CULTURA
Tony Ramos: 50 anos de carreira
Tony Ramos foi o menino dos olhos de muitas mocinhas que se debulharam assistindo aos galãs que ele deu vida na TV.
Publicado em 27/10/2013 às 8:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:25
São quase 50 anos à frente das câmeras. Tony Ramos foi o menino dos olhos de muitas mocinhas que se debulharam assistindo aos galãs que ele deu vida na TV. Agora, o veterano está no ar com um novo e desafiador personagem, na sua visão. Trata-se do político corrupto Reinaldo Rangel, de ‘A Mulher do Prefeito’, série global que entrou no ar no último dia 4 de outubro.
Em cena, sua parceria com Denise Fraga, que faz Aurora, a esposa e vice-prefeita que assume o poder repentinamente, marca o primeiro trabalho dos dois atores juntos. O roteiro do seriado tem o objetivo de fazer rir, mas também pode promover uma reflexão sobre as mazelas que os políticos costumam estar envolvidos. “No fundo, é uma discussão ampla sobre política, mas espiada sobre a ótica da comédia, o que é muito melhor”, diz o ator.
A política está muito presente no atual momento de Tony Ramos, que acaba de rodar um filme que retrata o final da vida do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). Diante dessa imersão pelo universo da administração pública, Tony Ramos afirma que nunca pensou em ser político.
Além disso, ele afirma também que jamais se deslumbrou com o glamour que sua profissão traz. “Eu faço dessa profissão um meio de sobreviver daquilo que gosto de fazer. É uma carreira que foi criada com absoluta honestidade, sem máscaras”.
Qual a análise que você faz do seu personagem em ‘A Mulher do Prefeito’?
TONY RAMOS - Ele é um homem que teve encantamento pela sua profissão. Um sociólogo, um professor de história que amava o que fazia. As aulas dele eram disputadas e Reinaldo era um homem comunicativo até o dia em que ele é mordido pela política.
O que é mais interessante em ‘A Mulher do Prefeito’?
TONY - A Denise (Fraga) faz uma prefeita e isso que é interessante no projeto. Imagina você jornalista sendo guindada à prefeitura do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Qual seria a sua atitude? Pergunta que você não vai saber me responder. Só que ela tem respostas prontas, como uma simples dona de casa e mãe de família. Só que meu personagem vai explicando para ela que não é bem por aí, que existem alianças. Até que ela começa a se desencantar. No fundo, é uma discussão ampla sobre política, mas espiada sobre a ótica da comédia, o que é muito melhor.
Porém, a direção da série afirma que a abordagem não é política.
TONY - Não é política em um sentido de curso didático. Eu acabei de fazer (o filme sobre) Getúlio Vargas com depoimentos e histórias. Ali, nós contamos a história, que está nos anais da República, com testemunhas que estão ainda vivas, com 80 anos. As netas de Getúlio foram assistir às filmagens. Eu me lembro dessa época, eu tinha seis anos quando ele morreu. De qualquer forma, é política discutida em uma profundeza de reflexão maior. Na série, é sobre a ótica da comédia, e isso é que a dramaturgia tem de bom. A análise política, não pode e não deve ser apenas comportamental, reta e discursiva.
No seriado, existem cenas de alagamento. Para quem viveu uma tragédia semelhante, isso será um fator de identificação, certo?
TONY - Essa cena foi impressionantemente bem filmada e você jura que aquilo está acontecendo naquele momento. Até porque não é um cenário, aquilo foi produzido para ser real. Nesse momento, quando você está vendo essa enchente no ar, mostrando o ridículo de certos políticos que não sabem o que fazer com os desabrigados, é aí que entra a crítica, o humor, e todo mundo que passou pelo problema vai se identificar e refletir a partir do texto da série.
Se você tivesse o poder que um político tem, o que faria?
TONY - Eu nunca pensei em ser um político.
E como foi fazer o filme ‘Os Últimos Dias de Getúlio Vargas’? Qual foi o momento mais impactante?
TONY - Foi emocionante fazer a cena do suicídio na cama e no quarto dele, não dá para descrever. Foi a mais impactante, sem dúvida, depois da reunião do Ministério, que foi absolutamente verídica. Está tudo bem escrito. Existem biografias feitas. Essa história para mim está muito presente e foi como um prêmio ajudar a contá-la no cinema.
Você precisou mudar o visual para interpretar o presidente Getúlio Vargas?
TONY - Somente teve uma caracterização especial no cabelo, que estava todo raspado com navalha. Entrava fio a fio todos os dias a “cabeça” do Getúlio. Realmente, assustei-me porque somos muito parecidos.
Antes, você fazia muito galã. Você acha que a política te persegue nessa atual fase da sua carreira?
TONY - Eu juro que nunca pensei nisso. Estou em uma outra esfera Nunca pensei no tal galã porque eu não me vi assim jamais. A carreira, para mim, não é glamour. Capa de revista é consequência. A carreira é entender o roteiro, é entender o processo que está por trás disso e mergulhar naquilo que está sendo feito. Na verdade, eu não levo nada para casa, a não ser o cansaço de um dia trabalhoso.
No ano que vem, você fará 50 anos de carreira. Ainda tem algum papel que você gostaria de fazer?
TONY - Não! Gosto de ser surpreendido, como fui mais uma vez com ‘A Mulher do Prefeito’. Os diretores Maurício (Farias) e o Luiz (Villaça) telefonarem para mim, e eu estava nomeio do set de filmagem. Eles me deram só o “store line” e disseram que haveria uma reunião. Quando eu vi o projeto, falei que estava dentro.
Você tem algum outro trabalho já acertado na televisão?
TONY - Eu não sei qual será a minha próxima novela. Falaram que eu estaria na novela do Maneco (autor Manoel Carlos), mas nunca ninguém me disse isso. Eticamente, eu não posso dizer que estarei em uma próxima novela até porque e se eles vierem com um segundo ano desse projeto de agora (A Mulher do Prefeito)...
Como você vai comemorar as bodas de ouro de carreira?
TONY - Será um jantar, comemorado com meia dúzia de companheiros, tomando um bom vinho, em casa ou em algum restaurante. Talvez você não vá acreditar no que eu vou te contar, e tem todo o direito. Eu não faço retrospectiva, não penso no passado e não olho para o futuro. Minha carreira é importante, mas foi importante sempre. Eu estou com 44 anos de casado, se Deus me permitir, eu quero completar 50 anos. Isso, para mim, é importante, porque à frente da minha profissão está a minha vida. A única retrospectiva que faço de fato é que atravessei essa profissão até agora, sem ter no meu vocabulário inveja, soberba, encantamento e deslumbramento. Nunca acreditei em glamour nem em tapinha nas costas. Eu faço dessa profissão um meio de sobreviver daquilo que gosto de fazer. É uma carreira que foi criada com absoluta honestidade, sem máscaras.
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