Um muro de extras

Em novembro de 1979, quando The Wall chegou às lojas, a ideia de ‘opera-rock’ e ‘album conceitual’ já era tão manjada quanto o próprio rock. Mas o 11º álbum de estúdio do Pink Floyd, que narrava a trajetória de Pink, a partir da infância, com uma mãe superprotetora e o menosprezo dos professores, até a vida adulta cheia de conflitos, foi um sucesso comercial arrebatador, tornando-se o segundo disco mais vendido do grupo, perdendo apenas para The Dark Side Of The Moon (1973).

Agora, enquanto o fundador do Pink Floyd, Roger Waters, passa pelo Brasil com a turnê que leva para os palcos, em superprodução, The Wall na íntegra, a EMI lança as edições ‘Immersion’ (importada, US$ 110,00 em média) e ‘Experience’ (nacional, R$ 89,00) do disco que trouxe ao mundo hits como ‘Another brick in the wall’, ‘Hey you’, ‘Comfortably numb’ e ‘Run like hell’.

Os selos ‘Immersion’ e ‘Experience’ são aqueles que conferem à obra original, bônus fantásticos. O The Wall é o terceiro e último disco do Pink Floyd a sair com esses selos – os outros foram The Dark Side... e Wish You Are Here (1975).

A versão ‘Immersion’ do The Wall é a top de linha do título. Traz sete discos, entre eles os dois CDs com o repertório original - muito bem remasterizados por James Guthrie, engenheiro de som da banda desde 1978, e Joel Plante -, um DVD com imagens da turnê do grupo em 1980 e o documentário Behind The Wall. Para enlouquecer os fãs mais ardorosos do grupo inglês, a embalagem traz também trechos das demos feitas por Roger Waters e versões inéditas de David Gilmour para ‘Comfortably numb’ e ‘Run like hell’.

O ‘Experience’ é uma versão mais ‘humilde’: traz em um belo estojo digipack de quatro abas, com encarte recheado de letras, o CD duplo original, igualmente remasterizado, mais um disco bônus que compila parte do material demo da caixa maior, incluindo uma gravação rara de ‘Another brick in the wall, Part 1’ e a gravação de ‘The doctor’, que mais tarde se tornaria ‘Comfortably Numb’.

Entremeado de climas, texturas, efeitos sonoros e transitando por um som direto, quase punk, mas que não abre mão dos intrínsecos arranjos progressivos do Pink Floyd, The Wall mostra uma banda mais lancinante que sua fase lisérgica, menos viajandão que Wish You Are Here, mas ainda não tão comercial como viria a se tornar após a saída de Waters em 1985.

Com mais cimento e tinta fresca, The Wall retorna com a sonoridade rejuvenescida, que perpetua uma obra-prima de crítica social e conflito existencial, banhados pela maestria musical de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos.