CULTURA
Sonoridade experimental
Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, guitarrista da banda O Rappa fala da turnê de 'Nunca Tem Fim...' novo disco que traz músicas inéditas.
Publicado em 25/09/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:43
Depois de um recesso de 2 anos, O Rappa voltou aos palcos em 2011. A nova estrada de turnês – que começou no último dia 20, em São Paulo – leva o nome de Nunca Tem Fim... (Warner Music), novo disco de inéditas que leva o DNA das misturas experimentais de dub, reggae, rock e hip hop do grupo carioca. Lançado em CD, o álbum sairá também em vinil duplo.
O guitarrista paraibano Alexandre Menezes, o Xandão, conta em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA que, mesmo com um hiato 5 anos sem inéditas, a produção do disco se deu de forma natural, no tempo em que o grupo carioca está acostumado a trabalhar.
“Cada um traz o seu material e depois tem também um tempo de estúdio. Durante os dois anos em a gente entrou em férias, produzimos muito material em nossos estúdios pessoais”, afirma o músico. “Um disco novo sempre é um espaço para testar coisas novas”, garante.
A produção de Nunca Tem Fim... ficou a cargo do veterano Tom Saboia, que também ajudou a selecionar e organizar a soma que ultrapassava 400 materiais quando entramos em estúdio.
“A gente tinha trabalhado com ele no 7 Vezes (2008) e foi uma parceria que deu certo”, relembra Xandão. “Então, o Falcão sugeriu convidarmos ele novamente e gostamos da ideia. Tinha que ser alguém que já sabe como é nossa rotina em estúdio”.
Para a masterização do CD, entrou em cena o zimbabuiano Stephen Marcussen em seu estúdio na Califórnia, conhecido por seu trabalho com artistas como Nirvana, Paul McCartney, Stevie Wonder, Aerosmith e o Red Hot Chilli Peppers.
O álbum tem a tradicional mistura do grupo, mas também ganha tons eletrônicos e experimentais com naipe de metais e piano. “A nossa matriz sonora já é bem ampla, a gente gosta de misturar instrumentos e estilos. Gravamos até tuba nesse CD”, revela.
“O (tecladista e baterista Marcelo) Lobato é meio um ‘Professor Pardal’ e vem com ideias. Eu queria que a guitarra aparecesse mais nesse disco, chegasse mais na frente, com solos. O próprio Tom contribuiu com sugestões. Então o Nunca tem Fim... é resultado da mistura dessas ideias e sonoridades”.
O resultado pode ser encontrado na faixa de abertura, o dub ‘O horizonte é logo ali’, como também no reggae de ‘Boa noite, Xangô’, ‘Anjos (Pra quem tem fé)’ e o rap ‘Auto-reverse’, essas duas últimas singles que precederam o experimentalismo do disco.
“O processo da composição também foi bem colaborativo, contamos com parceiros nossos como o Marcos Lobato, Vinicius Falcão, Saboia, Vê Domingos e o Lula Queiroga, que já trabalhou com o Lenine”. O rapper Edi Rock (Racionais MCs) participa como convidado especial na faixa ‘Um dia lindo’, que encerra o disco e ainda tem versos incidentais de ‘Praia e sol’, samba-rock do veterano Bebeto.
São mantidas as letras que carregam um viés característico d’O Rappa, seja de fé (‘Anjos’), superação (‘Auto-reverse’), diferenças sociais (‘Doutor, sim senhor!’) ou a impunidade (‘Cruz de tecido’, sobre o acidente aéreo no aeroporto paulista de Congonhas em 2007). “São vários sentimentos que surgem disso tudo”, explica o guitarrista. “Mas uma linha comum é a de que é preciso buscar sempre um amanhã melhor, questionar, acreditar. É a ideia que não devemos ficar na zona de conforto, acomodados, acostumados com a impunidade”.
A CAPA DE DEODATO
Outra novidade é bem visível logo na ‘cara’ do disco Nunca Tem Fim... O paraibano Mike Deodato Jr. – famoso quadrinista por emprestar seu estilo realístico para personagens da editora norte-americana Marvel Comics como Homem-Aranha, Hulk e Vingadores – foi convidado para ilustrar a capa do novo trabalho do grupo.
“A ideia de chamar o Mike partiu do Falcão, depois que viu uma entrevista dele”, conta o conterrâneo Xandão. “Fizemos o convite e, quando fomos à Paraíba fazer show (em 2011), aproveitamos para jantar com ele e explicar o que a gente tinha em mente”.
De acordo com o músico, basicamente a banda queria uma caracterização de cada integrante (sem ser vestidos de super-heróis ou algo do gênero), a logo do grupo e o nome do disco. “Deixamos ele bem à vontade para criar em cima das letras das músicas novas. O resultado ficou meio apocalíptico, de um mundo que está se acabando”.
NOVA TURNÊ
Na nova turnê que já começou, a data da apresentação em João Pessoa já está marcada: na virada do ano, na programação do Réveillon Al Mare. O cenário utiliza portas de caminhão e containers como telas para projeções mapeadas, tecnologia que permite o controle das imagens.
No repertório, as novas músicas de Nunca Tem Fim... dividem o palco com os sucessos de 20 anos de estrada.
Xandão revela ainda que A Banca, grupo formado pelos remanescentes do Charlie Brown após a morte de Chorão, em março, iria abrir alguns shows dessa nova turnê.
Não foi possível devido a recente morte do líder e baixista da banda, o Champignon, no começo deste mês.
“É tudo muito triste e a gente prefere lembrar deles no palco, fazendo o que gostavam”, lamenta Xandão.
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