CULTURA
Vivès fala com exclusividade ao Jornal da Paraíba
Francês fala exclusivamente ao Jornal da Paraíba sobre sua 1ª obra publicada no Brasil.
Publicado em 08/07/2012 às 15:00
Às vezes não tomamos conhecimento da magnitude dos pequenos gestos cotidianos captados pela sensibilidade aguçada dos grandes cronistas. Quando se trata de nuances da representação gráfica de tal universo particular, um dos nomes que despontam no mundo dos quadrinhos atende pelo nome de Bastien Vivès.
O Gosto do Cloro (LeYa/Barba Negra, 144 páginas, R$ 39,90) é a primeira obra do artista francês a ser lançada no Brasil, narrando os encontros casuais de dois jovens em uma piscina pública.
“Eu queria contar sobre um encontro entre um homem e uma mulher, focalizar simplesmente suas atitudes, seus movimentos, seus olhares. Eu não queria me ocupar com o desnecessário”, revela Vivès, em entrevista exclusiva ao JORNAL DA PARAÍBA.
“A piscina foi o lugar perfeito para isso, corpos nus nadando na água... Foi desenhando o álbum que me dei conta do potencial daquele lugar. O fato que a gente esquece pouco a pouco que há uma vida além desses muros.”
No álbum, Vivès não nos apresenta os protagonistas, que permanecem anônimos até a última página. Como um voyeur, o leitor observa o jovem sendo aconselhado pelo fisioterapeuta a praticar semanalmente natação por causa das dores nas costas, devido à escoliose. A contragosto, o rapaz começa a frequentar uma piscina pública nas tardes das quartas-feiras.
Na monotonia das braçadas e o cloro irritando seus olhos, o protagonista se interessa por uma esguia e sedutora nadadora. A construção praticamente silenciosa da narrativa nos faz ficar à deriva degustando O Gosto do Cloro. A obra pede uma leitura mais lenta entre seus quadrinhos.
O francês extrai todas as possibilidades do lugar e dos banhistas: são ângulos e perspectivas diversas, em cima ou embaixo d’água, incluindo a visão do protagonista. Em certos momentos, a leveza e graça no ato de nadar geram situações críveis como a naturalidade de se esbarrar em alguém entre uma braçada e outra.
QUEBRA DA GRAVIDADE
Usando uma paleta de cores reduzida e com uma arte econômica, límpida e bela, o quadrinista monta sua história sem atropelos, respeitando tempo e gestos quase documentais dos frequentadores do local. “Quando se vai à piscina, não se fala muito. Sobretudo estamos lá pra nadar. Se conversamos com uma garota fazendo seus alongamentos, é preciso escolher as palavras com parcimônia”, analisa.
A franqueza da história trivial cria um alicerce sólido na delicadeza da construção dos momentos de cada encontro do casal. A ansiedade da espera, o prender da respiração, a quebra da gravidade e a frustração acompanham os traços (e entrelinhas) do autor. “Procuro ter a narrativa mais fluida e legível possível para que o leitor não se aborreça e que possa mergulhar na história.”
Um dos destaques das HQs europeias da atualidade, Bastien Vivès com apenas 28 anos já publicou mais de 16 álbuns na sua carreira em cima da prancheta. Primeiro trabalho de destaque do artista, O Gosto do Cloro foi lançado originalmente em 2008, chegando a ganhar o Prêmio de Revelação no tradicional Festival de Angoulême na França, em 2009.
Sobre o cenário atual das HQs no Velho Mundo, o artista está confiante na mutação do quadro. “Cada vez mais as pessoas se interessam pela HQ contemporânea”, pensa. “É curioso ver no que vai parecer em breve...”
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