CULTURA
Sou extemporânea e fora do eixo
A convite, escritora Maria Valéria Rezende, participará do Salão do Livro em Paris, e em debates na Universidade de Sorbonne.
Publicado em 01/03/2012 às 6:30
“Eu fui escritora até os 12 anos”, conta Maria Valéria Rezende.
“Escrevia e editava meus próprios livros, com tiragem de dez exemplares, encapados à mão e distribuídos entre a família”, lembra a paulista, natural de Santos, radicada há décadas na Paraíba.
Ano passado, Rezende recebeu o título de 'Cidadã Pessoense' da Câmara Municipal de João Pessoa. Agora, está prestes a embarcar para a Europa a convite da Embaixada Brasileira na França e da Universidade de Sorbonne, retornando às livrarias este mês com Ouro Dentro da Cabeça, romance que acaba de sair do prelo pela Editora Autêntica.
Despretensiosa, recorda-se de um tempo no qual, em suas palavras, literatura “não era profissão, mas vocação”: “Nunca planejei cumprir uma carreira literária, apenas fui levando minha vida. Sou de uma família de escritores pelos dois lados, tanto os parentes de meu pai quanto de minha mãe publicavam livros com bastante facilidade. Escrever era natural e minha casa em Santos era cheia de escritores, tanto os da cidade quanto os que iam passar as férias lá”, diz, em entrevista por telefone.
“Ela realmente não para de escrever e tem sempre algo engatilhado”, informa André Ricardo Aguiar, companheiro de Maria Valéria Rezende no Clube do Conto e figura que faz a intermediação entre a reportagem e a escritora.
Sempre em sintonia com as novas gerações e os temas que permeiam a literatura contemporânea, a autora dispara: “Perguntam-me se eu sou de fato uma escritora contemporânea.
Eu digo que sou 'extemporânea e fora do eixo'. Acho que um escritor tem que estar interessado em tudo e se entender com todo mundo”.
No próximo dia 14, Rezende chega à capital francesa para o Salão do Livro de Paris, onde se encontra com uma caravana brasileira formada por Adriana Lisboa, Adriana Lunardi, Arthur Dapieve, João Anzanello Carrascoza e Tatiana Salem Levy.
Os nomes escalados participam também de um debate organizado pelo Departamento de Estudos Lusófonos da Universidade de Sorbonne: “A Embaixada do Brasil está se esforçando para divulgar a literatura nacional no exterior porque seremos homenageados na Feira de Frankfurt em 2013”, comenta, referindo-se ao evento alemão de maior repercussão mundial na área do mercado literário.
“Temos uma literatura riquíssima e pouquíssimos livros traduzidos. Enquanto isso, qualquer obra dos EUA baseada em fórmulas e historinhas que a gente já conhece ganha tradução imediata para o português”.
Questionada se lê tais obras, Maria Valéria Rezende desconversa: “Só as orelhas, para acompanhar como anda o mercado”.
Por falar em orelhas, sua futura bibliografia vai com quatro livros começados e que 'salta' de um para o outro: “Não acredito que o lançamento de Ouro Dentro da Cabeça se dê antes de abril”, antecipa. “Entre os quatro que estão para sair, estipulei um prazo para um deles que quero que esteja pronto até o mês de junho”.
O volume integra uma coleção organizada por Luiz Ruffato aos moldes da 'Amores Expressos', da Cia. das Letras, tendo os estados brasileiros como cenário: “Cada um dos escritores foi convidado para passar um tempo em um estado diferente e fazer um retrato do Brasil a partir do olhar da ficção e do estranhamento”.
No seu caso, Rezende prefere fazer suspense em torno de qual Estado visitou, mas garante desde já que não poderia ser a Paraíba: “Passei mais da metade da minha vida aqui e sou paraibana por escolha”, conclui.
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