostas para as perguntas feitas, em 1963, em Blowin' in the Wind, a mais clássica canção de protesto do jovem Dylan.
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As traduções das letras aqui publicadas são de Caetano W. Galindo.
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