CULTURA
Veja entrevista especial com Tony Bellotto
Tony Bellotto falou sobre a edição especial do clássico 'Cabeça Dinossauro', do Titãs.
Publicado em 13/06/2012 às 7:18
Cabeça Dinossauro, a música, a estética e a raiva que tornaram o disco que o Titãs lançou em 1986, um dos maiores clássicos do rock nacional, teve início da maneira mais conturbada que um disco de rock pode ter: com a prisão de dois integrantes da banda, o guitarrista Tony Bellotto e o vocalista Arnaldo Antunes, na madrugada de 13 de novembro do ano anterior, por porte de drogas.
O episódio acabou inspirando músicas que se tornaram grandes hinos dos Titãs - ‘Polícia’, ‘Estado Violência’, ‘A face do destruidor’, ‘Porrada’ - a partir do disco mais irado do grupo até então.
“(O episódio) catalisou uma revolta e deu forma e sentido a essa revolta”, confirmou Belloto, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, por e-mail (leia a íntegra abaixo). “Mas não influenciou diretamente nem ‘Igreja’, nem ‘Família’”.
‘Igreja’ e ‘Família’, ao lado de ‘Bichos escrotos’, ‘Homem primata’ e ‘O que’ são os grandes hits de um disco que emplacou 11 das 13 faixas de um repertório desbocado, rancoroso e agressivo.
Um dedo na cara das instituições que agradou em cheio à crítica foi eleito pelos críticos da saudosa revista Bizz, em 1997, o melhor disco de rock de todos os tempos e também aos fãs.
Não foi por acaso que o grupo – hoje reduzido ao quarteto Tony Bellotto, Paulo Miklos, Branco Mello e Sérgio Britto – elegeu Cabeça Dinossauro para celebrar os 30 anos de carreira.
O disco ganhou uma edição especial (lançada pela Warner) com dois CDs: num, há o disco original remasterizado; no outro, as versões ‘demos’ (ainda cruas) do que viria a ser o melhor disco dos Titãs até hoje.
A demo é curiosa. Nela está impresso o disco originalmente concebido apenas pelos Titãs, que não é muito diferente do que acabou indo às lojas. O repertório traz, igualmente, 13 faixas, mas uma delas não ficou na edição final. ‘Vai pra rua’, de Miklos e Antunes e cantada por este último, acabou sendo substituída por ‘Porrada’.
Gravada em apenas dois dias de fevereiro de 1986 no estúdio Mosh, em São Paulo, a fita demo foi, então, apresentada ao produtor Liminha, o ex-Mutantes que se tornaria um produtor renomado nos anos 1980, pilotando discos de sucesso de Lulu Santos, Gilberto Gil e Paralamas do Sucesso.
Cabeça... foi a primeira parceria dos Titãs com Liminha. O começo da relação, narrado na biografia A Vida Até Parece uma Festa (2002), de Hérica Marmo e Luiz André Alzer, não era só flores. “Na primeira tentativa de mudar o que os Titãs tinham feito na demo, Liminha encontrou resistência”, afirma o livro.
Vinte e seis anos depois, a visão do grupo sobre Liminha é outra, como atesta Bellotto. “Tínhamos pé atrás por puro preconceito e babaquice, mas isso logo se desfez assim que começamos a trabalhar juntos. O Liminha é um cara que nos ajudou muito".
Liminha só precisou mexer no que realmente precisava de uma mexida e a demo está aí para contar a história. 'Cabeça dinossauro', ‘Polícia’, ‘Estado violência’, ‘AA UU’, ‘Tô cansado’, ‘Dívidas’ e ‘A face do destruidor’ acabaram entrando no disco tal qual foram registradas no Mosh.
‘Igreja’, ‘Homem primata’ e 'Bichos escrotos' sofreram poucas alterações: a primeira, feita por Nando Reis depois das declarações de Roberto Carlos a favor da censura ao filme Je Vous Salue Marie, mas que Arnaldo Antunes achava desrespeitosa, ficou um pouco menos agressiva e um ‘Pai nosso’ que havia na gravação foi cortado; a segunda ficou sem o ‘uga buga’ que acompanha a gravação demo; e a terceira ganhou 'punch' em relação à original'.
Liminha, de fato, mexeu na estrutura de apenas duas músicas, e ambas para melhor: ‘Família’, registrada inicialmente como um reggae arrastado, ganhou velocidade e ficou mais instigada; ‘O que’ saiu de uma canção pop aguada para um tremendo funk eletrônico, com programação de bateria e scratches, roupagem que fez a faixa explodir nas pistas.
O Cabeça Dinossauro valendo foi gravado em abril de 1986 no estúdio Nas Nuvens (RJ), que Liminha havia montado em sociedade com Gilberto Gil, André Midani (então presidente da Warner Music) e os técnicos Ricardo Garcia e Vitor Farias (este receberia os créditos de coprodutor, ao lado de Pena Schmidt) e lançado em junho daquele ano.
A capa foi uma inovação para época. As gravadoras acreditavam que disco que não tinha a banda na capa, não vendia. Mas os Titãs acabaram convencendo Midani a estampar os famosos desenhos de Leonardo Da Vinci no disco ('A Expressão de um Homem Urrando' foi para capa e 'Cabeça Grotesca', para a contracapa'). O presidente da Warner se limitou a dizer "Vai ficar bonito" e o disco foi um sucesso de vendas!
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