Valentes 'indies' ouvem mixtapes

Peter Parker, alter ego do espetacular Homem-Aranha, não tinha a áurea heróica e autoconfiante antes de sair escalando as paredes, esmurrar vilões e pensar na prova de aritmética do dia seguinte.

Os problemas do cotidiano incutido por Stan Lee e Steve Ditko ao famoso super-herói – que ganha uma nova versão cinematográfica este ano – faziam com que os leitores se identificassem de imediato, ao longo dos anos. Um desses fãs é o mineiro Vitor Cafaggi, que despontou do anonimato para o reconhecimento nacional através de suas tiras online Puny Parker (www.punyparker.blogspot.com.br), as aventuras do aracnídeo quando pequeno.

“O Puny é uma mistura de tudo o que eu gostava na minha infância nos anos 1980”, relembra em entrevista para o JORNAL DA PARAÍBA. “Eu lia as revistas do Homem-Aranha, as tirinhas do Calvin (& Haroldo), assistia o desenho do Charlie Brown na TV, ia ao cinema para ver De Volta para o Futuro, Os Goonies e os filmes do Stallone... Acho que a ideia não surgiu, ela sempre esteve aqui comigo.”

Em 2009, o reconhecimento de seu talento o levou para fazer parte do time do primeiro álbum MSP 50 (Panini), onde os artistas convidados faziam uma curta história de algum dos personagens de Mauricio de Sousa. Vitor Cafaggi e seu Chico Bento fecharam a edição, que tinha nomes consagrados como Laerte e Ziraldo.

Hoje em dia, as tiras da sua criação chamada Valente são publicadas pelo jornal O Globo. Um álbum do personagem canino lançado no final do ano passado, Valente para Sempre, já tem sua tiragem independente de mil exemplares praticamente zerada. “Atualmente, se você quer ser um quadrinista, só precisa sentar e produzir uma boa história”, teoriza. “Você pode publicar isso na internet, como eu fiz, pode entrar em contato com editoras por e-mail, pode produzir sua própria revista de forma independente e levá-la pra festivais. São vários os caminhos.”

FITA CASSETE EM HQ
O jovem não é o único talento da família Cafaggi. Sua irmã, Lu, segue seus passos com publicações na internet e lançando recentemente Mix Tape, uma coletânea 'indie' com quatro gibizinhos em uma caixa.

"Eu estava com muita vontade de fazer um quadrinho pequeno", confessa a quadrinista que, por desenhar devagar, encontrou no formato 'mini comic' uma saída para criar Mix Tape. "Uma 'mini comic' é um quadrinho onde o autor expõe ideias muito íntimas", esclarece. "Tudo é feito à mão e o autor toma conta de todo o processo de produção."

Tal pensamento de 'faça você mesmo' fez Lu Cafaggi remeter às mixtapes caseiras. "Decidi casar as ideias e fazer uma 'mini comic' no formato de uma fita cassete, onde todas as histórias fariam referências à música. Eu gosto de como o formato pequeno leva os leitores a aproximarem o gibi do rosto, sem perceber que estão fazendo isso. É como se eles estivessem dispostos a procurar por coisas que estão ali, embaixo da superficie."

TURMA DA MÔNICA
Depois da sua elogiada colaboração no MSP 50, Vitor e sua irmã foram convidados para um projeto mais ousado da Mauricio de Sousa Produções: fazer um álbum inteiro com personagens do artista.

Entre os nomes do projeto Graphics MSP, está o paraibano Shiko, que assinará uma aventura solo e pré-histórica do Piteco.

Os Cafaggi foram escolhidos para dar vida a Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. “A Turma da Mônica é a minha infância inteira”, avalia Lu. “Talvez seja meio cafona da minha parte dizer isso, mas é um sonho se realizando."

Sobre o enredo, os jovens irmãos não adiantam muito. "Estamos escrevendo uma história que dá espaço para cada um desses quatro personagens serem tudo aquilo que a gente conhece desde que somos crianças", ressalta Lu. "É uma aventura inspirada no ritmo e na atmosfera de histórias e filmes que nós dois adoramos."

Para Vitor, a expectativa da HQ – que tem previsão de lançamento para agosto ou setembro – é muito alta. "Será pra todo mundo que já leu as histórias da Turma um dia, pra quem teve grandes amigos na infância e pra quem sonhou em sair caçando um tesouro com Os Goonies", adianta.