Um ensolarado disco pop

Quando saiu em outubro de 2012, o disco Claridão era recebido com entusiasmo pela crítica, que logo alçou o jovem capixaba Silva ao patamar de revelação do ano. Com matérias repletas de bons adjetivos, Silva logo estaria na estrada, fazendo shows dentro e fora do país – ainda não apareceu pela Paraíba, mas foi um dos destaques do Abril Pro Rock, em Recife, no ano passado.

Gravado em casa, na solidão do quarto de Lúcio Silva, Claridão flertava com a música eletrônica em bom português. “Na época do Claridão, eu ouvia muito música eletrônica europeia, umas coisas da Inglaterrra que eram meio mal-humoradas”, relembra o próprio Silva, em papo com a reportagem, por telefone.

Não demorou para o músico espantar o baixo astral. “Depois de um tempo, eu enjoei desse clima”, revela. “Eu queria fazer alguma coisa mais feliz para tocar ao vivo. Essa experiência, de pegar a estrada e subir no palco, vai te mudando. Eu vi que, nos shows, as minhas músicas mais alegres eram mais divertidas para tocar, e o público gostava mais”.

Foi mirando nesse clima pra cima que ele embarcou com o irmão, Lucas, para Miami (EUA), onde os dois compuseram o repertório de Vista Pro Mar (Slap/Som Livre, R$ 24,90), disco que acaba de sair, reafirmando o talento do rapaz para canções pop de apelo radiofônico.

Foi o hermano Marcelo Camelo quem forneceu a lenha para esse novo trabalho, indicando bons discos de MPB – entre eles Quem é Quem, de João Donato, e Previsão do Tempo, de Marcus Valle, ambos de 1973 - para que o garoto apurasse sua veia melódica.

“Eu tava ouvindo muita coisa gringa, e foi ótimo ouvir coisas brasileiras que eu não conhecia. Viraram meus discos de viagem”, comenta Silva, deixando escapar que entre um disco de Donato e outro de Valle, botava para rolar o ensolarado Pool Side. “Eles fizeram um cover bem legal de ‘Harverst moon’, do Neil Young”, avisa.

Para mudar de ares, Lúcio Silva partiu para Portugal, onde gravou o álbum de 11 faixas autorais. Lá também encontrou o fotógrafo Rui Aguiar, responsável pela intrigante imagem da capa e do pôster/encarte que acompanha a edição em CD.

Ao contrário do álbum anterior, Vista Pro Mar é mais orgânico, com mais melodia que beats, mais pianos e cordas também e um afiado naipe de metais – a rapaziada do Brasilidade Geral, conterrâneos de Vitória (ES). Mas os sintetizadores e efeitos eletrônicos permanecem no som.

O trio de metais se faz presente logo na faixa de abertura, ‘Vista pro mar’. ‘É preciso dizer’ tem uma combinação retrô de baixo com sintetizadores, enquanto ‘Disco novo’ tem um quê oitentista de New Order.

A única participação especial do disco é Fernanda Takai, que divide os vocais de ‘Okinawa’ com Lúcio. “Meu lado nerd adora essas coisas japonesas", afirma, entre risos tímidos. "E a Takai representa essas coisas. Sou muito fã nela”.

Silva sabia que queria um dueto nessa faixa, e teria que ser com uma cantora de voz tranquila, compatível com a dele. O capixaba chegou a sondar Céu para gravar o dueto, mas a agenda da moça não bateu com a dele.

Vista Pro Mar já começa a ser louvado pela crítica, reafirmando Silva como o mais novo porta-voz da música pop brasileira. “Eu fico até com medo de um título desses”, brinca. “De verdade, eu fico feliz com a boa recepção”, acrescenta, sinalizando que no começo do segundo semestre deverá armar uma turnê pelo Nordeste.