CULTURA
Tesouros do passado presentes na ferramenta do futuro
Com popularidade crescendo, serviços de músicas online apostam cada vez mais em materiais raros. Trabalhos de paraibanos estão entre eles.
Publicado em 19/07/2015 às 7:00
Discos raros de artistas paraibanos podem ser encontrados com facilidade nos serviços de streaming de música, apurou o JORNAL DA PARAÍBA. No catálogo do Rdio e do Spotify, dois dos mais populares serviços do gênero, é possível ouvir, por exemplo, o mitológico Paêbirú (1975), de Zé Ramalho e Lula Côrtes, que nunca teve uma outra edição física nacional além da original.
Também estão lá discos de Sivuca, Pinto do Acordeon, Marinês e Sua Gente e Geraldo Vandré que são impossíveis de encontrar nas lojas e difíceis de achar nos sebos, já que estão fora de catálogo há anos, além de praticamente toda a discografia de Zé, Elba Ramalho e Chico César.
Com popularidade crescendo de maneira galopante no mercado, frente à queda da venda de CDs e o aumento tímido do comércio de LPs, os serviços de streaming se assemelham ao Netflix, por exemplo, com um catálogo de milhares de músicas que podem ser ouvidas através do computador, celular, tablet ou TVs sofisticadas, mediante assinatura ou até mesmo gratuitamente.
Os discos chegam aos catálogos virtuais através de aquisições junto a gravadoras e editoras, mas artistas independentes também podem usufruir dos benefícios do sistema. Graças a esses trâmites, é possível ouvir álbuns de Cátia de França (Avatar), JP Sax (JP Sax, Brasil, Um Século de Saxofone), Antônio Barros e Cecéu (Forró Número Um), Glorinha Gadelha (Tinto e Tropical), Radegundes Feitosa (Concerto Brasileiro), Brazilian Trombone Ensemble (Um Pouquinho de Brasil, Desafios/Challenges) e até um disco de poemas do jornalista José Nêumanne Pinto (As Fugas do Sol), lançados originalmente pelo selo paulista CPC/Umes, que ganhou distribuição digital pela Tratore.
Através do licenciamento da Tratore, também foram parar nos serviços de streaming os discos de Socorro Lira, incluindo o vencedor do Prêmio da Música Brasileira, Lua Bonita (2011) e a coletânea Compositoras - Vol.1, em que a paraibana figura ao lado de Cristina Saraiva, Etel Frota e Simone Guimarães.
Basicamente, há o mesmo catálogo em ambos os serviços, com pequenas variações. De Sivuca, podem ser encontrados nos dois (com maior facilidade no Spotify) pérolas lançadas pelo selo sueco Sonet, como Chiko's Bar (1985), gravado com o famoso gaitista belga Toots Thielemans, e Let's Vamos (1987), álbum em que o acordeonista paraibano é acompanhado pelo grupo americano Guitars Unlimited, além do premiado Sivuca e Quinteto Uirapuru (2004) e Cada um Belisca um Pouco (2004), este creditado a Dominguinhos (que o dividiu com o paraibano e Oswaldinho do Acordeon).
De Marinês e Sua Gente há discos fundamentais, como O Nordeste e Seu Ritmo (1961), Outra Vez Marinês (1962) e Coisas do Norte (1963), extraídos do acervo da RCA Vítor (hoje Sony Music). Os álbuns da cantora na CBS, por exemplo, ficaram de fora. Será um ganho enorme para a Paraíba quando a CBS ficar disponível, já que pertencem a ela os dois primeiros e obrigatórios LPs de Cátia de França (20 Palavras ao Redor do Sol e Estilhaços), entre outros artistas.
De Genival Lacerda, há apenas meia-dúzia de títulos, coletâneas em sua maioria. Mas clássicos de Pinto do Acordeon, como As Filhas da Viúva (1980), Me Botando Pra Roer (1986) e O Rei do Forró Sou Eu (1994) estão lá. Lançados por pequenos selos, foram disponibilizados pelo próprio artista.
Os serviços dispõem de 16 álbuns de Jackson do Pandeiro, boa parte lançada em CD pelo selo Discobertas, como o box Jackson do Pandeiro - Anos 60 (que contém os discos O Cabra da Peste, A Braza do Norte e É Sucesso) e Jackson do Pandeiro Ao Vivo, registro raro lançado em 2011, além de uma série de seis volumes chamada Jackson do Pandeiro - Anos 50.
Não há praticamente nada de Geraldo Vandré nas lojas, mas no Rdio e Spotify há as versões remasterizadas de Canto Geral (1968), Hora de Lutar (1969) e Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, reedição do primeiro disco do paraibano (o homônimo Geraldo Vandré, de 1964) lançada em 1979 pela RGE com a famosa gravação ao vivo de 'Caminhando', feita no Festival Internacional da Canção de 1968 e proibida de ser veiculada na época.
Mais tímida é a discografia de Vital Farias, onde só aparecem os trabalhos lançados pela Kuarup: os dois Cantoria (gravados com Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai) e seu segundo disco solo, Taperoá (1980), ambos reeditados em CD recentemente.
O Cabruêra marca presença com os três primeiros álbuns da carreira, mais a coletânea dupla Colors of Brasil, lançada em junho com foco nos EUA e Europa. Estão lá graças aos selos que viabilizaram o trabalho: Nikita, Piranha, Allegro e Tumi Music.
“Acho fundamental como mais uma ferramenta pra ampliação do nosso trabalho”, resume Arthur Pessoa, vocalista da Cabruêra. “Ainda acho o CD importante como um cartão de visitas, pra promover e conseguir shows, por exemplo, mas hoje em dia tem que estar em todos os formatos possíveis".
"Hoje o mercado mudou muito e as novas possibilidades de divulgação em redes sociais e plataforma digitais de música fizeram com que os formatos convencionais de distribuição física tivessem que se adaptar e o streaming, que um dia foi tendência, hoje é uma realidade já consumida em grande escala e para todos os públicos", afirma o diretor executivo do Rdio Brasil, Bruno Vieira, em entrevista, por e-mail.
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