CULTURA
Um cidadão paraibano
Morto aos 66 anos, vítima de um infarto, ator cearense José Wilker subiu em seu primeiro palco em 1960 na cidade de Sapé.
Publicado em 08/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 17:39
O ator, diretor e crítico de cinema cearense José Wilker, morto aos 66 anos devido a um infarto na madrugada do último sábado, no Rio de Janeiro, tinha uma ligação muito forte com a Paraíba.
A primeira vez que subiu em um palco como ator profissional foi nos anos 1960, em Sapé, na Zona da Mata paraibana, com o espetáculo A Volta de Camaleão Alface, da Maria Clara Machado, em uma homenagem ao líder camponês João Pedro Teixeira, morto em 1962 a mando de latifundiários (fato destrinchado no clássico Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho). A mesma peça foi montada também no Santa Roza, em João Pessoa.
Apesar de ter contracenado com Wilker apenas em O Sonho de Inacim (2010), dirigido pelo paraibano Eliézer Rolim, a atriz Zezita Matos já conhecia o ator também nos anos 1960, quando ambos faziam parte do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP). “Ele era um ‘gentlemen’ do teatro”, relembra a paraibana. “Uma pessoa educada, responsável e apaixonada pelo teatro”.
Zezita Matos também rememora que Wilker não tinha apenas amor pelos palcos. Na época, uma das amigas da atriz era sua namorada. Sempre nos finais de semana, o artista se encontrava em João Pessoa, quando não mandava cartas apaixonadas recitando Vinicius ou Drummond.
BEIJANDO O CHÃO
Quando Eliézer chamou José Wilker para encarnar Inácio de Sousa - o padre da sertaneja Cajazeiras que “ensinou a Paraíba a ler” - o ator já sabia sobre o personagem, segundo o diretor de O Sonho de Inacim.
“O pai dele – que era caixeiro viajante – já falava sobre o Padre Rolim”, conta o cineasta e dramaturgo. “Quando leu o roteiro, ele me ligou com aquela voz inconfundível dizendo que gostaria de fazer, porque se interessava por esses arquétipos do Nordeste, como o Antônio Conselheiro (cuja interpretação foi realizada em 1997, com A Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende)”.
Eliézer analisa que Wilker era muito compenetrado nas filmagens e bastante descontraído nos bastidores, fazendo piadas para desopilar, muito espontâneo, e falava bastante palavrões.
O primeiro contato com a equipe, recorda Rolim, foi depois de descer de uma canoa, já vestido de padre, na fazenda de Acauã, em Sousa. Wilker perdeu o equilíbrio e caiu de cara no chão, soltando um sonoro palavrão. O diretor brincou que era como o papa que beija o chão quando chega. O ator retrucou, enfatizando que o que beijou foi a lama.
Após as filmagens, em 2008, José Wilker ainda recebeu o título de Cidadão Paraibano.
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