CULTURA
Um céu sem estrelas
Aos 91 anos, escritor norte-americano, autor de 'Fahrenheit 451', Ray Bradbury morre nesta quarta-feira (6).
Publicado em 08/06/2012 às 6:00
"Ele chegou a afirmar que, quando morresse, seria escrito em sua lápide: 'Aqui jaz Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451'", conta o escritor e pesquisador Braulio Tavares, colunista do JORNAL DA PARAÍBA.
Realmente, o romance escrito no começo dos anos 1950 é o mais conhecido do norte-americano, que morreu na manhã da última quarta-feira, no alto de seus 91 anos. Fahrenheit 451 chegou a ganhar uma adaptação cinematográfica homônima pelas mãos de François Truffaut, em 1966.
O teor sociopolítico aliado a ficção científica colocou Bradbury no patamar dos maiores nomes da sci-fi literária. "No Brasil e no resto do mundo, os principais autores da ficção científica são conhecidos por 'ABC': Asimov, Bradbury e Clarke", afirma Tavares. "Você pode ir a lugares como China, México e Hungria que esses nomes serão reconhecidos."
Da tríade, apenas Bradbury estava vivo. Em abril fez 20 anos que o russo radicado nos EUA Isaac Asimov – autor da série Fundação – morreu, aos 72 anos. Já Sir Arthur C. Clarke – escritor britânico de 2001 – deixava o mundo aos 90 anos quatro anos atrás.
Braulio Tavares atenta que Bradbury estava em plena atividade, sendo consultor ou supervisionando as adaptações de suas obras para o cinema, TV e quadrinhos ou revisando novas edições de seus romances. "Ele trabalhou até o final", pontua o paraibano.
Apesar de ter os dois pés nas estrelas e em outros planetas, Tavares lembra que a relação do autor com a sci-fi era conflituosa, já que ele afirmava não gostar de ciência e nem de tecnologia, combatendo as máquinas nas suas histórias. "Ele é o melhor na chamada 'dark fantasy', a ficção científica com toques de terror."
O colunista lembra que a influência do estadunidense era tanta, que até o Mikhail Gorbachev o admirava. Quando o líder soviético visitou a Casa Branca, poderia chamar figuras ilustres para o jantar: convidou Arthur C. Clarke e Bradbury, pois eles eram os mais conhecidos e amados da então União Soviética. "Gorbachev disse que eles limpavam a imagem dos EUA, mostrando o que as nações tinham em comum."
'LONG SELLERS'
Para Braulio, os livros do norte-americano são clássicos até hoje por serem 'long sellers' ao invés de best-sellers. "Os romances de Bradbury nunca vão estar entre os mais vendidos do New York Times, mas nunca vão deixar de ser publicados, seja em livros de bolso, edições comentadas, histórias em quadrinhos... Esses são os verdadeiros clássicos, que não deixam de vender", esclarece.
Entre as obras, Braulio Tavares indica os romances mais conhecidos do autor, Fahrenheit 451 e As Crônicas Marcianas (ambas da Globo, que recentemente publicou as respectivas versões em HQ).
O escritor também destaca as coletâneas de contos O Homem Ilustrado (Editora Livros do Brasil) e Os Frutos Dourados do Sol (lançada pela Francisco Alves e pela Círculo do Livro).
Uma curiosidade sobre Bradbury é o seu lado de dramaturgo.
"Adorava peças de teatro de ficção científica. Quem se interessava por levar suas obras para o palco, ele próprio se oferecia para adaptar."
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