CULTURA
Um balanço de além-mar
Cantor português, que comemorou o 37º no Brasil, garante que mesmo com o fado, música tem um forte apego tupiniquim.
Publicado em 02/12/2012 às 20:10
A admiração que o boa praça António Zambujo colhe entre artistas de países de língua portuguesa é notável: do brasileiro Caetano Veloso, que assina a apresentação de seu site, ao escritor angolano José Eduardo Agualusa, que assina o release de Quinto (Universal Music, R$ 24,90), a 'carta de recomendação' do intérprete se estende ao aval de parceiros como Roberta Sá, Ivan Lins e Yamandu Costa, que não poupam elogios e galanteios.
O sentimento, cultivado pelas afinidades do idioma e sua musicalidade comum, parece ser recíproco: "Eu apaixonei-me pela música brasileira por causa do João Gilberto. Depois dele quis conhecer tudo e procurei a poesia do Vinícius, as músicas do Tom, Chico, Caetano, e desde essa altura, sempre estive a par do que se fazia no Brasil", conta Zambujo em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA.
O cantor português, que comemorou seu 37º aniversário no Brasil, em uma breve passagem por São Paulo e pelo Rio de Janeiro, em setembro, garante que, apesar da influência predominante do fado, tradição à qual se vincula como um dos principais renovadores, sua música tem um forte apego tupiniquim.
"A música brasileira é uma fonte de referência para a música que eu faço e tem sido muito bem recebida, tendo tido vários concertos e participações de outros músicos", diz ele, que contou com a colaboração dos compositores nacionais Marcio Faraco e Rodrigo Maranhão em faixas de Quinto, um dos três dos seus cinco registros que ganharam edição neste lado do Atlântico.
"Eu acho que do Brasil para Portugal sempre vem muita coisa.
Apesar de achar que os novos músicos não têm tido muitas oportunidades. Mas, mesmo assim, vem muito mais do Brasil do que vai de Portugal. Espero que este ano possa dar oportunidade aos brasileiros de conhecer o que se faz cá em Portugal", reflete, animado pelo Ano do Brasil em Portugal.
SUTIS DIFERENÇAS
As sutis diferenças entre o português falado nos dois países, segundo Zambujo, não são uma dificuldade na hora de compor a quatro mãos longe de casa: "É muito fácil", responde o artista. "O que eu peço aos meus parceiros é que não pensem nisso que eu depois faço as devidas alterações, que normalmente são muito poucas. Quando se escreve a pensar nisso, sai sempre uma má letra".
Além de Faraco, autor de 'Fortuna'; e Maranhão, de 'Maré'; Agualusa também acabou entrando para o time de compositores de Quinto com 'Milágrio pessoal', fado feito com Ricardo Cruz. Na letra, um exemplo do percurso geográfico que a música de Zambujo propõe: "Escuto o alegre pulsar / de Lisboa, Rio, Luanda / O Murmúrio de Kianda / O cantar do bem-te-vi".
Cosmopolita, António Zambujo se alegra com o tom da letra: "A música tradicional ganhou outra dimensão, internacionalizou-se e, sobretudo por isso, começou a ser vista com outros olhos pelo público em geral. Felizmente que assim é, porque são as nossas raízes, é a nossa identidade e é tão bonito..."
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