Um encontro divino

Casado com uma pernambucana, a única reivindicação do quadrinista paulista Rafael Campos Rocha para vir à João Pessoa é comer uma buchada de bode. Hoje, depois de experimentar a iguaria tipicamente nordestina, o artista baterá um bate-papo e autografará o álbum Deus, Essa Gostosa (Quadrinhos na Cia., 88 páginas, R$ 33,00) na loja especializada em quadrinhos Comic House (av. Nego, 255, Tambaú), a partir das 18h30.

O álbum mostra uma visão nada convencional do Todo Poderoso: uma mulher negra, curvilínea, proprietária de um sex shop e dona de uma libido que inclui práticas masoquistas. “Ela é uma anarquista, uma figura de resistência a Deus", analisa.

"Imaginei que ela seria uma pessoa legal e mais ligada à sexualidade.”

O álbum mostra sete dias na vida de Deus, que troca uma ideia 'cabeça' com o diabo sobre alta e baixa cultura, pratica boxe e assiste ao futebol com os pensadores Karl Marx e Mikhail Bakunin.

Rafael fala que sua influência vem muito do italiano Hugo Pratt (autor do clássico Corto Maltese), além do desenhista francês Moebius e do quadrinista 'under' norte-americano Robert Crumb.

"Só que eu realmente não consigo desenhar como o Moebius, aquele virtuosismo estupendo, e comecei a olhar os humoristas de capacidades humanas", analisa.

Entre seus planos para Deus, Campos Rocha já está produzindo um segundo álbum, que se passará aos domingos na vida da personagem. “Um capítulo nele vai se passar em uma praia do nordeste. É um capítulo trágico”, adianta o quadrinista. “Se um dia eu for viver aí pra cima, coloco Ela pra denegrir suas praias, esculhambar suas tradições e desprezar suas figuras históricas.

De repente, eu consigo ficar tão impopular aí quanto sou aqui, vai saber.”