CULTURA
Um tesouro redescoberto
Projeto 'Cinema Paraibano: Memória e Preservação' resgata acervo de filmes rodados em Super-8 e organiza mostra gratuita.
Publicado em 10/11/2013 às 6:00 | Atualizado em 18/04/2023 às 17:52
Entre os anos 1970 e 80 o cinema viveu um período áureo do movimento superoitista (denominação devido ao uso da câmera Super-8).
O resultado da digitalização e resgate desse acervo pode ser visto através do projeto Cinema Paraibano: Memória e Preservação, que apresentará várias raridades da época na mostra gratuita Cinema e Memória, que começa amanhã, a partir das 18h30, no Cine Aruanda do Centro de Comunicação, Turismo e Artes (CCTA-UFPB), em João Pessoa.
Aprovado pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura (MinC), o projeto abrangeu a telecinagem de 88 filmes em Super-8 e quatro na bitola 16mm que se encontram no Núcleo de Documentação Cinematográfica (Nudoc-UFPB) e no acervo pessoal de vários cineastas, a exemplo de Alex Santos, Elisa Cabral, Henrique Magalhães, Pedro Nunes, Jomard Muniz de Britto e Ana Glória Madruga, viúva do realizador Moacyr Madruga.
“A mostra é um produto do acervo”, explica o professor e pesquisador Fernando Trevas Falcone, que coordena a empreitada junto com à professora Lara Amorim, do Laboratório de Antropologia Visual da instituição (Arandu-UFPB). “Se o filme não circula, ele está morto”.
De acordo com Trevas, o material é importante por abranger uma lacuna na história cinematográfica paraibana. “Temos uma rica diversidade temática”, analisa. “Há 32 anos, em plena Ditadura Militar, no cinema alternativo já se falava de cidadania e direitos humanos, além do registro urbano de João Pessoa”, relembra o coordenador, apontando que o cinema dos anos 1960 – tendo como principal expoente Aruanda, de Linduarte Noronha – era essencialmente rural.
Dentre as raridades estão registros da construção do Espaço Cultural José Lins do Rego no início dos anos 1980 e a documentação da caça às baleias, anos antes da atividade ser proibida no país.
Segundo o gerente do projeto, Paulo Henrique Rodrigues, a fase de maior cuidado foi o transporte das únicas matizes de Super-8 e 16mm para São Paulo, onde seriam digitalizadas pelo técnico Roberto Buzzini. “Depois da telecinagem no único local que se faz isso no Brasil, montamos o acervo e construirmos o site do projeto”.
A página oficial na internet (www.cinepbmemoria.com.br) já está no ar com o levantamento de todos os filmes, com descrição e ficha técnica (em português e inglês).
Fernando Trevas avisa que em breve o público que acessar o site também poderá para assistir às produções.
A página também comporta em PDF o livro intitulado Cinema e Memória - O Super-8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980, com artigos e entrevistas sobre o movimento. O lançamento da publicação física será realizado em breve, de acordo com o coordenador do projeto.
Cinema Paraibano: Memória e Preservação ainda contou com o auxílio do cineasta Chico Salles e do coordenador do Nudoc, João de Lima, que fizeram a consultoria técnica e de levantamento dos títulos, respectivamente.
“O acervo tem um painel bastante diversificado”, frisa João de Lima. “É a cidade inteira coberta pelo Super-8 e pelo olhar autoral”.
CINE ARUANDA
Nesta segunda-feira até a próxima quinta, a mostra Cinema e Memória inaugura parcialmente o novo equipamento cultural do CCTA-UFPB, o Cine Aruanda.
João de Lima avisa que o centro promoverá atividades em caráter experimental enquanto não chegam os últimos equipamentos para se tornar uma verdadeira sala de cinema. “Foram adquiridos dois projetores 4k, que farão exibições em 3D”, informa.
Segundo o coordenador do Nudoc, a inauguração oficial do local está prevista para o começo do próximo mês. “Será um cinema completo”.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA MOSTRA
Segunda-feira (11) Olhares Heterodoxos: Sexualidade, Homoafetividade e Arte
Closes (Pedro Nunes, 1982, 32 min.)
Miserere Nobis (Lauro Nascimento, 1982, 23 min.)
Baltazar da Lomba (Direção coletiva, 1982, 18 min.)
Era Vermelho o seu Batom (Henrique Magalhães, 1983, 10 min.)
Perequeté (Bertrand Lira, 1981, 21 min.)
Tá na Rua (Henrique Magalhães, 1981, 15 min.)
Maria (Henrique Magalhães, 1981, 1 min.)
Bonecos de Florismar (João de Lima e Cristina Moraes, 1984, 5 min.)
Terça-feira (12) – Visões da Paraíba: Política e Trabalho
Televisões (Elisa Cabral, 1986, 22 min.)
Gadanho (João de Lima e Pedro Nunes, 1979, 21 min.)
Celso Pós Milagre (Vânia Perazzo, 1982, 18 min.)
Abril (Marcus Vilar, 1984, 20 min.)
Seca (Torquato Joel, 1981, 16 min.)
Visões do Mangue (Elisa Cabral, 1982, 14 min.)
É Romão pra qui é Romão pra colá (Elisa Cabral, 1982, 14 min.)
As Cegas (Maria Antônia, 1982, 10 min.)
Quarta-feira (13) – Margarida Sempre Viva
MESA REDONDA
'O Super-8 e o Cinema Direto na Paraíba nos anos 1970 e 1980'
Coordenadores: Fernando Trevas (UFPB); Lara Amorim (UFPB)
Convidados: Rubens Machado (USP); Bertrand Lira (UFPB); João de Lima (UFPB) e Pedro Nunes (UFPB).
Exibição: Margarida Sempre Viva (Cláudio Barroso, 1983, 41 min.)
Quinta-feira (14) – Diversidade Temática em Cena
Nós os agricultores de Camucim (Dir. não identificado, 1982, 26 min.)
Esperando João (Jomard Muniz de Britto, 1981, 28 min.)
O Menor (João Gauvíncio, 1983, 10 min.)
Caça a Baleia (Moacyr Madruga, 1979, 19 min.)
Festa de Oxum (Everaldo Vasconcelos, 1982, 12 min.)
Sobre as Rendas (Elisa Cabral, 1981, 6 min.)
Misticismo Folguedos e Tradição (Alex Santos, 1980, 10 min.)
Cavalo Marinho do Mestre Gasosa (Dir. não identificado, 10 min.)
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