CULTURA
Tom Jobim para fãs
Documentário em cartaz no CinEspaço traça a trajetória de um dos maiores músicos brasileiros.
Publicado em 25/01/2012 às 6:30
Tom Jobim é grande. Sua obra, gigante. Para narrar a biografia do autor da mundialmente conhecida ‘Garota de Ipanema’ - que, se estivesse vivo, faria 85 anos hoje - apenas suas canções bastam.
Essa é a premissa de A Música Segundo Tom Jobim (Brasil, 2011), em cartaz apenas no CinEspaço, em João Pessoa.
O longa, bancado pelo Natura Musical, é dirigido pelo veterano Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas, Memórias do Cárcere), com a ajuda da neta do compositor, Dora Jobim. Já no roteiro, Pereira conta com uma ajuda preciosa: a da cantora Miúcha, irmã de Chico, ex-mulher de João Gilberto e uma profunda conhecedora da obra de Tom. Para completar, a direção musical ficou com o filho do Maestro Soberano e músico notável, Paulo Jobim.
Mas a proposta de A Música Segundo Tom Jobim é ultra-radical: enfileirar números musicais, de várias épocas, e várias nacionalidades, sem qualquer interferência, depoimentos, entrevistas ou, sequer, legendas (as performances são identificadas ao final do filme).
A seleção tem o propósito de realçar o alcance internacional da obra de Jobim na alta esfera musical. Para isso estão lá, debruçados sobre a musica jobiniana, desde cantores do naipe de Frank Sinatra e Henri Salvador, até mestres do jazz, como Dizzy Gillespe, Gerry Mulligan e Oscar Peterson.
O longa também confirma a perenidade do legado no repertório de grandes cantoras, mostrando que de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Judy Garland, Elizeth Cardoso, Nara Leão e Elis Regina, até as contemporâneas Adriana Calcanhotto, Diana Krall, Jane Monheit e Stayce Kent, todas se curvam às hamonias de Tom.
E, entre um séquito de nomes de nacionalidade italiana, japonesa, alemã e tantos mais, o filme coleciona apresentações memoráveis de Sammy Davis Jr fazendo scating vocal para ‘Desafinado’ e o extraordinário Gary Burton recriando 'Chega de saudade' ao xilofone.
A grosso modo, o documentário parece uma ‘playlist’ do Youtube.
Mas olhares experientes irão identificar a mão do diretor sobre aqueles “videoclipes”. Com habilidade, Nelson Pereira dos Santos costura a biografia do músico com imagens e fotos impressionantes, das primeiras parcerias com Vinícius até a homenagem que a escola de samba Mangueira lhe prestou, dois anos antes de sua morte, passeando pela discografia do músico.
Para o bem e para o mal, A Música Segundo Tom Jobim é um filme feito para deleite dos fãs mais íntimos do compositor carioca. Estes sairão maravilhados do cinema com a beleza e a sensibilidade do casamento entre imagem e música. Para os desavisados, no entanto, pode ser um filme enfadonho, cujas informações estão sempre nas entrelinhas. E é preciso vê-las com atenção.
E em prol da música de Antônio Carlos Jobim, vale até o diretor de Rio 40 Graus se curvar diante de um velho desafeto do Cinema Novo: Jean Manzon. As imagens que ele fez do Rio de Janeiro dos anos 1940, 1950, magnificamete restauradas, abrem o filme e dão à música uma beleza visual ímpar. É a maneira de Nelson Pereira dos Santos avisar, sutilmente, como o é todo o documentário, que a música de Jobim é maior, muito maior.
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