SILVIO OSIAS
Vocês sabem o que é isso? Eleazar de Carvalho já foi regente titular da Orquestra Sinfônica da Paraíba!
Publicado em 13/10/2020 às 5:50 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:54
Durante o segundo governo de Tarcísio Burity, Eleazar de Carvalho foi diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Imagino que devia custar caro ao Estado, mas que era incrível, era.
Eu adorava conversar com o maestro.
Diziam que era um chato, mas costumava ser cordial comigo.
Contava histórias maravilhosas.
Era amigo de Leonard Bernstein, um dos meus ídolos.
Bernstein, Lenny - maestro, pianista, compositor, homem de esquerda, gay, amante do jazz, louco pelos Beatles. Uma das figuras mais extraordinárias da música do século XX.
Eleazar e Bernstein foram alunos do mesmo professor, Serge Koussevitzky.
"Lenny vive um dilema", me disse Eleazar.
"Não me diga, a essa altura, que tem a ver com a homossexualidade dele", comentei.
"Não, não, o problema é com a música que compõe", afirmou.
Puxa, que problema terá Bernstein com a sua música, compondo as peças maravilhosas que compõe?
E veio a explicação: "Ele acha que não há contemporaneidade, que a sua obra não é do século XX".
Outro dia, falou sobre Zubin Mehta, que obtivera sucesso estratosférico ao reunir os tenores Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo num concerto.
"Fez tanto sucesso quanto os Beatles", comentou Eleazar.
Como ele tinha fama de não gostar de música popular, perguntei:
"O senhor gosta dos Beatles?".
E ouvi:
"É claro que gosto!".
Foi ligeiramente ríspido, assim como quem diz: "Não faça perguntas idiotas!".
Fui vê-lo reger a Orquestra Sinfônica da Paraíba executando Also Sprach Zarathustra.
Nietzsche traduzido por Richard Strauss.
Não é música fácil. A maioria das pessoas só conhece a abertura, popularizada por Stanley Kubrick no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. E usada por Elvis Presley no inicio dos seus shows.
É um poema sinfônico belo e denso, e seu final não tem grandiloquência.
Justamente nos minutos finais da execução, numa noite em que a orquestra brilhou sob a condução de Eleazar, alguém gritou na plateia: "Dá-lhe, negão!"
O maestro, punhos fechados batendo sobre o peito (fazia parte do seu expressivo gestual), reagiu em voz baixa, porém indignado com tamanha inconveniência: "Estúpido!".
Cearense, Eleazar de Carvalho nasceu em 1912. Morreu em 1996.
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Na foto, lá em cima, Eleazar (à esquerda) e Bernstein (à direita) com o mestre Koussevitzky (sentado, ao centro).
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