CULTURA
Zezé Motta critica marca, após campanha de papel higiênico preto
Artista compartilhou texto em rede social se posicionando contra empresa.
Publicado em 25/10/2017 às 21:56
A atriz e cantora Zezé Motta resolveu se posicionar nesta terça-feira (25) sobre a polêmica campanha de uma marca de papel higiênico preto. A empresa foi acusada de ser racista por usar como slogan a frase "Black is Beautiful", famosa por ter sido empregada pela comunidade afro-americana na luta por direitos civis.
Em texto publicado em seu Instagram, Zezé fez duras críticas à campanha. "Não estou aqui para julgar uma atriz que faz campanha enrolada em um papel higiênico preto. Cada um faz e aceita o trabalho que melhor lhe convém. Mediante a tantas ligações e mensagens, gostaria apenas de esclarecer o que muitos ainda não sabem, quanto a importância do 'Black is Beautiful'", escreveu a artista.
Segundo ela, que lutou contra o preconceito e com questões de autoestima, a empresa foi infeliz. "Para uns pode parecer bobagem, mas para mim e para milhares de negras que viveram em plena década de 70, 'Black is Beautiful' foi alto extraordinário, passamos a nos aceitar, a nos empoderar", comentou.
"Não posso achar interessante uma campanha de 'papel higiênico' preto (tudo bem, sem nenhum problema, pois preto é uma cor, até aí, nenhuma 'criatividade' como essa me choca mais) ser vendida como Black is Beautiful. Respeito, por favor", finalizou.
Confira o texto completo de Zezé:
"Não estou aqui para julgar uma atriz que faz campanha enrolada em um papel higiênico preto. Cada um faz e aceita o trabalho que melhor lhe convém. Mediante a tantas ligações e mensagens, gostaria apenas de esclarecer o que muitos ainda não sabem, quanto a importância do #BlackisBeautiful.
Tenho propriedade para falar sobre o assunto, vi com meus próprios olhos, sei o que foi dentro de mim. Foi em 1969, viajei aos Estados Unidos com o grupo do Augusto Boal para encenar Arena Conta Bolívar e Arena Conta Zumbi. Ficamos três meses na estrada. Fomos também ao México e ao Peru. Eu tinha comprado uma peruca lisa chanel e representava com ela.
Quando nos apresentamos no Harlem, um grupo de militantes negros ficou chocado com o fato de eu usar peruca. Era o auge do black is beautiful, e a gente tinha que manter as características originais da raça. O Boal ainda me defendeu, disse que eu era engajada e tudo o mais.
Nesse dia, voltei para o hotel, tomei um banho demorado e deixei meu cabelo voltar ao natural. É que, além da peruca, eu fazia alisamento com pente quente. Ali eu comecei a me aceitar como negra. Saía nas ruas do Harlem e reparava que os negros americanos andavam de cabeça erguida. Não tinha essa postura subserviente que eu sentia no Brasil e em mim mesma.
Essa viagem teve essa importância de fazer com que eu enxergasse meu país de fora. Voltei ao Brasil. E cheguei pensando: Agora ninguém me segura! Isso, porque na adolescência tive a fase de embranquecimento. Minhas amigas diziam: 'Seu nariz é chato, seu cabelo é ruim, sua bunda é grande'.
E aí comecei a não gostar de nada em mim... Descobri que era questão da autoestima bem resolvida. Para uns pode parecer bobagem, mas para mim e para milhares de negras que viveram em plena década de 70, Black is Beautiful foi alto extraordinário, passamos a nos aceitar, a nos empoderar, e não posso achar interessante uma campanha de 'papel higiênico'PRETO (tá, tudo bem, sem nenhum problema pois preto é uma cor, até aí, nenhuma 'criatividade' como essa me choca mais), ser VENDIDA COMO BLACK IS BEAUTIFUL. RESPEITO, POR FAVOR..."
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