CULTURA
Um prêmio divino
Prêmio Sesc de Literatura foi para a escritora Débora Ferraz, que terá o romance 'Enquanto Deus Não Está Olhando' publicado este ano.
Publicado em 25/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/01/2024 às 18:47
Aos 27 anos, Débora Ferraz realizou um feito almejado por todos os escritores estreantes no Brasil: conquistar um dos prêmios literários mais cobiçados do Brasil e emplacar o seu primeiro romance por uma editora de grande escala.
Enquanto Deus Não Está Olhando, livro com o qual venceu o Prêmio Sesc de Literatura 2013/2014, desbancou 213 romances de candidatos do país inteiro e será publicado até o segundo semestre pela Record. É a primeira vez que alguém da Paraíba vence a competição.
Radicada em João Pessoa desde 2001, a jovem natural de Serra Talhada (PE) foi avaliada por uma comissão formada por Luiz Ruffato e Eneida Maria de Souza.
“Especialmente depois de ter passado tanto tempo debruçada sobre o livro, escrevendo e reescrevendo a história, é muito gratificante e dá um fôlego novo saber que meu trabalho não vai parar na gaveta, que é infelizmente o destino mais comum para a maior parte dos romances estreantes”, declara Débora, que já havia participado da 9ª edição do prêmio, no ano passado, quando a versão inicial deste mesmo romance esteve também entre os finalistas.
Uma ficcionista precoce, Ferraz estreou na literatura aos 16 anos com o volume de contos Os Anjos (2003), hoje fora de circulação e disponível apenas em e-book gratuito na web. A literatura de Débora Ferraz também já foi adaptada para o cinema: o conto ‘O filhote de terremoto’, que foi publicado em 2008 na edição online da revista Cult e reproduzido na coletânea do Prêmio Sesc de Contos Machado de Assis (2012), foi convertido no curta-metragem Catástrofe (também de 2012), dirigido por Gian Orsini com a atriz Zezita Matos no elenco.
“Foi bem curioso ver como um argumento que você desenvolve e de repente te chama a atenção por um aspecto pode assumir um outro ponto de vista na cabeça de um diretor”, reflete a escritora, que é jornalista e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB, estudando culturas midiáticas audiovisuais.
Sobre os anos dedicados ao jornalismo (ela já atuou no meio televisivo e impresso, com passagem pelo JORNAL DA PARAÍBA em 2011), Débora afirma que a experiência na redação foi essencial para “soltar a mão” na literatura.
“Primeiro, você perde o medo de encarar a página em branco.
Não existe jornalista que acredite em bloqueio criativo.
Segundo, o jornalismo te ensina a escrever diante das piores adversidades”, conta. “Mas o que o jornalismo te dá, ele também te tira: ele te oferece ousadia pra encarar a página em branco, mas não te dá tempo pra encará-la. E por mais que jornalistas e escritores se pareçam, a função do jornalista é contar, a do escritor é esconder”.
Falando em esconder, a protagonista de Enquanto Deus Não Está Olhando procura pelo pai, que sumiu. Para Débora, foi difícil desenvolver este conflito, que é ligeiramente diverso do que envolve um pai e um filho homem, tema mais consagrado na literatura.
“A tensão do meu romance é um conflito contemporâneo entre pai e filha, que não é aquele da obrigação do casamento, de quando as mulheres ainda não tinham autonomia, mas o de seu espaço na casa e da sua função operante na família”, explica.
O enredo teve forte repercussão na escritora em 2009, quando seu próprio pai morreu. “Meu pai morreu de uma forma completamente imprevista e passou a ser delicado tratar dessas questões pra mim”, diz ela, que abandonou o romance por 2 anos e só foi retomá-lo em 2011. “O tema era maior do que a dimensão pessoal do meu luto. Eu achava que merecia ser explorado independente disso”.
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