CULTURA
Um tal João de Santo Cristo
Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA René Sampaio fala sobre o longa 'Faroeste Caboclo' que estreia nesta quinta-feira (30) nos cinemas.
Publicado em 30/05/2013 às 6:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 18:08
“Acho que ‘Faroeste Caboclo’ é uma mistura de ‘Domingo no Parque’, de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo brasileiro. Brasileiro adora contar história. E eu também queria imitar o Bob Dylan. Eu queria fazer a minha ‘Hurricane’”, chegou a declarar Renato Russo sobre sua composição lançada em 1987 no disco Que País é Esse?, da Legião Urbana.
Vinte e seis anos depois, a epopeia musical com pouco mais de nove minutos ganha uma versão cinematográfica pelas mãos do diretor René Sampaio. Faroeste Caboclo (Brasil, 2013) entra em cartaz a partir desta quinta-feira nos cinemas de João Pessoa e Campina Grande.
“Tenho uma ligação muito profunda com a música desde a primeira vez que escutei, aos 14 anos”, relembra o diretor René Sampaio, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “Posso dizer que queria fazer esse filme desde essa idade”.
O cineasta brasiliense alerta que não se verá um grande videoclipe de 100 minutos da canção em Faroeste Caboclo. “O filme é bastante fiel à música, mas toma liberdade de fazer a sua narrativa cinematográfica mantendo a essência”.
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O longa-metragem mostra a trajetória do nordestino João (Fabrício Boliveira, que fez o personagem Marreco em Tropa de Elite 2), que inicia sua jornada para fugir da pobreza em Santo Cristo às custas de assassinatos, prisões e o trabalho como vendedor de drogas.
Maravilhado quando chega a Brasília, tornar-se um bem-sucedido traficante e ainda promete o seu coração para a bela Maria Lúcia (Ísis Valverde), filha de um senador (Marcos Paulo, em seu último trabalho para o cinema).
João de Santo Cristo atrai o ódio de jovens ricos, sobretudo Jeremias (Felipe Abib, da comédia Vai Que Dá Certo), um traficante de renome que chefia o ‘comércio’ local com o apoio do policial corrupto Marco Aurélio (Antonio Calloni).
Maria Lúcia resolve se casar com Jeremias em troca da sobrevivência do homem que ama, mas a união alimenta ainda mais a sede de vingança de João, que desafia o rival para o último duelo.
Sampaio revela que Faroeste Caboclo partiu e se fez ao redor do seu ápice. “O filme todo se estruturou no duelo, partindo do clímax para trás. Queríamos ver as consequências que resultaram naquele ponto”.
Com roteiro escrito por Marcos Bernstein (Somos Tão Jovens) e Victor Atherino, a produção que levou seis anos para estrear nas telonas passou pelas mãos do renomado Paulo Lins, autor do livro homônimo que deu origem ao filme Cidade de Deus (2002). “Paulo fez o primeiro tratamento do roteiro e depois escreveu alguns diálogos da versão final”.
Na escolha do elenco, o diretor queria que a personagem da Maria Lúcia fosse interpretada por uma atriz anônima. Ísis Valverde já era conhecida dos telespectadores, mas antes do ‘boom’ da Suelen na telenovela Avenida Brasil. Ela fez um teste tão bem que René Sampaio não abriria mão da atriz no papel.
A música realizada por Renato Russo no final dos anos 1970 trata de uma realidade bastante atual no retrato do Brasil, inclusive com críticas políticas e sobre o sensacionalismo midiático, teores que estão presentes na adaptação, de acordo com o diretor. “O filme cumpre a sua missão além da tela acerca desses sentidos políticos e sociais”.
Sobre Faroeste Caboclo ser baseado em uma música – o que pode ter abertura para outra adaptação do repertório do Legião Urbana, ‘Eduardo e Mônica’ – Sampaio não se surpreende com a fórmula, citando até o ‘Hurricane’ do Bob Dylan, dentre outros que abandonaram seu estado sonoro e acabaram virando película.
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