Um dia para desassossegar

Escrito por outro português, o poeta Fernando Pessoa (sob o heterônimo Bernardo Soares), o Livro do Desassossego inspirou a Fundação José Saramago, em Lisboa, a instituir nesta sexta-feira, como lembrança dos 90 anos de nascimento de José Saramago (1922-2010), o 'Dia do Desassossego'.

No Brasil, a ação foi acatada pela Cia. das Letras, que exibirá hoje, na Livraria Cultura, em São Paulo, uma versão estendida de José e Pilar (2010), de Miguel Gonçalves Mendes, com cinco longas horas de duração.

Na Europa, a Fundação, que também celebra o 30º aniversário do livro Memorial do Convento, abre suas portas com ingressos gratuitos hoje e amanhã, incentivando os portugueses a saírem às ruas com obras de Saramago e partilhá-las em espaços públicos.

O primeiro (e até agora único) Nobel em língua portuguesa acaba de ganhar também uma nova casa na internet. O blog José Saramago 90 Anos (90anos.josesaramago.org) contém o curioso manifesto do 'Dia do Desassossego'.

Ele abre com a seguinte frase escrita por Saramago, outra justificativa para o batismo do dia: "Escrevo para desassossegar, não quero leitores conformados, passivos, resignados".

DOC QUE VIROU LIVRO
Além da versão estendida com trechos inéditos do cotidiano com a esposa, Pilar Del Río, o documentário José e Pilar (exibido em João Pessoa na última edição do Cineport - Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa, em setembro do ano passado) também virou livro.

José e Pilar - Conversas Inéditas (Cia. das Letras, 224 páginas, R$ 35), assinado pelo diretor Miguel Mendes, tem prefácio de Valter Hugo Mãe e já está nas livrarias com entrevistas que ainda não tinham vindo a público.

"Nós já sabemos que ninguém é indispensável, mas há circunstâncias em que acontece que certas pessoas parecem ser mais necessárias do que o normal", diz Saramago em uma delas, prevendo o sentimento que seus leitores, hoje, cultivam em relação a ele.