ECONOMIA
Alta dos juros pode provocar inadimplência
Tática usada pelo governo federal para conter a inflação é criticada por entidades que atuam no comércio e indústria.
Publicado em 17/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 26/05/2023 às 17:33
Com alta para 10,5% da taxa básica de juros (Selic), as linhas de crédito devem ficar mais caras e a tendência é que aumente a inadimplência em João Pessoa. Essa é uma das consequências possíveis projetadas pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da capital. Entidades que atuam no comércio, indústria e alguns especialistas da Paraíba criticam a tática usada pelo governo federal para conter a inflação. Esse foi o sétimo aumento seguido da Selic.
O diretor do SPC de João Pessoa, Lindembergh Vieira, criticou a postura do Banco Central que teve anuência da presidente Dilma Rousseff "porque os juros no Brasil já são os maiores do mundo. Com a alta da Selic toda a população que depende de crédito e tem contas parceladas podem encarecer muito seus débitos, caso atrasem o pagamento dessas parcelas". Vieira ainda lembrou que a elevação da taxa também onera a dívida interna do país.
“Todo mundo que possui débito com os bancos vão enfrentar juros maiores e eles já são criminosos no Brasil. Os juros do cartão de crédito e cheque especial a 19% ao mês é inconcebível. O governo está maquiando nossa economia, que não encontrou ainda o rumo certo”, avalia Lindenbergh.
O presidente da Associação Comercial de Campina Grande, Álvaro Morais, afirmou que a alta nos juros vai implicar em retração no comércio varejista e o custo maior vai desde a aquisição da matéria-prima até o consumidor final, que geralmente compra a prazo. “Na hora em que o crédito no mercado fica mais caro, a população compra menos. Mas em um ano de eleição, esta atitude não cai bem para o governo federal”.
Segundo Álvaro, outra alternativa para reduzir a inflação seria barrar os gastos públicos. “Mas os governos não gostam de mexer nisso. Então, eles não fazem o dever de casa e jogam a responsabilidade na sociedade", criticou.
HORA DA CAUTELA
O economista e consultor de finanças pessoais, Cláudio Rocha, alertou para os paraibanos comprarem apenas o necessário nesse momento como forma de evitar a inadimplência na aquisição de bens duráveis. Com os juros altos, fica mais difícil pagar o cartão de crédito no final do mês e aumentam os riscos de ficar com o nome sujo na praça.
“O problema do consumidor que compra a prazo é que ele deseja ter a posse do bem antecipadamente. No entanto, é preciso cautela neste momento com as compras parceladas. Melhor é juntar dinheiro e tentar pagar à vista ou adiar a aquisição do produto”, destacou Rocha.
O economista destacou que quem toma crédito emprestado perde, mas quem tem investimento atrelado a Selic ganha. Os principais sites nacionais já divulgavam ontem que com a alta da Selic os fundos de investimentos ficaram mais atraentes em comparação à caderneta de poupança.
Um exemplo são os fundos DI, que aplicam títulos que evoluem conforme a alta dos juros. Eles passaram a render 7,56% ao ano, acima do ganho de 6,8% da poupança (considerando a Taxa Referencial de 0,05% ao mês). A melhor alternativa ainda é o Tesouro Direto, sistema de compra e venda de títulos públicos pela internet. Os títulos que acompanham a alta da Selic são pós-fixados, como Letras Financeiras do Tesouro (LFT). Eles passam a render 8,35% ao ano em 12 meses.
FIEP DA PB PREVÊ MENOS INVESTIMENTOS
Para o presidente da Federação das Indústrias na Paraíba (Fiep), Buega Gadelha, a medida do governo federal em aumentar a Selic representa menos investimentos no setor porque o crédito fica mais restrito. Segundo ele, a alta dos juros barra o crescimento da indústria.
A Selic representa um aperto no crédito, com isso diminui o consumo e o crescimento na indústria. Isso não deveria ter ocorrido porque é mais uma pressão do sistema financeiro do que uma necessidade. Há também redução em investimentos e alteração na dinâmica da economia”.
O presidente do Conselho Regional de Economia na Paraíba (Corecon-PB), Celso Mangueira, lembrou que esses aumentos sucessivos da Selic têm reflexo direto no comércio e como este é um mês de muitas despesas, isso vai afetar as vendas. “A redução na oferta de crédito reduz os negócios, o consumo e tudo isso para forçar a queda da inflação. Mas o aumento dos juros muda toda o ritmo da dinâmica da economia desde a renda, consumo até a produção”, enfocou.
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