CULTURA
Skank elege nova musa
Seis anos sem lançar um disco de inéditas, banda mineira Skank lança 'Velocia'; disco que fala de futebol e protestos de junho de 2013.
Publicado em 11/06/2014 às 6:00 | Atualizado em 30/01/2024 às 14:14
Seis anos sem lançar um disco de inéditas. Dez meses em estúdio para preparar um novo álbum. O Skank nunca demorou tanto entre um inédito e outro. E nunca passou tanto tempo produzindo um. Por isso, batizar o 14º disco do grupo de Velocia (Sony Music, R$ 20,00) soa um tanto irônico.
“Esse disco é um contraponto a esse mundo tão rápido e fragmentado que a gente vive”, confirma o tecladista Henrique Portugal, em papo descontraído com a reportagem, por telefone. “Tem também algumas citações, nas músicas, sobre entortar os ponteiros com as mãos... e a gente gosta de uns nomes esquisitos, como Cosmotron, Maquinarama...”.
Entre um show e outro, o grupo foi fazendo Velocia. Gravaram perto de 20 músicas, mas só colocaram 11 no CD que acaba de chegar às lojas. O álbum tem tudo que o Skank - e seu público - gosta: rock, ragga, refrões pegajosos, baladas e, claro, futebol.
Às vésperas da Copa do Mundo, a banda mineira elege sua musa: Alexia, jogadora do Barcelona. É a jovem “bela da tarde com charme encanta” quem inspira a canção de abertura do disco e, na letra, o grupo a compara com Lionel Messi, grande estrela do Barcelona, e também aos deuses do rock Elvis Presley e Jimi Hendrix.
“A gente a coloca no Olimpo”, admite Henrique, que também joga como cronista esportivo e é autor do livro oficial do Cruzeiro. “A gente achou que seria diferente, inusitado, fazer uma música para uma jogadora nova (Alexia fez 20 anos em fevereiro)”.
O quarteto botou os olhos na jovem Alexia através de um vídeo na internet, no qual ela faz um tremendo gol depois de uma jogada de tirar o chapéu. “Como a gente já tem uma música que é um hino de futebol atemporal, não se trata de ser uma coisa de aproveitar a Copa do Mundo e fazer uma música”, Henrique sai na defesa. “Na verdade, (a música) é um contraponto total a ‘Uma partida de futebol’”.
‘Alexia’, a música, é (mais uma) uma parceria entre Nando Reis e o vocalista Samuel Rosa. “O Nando trabalha com a gente desde 1996, com a música ‘Uma partida de futebol’, e o índice de acerto dele é muito alto: ‘Uma partida de futebol’, ‘Resposta’, ‘Ainda gosto dela’, 'Sutilmente’...”, enumera Henrique, referindo-se aos grandes sucessos de sua banda. “Então a gente pensou: tá na hora de fazer mais músicas com ele”.
E fizeram. No novo trabalho, Nando Reis assina seis, das 11 faixas do repertório que, assim como as demais, trazem a letra dele e a melodia de Samuel. “E ainda canta em duas músicas”, lembra o tecladista. Reis faz dueto com o vocalista do Skank em ‘Alexia’ e ‘Périplo’.
Apesar de quase onipresente, Nando Reis não é o único parceiro do repertório inédito. Lucas Silveira (Fresno) assina, com Samuel, ‘Do mesmo jeito’. O rapper Emicida (com quem o Skank chegou a gravar um clipe 3D) também mandou duas letras para Samuel musicar - ‘Rio beaultiful’ e ‘Tudo isso’ – e a cantora paulista Lia Paris, além de assinar com o vocalista do Skank ‘Aniversário’, também canta com ele.
Coube ao bom camarada BNegão emprestar seu discurso afiado à ‘Multidão’ (outra canção da safra Rosa-Reis), canção que reflete os protestos que invadiram o Brasil há um ano, quando o grupo trabalhava o novo álbum. “O texto do BNegão é mais rua, e a história do Nando, que é uma coisa mais lírica, cria um contraponto, com aquela base meio mântrica, que tem tudo a ver com o nosso trabalho, uma coisa meio dub, meio jamaicana”, explica o tecladista.
“A gente já falou de rebelião, de sem-terra, de indignação, mas as músicas só ganham amplificação quando o meio coletivo tá passando por aquele momento. Às vezes, não adianta você berrar no lugar onde seu discurso não interessa às pessoas, então tem muita gente comentando sobre a musica exatamente por conta do momento”.
Na capa de Velocia, o grupo se voltou, mais uma vez, à Espanha. Em Palma de Maiorca, o empresário Fernando Furtado encontrou o Oriol Angrill Jordá e entregou ao desenhista fotos do quarteto, que ele retratou, à perfeição, Samuel e Henrique, mais o baixista Lelo Zaneti e o baterista Haroldo Ferretti.
“Na verdade, a historia do Oriol com a música ‘Alexia’ foi uma coincidência”, garante Henrique. “A gente sempre gostou de pop arte. Se você pegar as capas do Skank, tem sempre referências a artistas como Glenn Barr (que inspirou a arte de Carrossel), o carro do Maquinarama é do Scharf, a capa do Radiola é dos Clayton Brothers... a gente gosta de arte contemporânea de forma geral e eu acho que a capa (de Velocia) ficou muito bacana”, conclui o tecladista.
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