ECONOMIA
Cartões de crédito já cobram juros de 705%
Levantamento estudou faturas de clientes de onze instituições financeiras.
Publicado em 18/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 26/05/2023 às 17:34
Quem tem cartão de crédito e precisou pagar o mínimo da fatura certamente percebeu o quanto são pesadas as taxas de juros adotadas pelas operadoras que administram cartão do país. Segundo pesquisa realizada pela Associação Proteste de Consumidores (Proteste) e Fundação Getulio Vargas (FGV), o consumidor brasileiro paga o juro mais alto do mundo, que no rotativo pode chegar a mais de 700% em algumas instituições.
Para se chegar aos resultados, a Proteste estudou as faturas mensais de clientes de onze instituições financeiras do país, comparando encargos e taxas de 60 tipos de cartões de crédito.
De acordo com o levantamento, em algumas faturas analisadas, uma dívida inicial de R$ 500 no cartão de crédito, quando pago somente o mínimo (20% do valor da fatura), vai resultar em uma conta acima de R$ 3 mil, ao final de 12 meses,
Os dados são ainda mais alarmantes quando comparada a taxa praticada no Brasil com a de outros países.
Segundo o estudo, a taxa anual praticada no Brasil gira em torno de 280,82%, valor 525% maior do que a do Peru, que é o país com a maior taxa dentre os analisados. A nação peruana cobra 44,8% ao ano e o México 39,16% anuais. Os vizinhos argentinos têm taxas de 35,82%, enquanto o menor percentual é na Colômbia, com 28,31% anuais.
No Brasil foram levantadas as taxas de juros cobradas no rotativo por 60 cartões de crédito das instituições financeiras Banco do Brasil, Banco IBI, Banrisul, Bradesco, BV Financeira, Caixa, Citibank, Credicard, HSBC, Itaú, e Santander.
SANTANDER LIDERA
De acordo com a pesquisa, as taxas anuais mais altas no rotativo foram encontradas no Santander, nos diferentes cartões do banco: Platinum (705,61%); Flex Nacional (628,02%); Platinum Styke (560,03%); Free (541,99%); Internacional (506%); Elite Platinum (492,99%); Reward (487,49%); Light (419,06%).
A segunda instituição com as maiores taxas foi o Itaú, sendo os clientes do Itaú Uniclass Master Multiplo Gold aqueles que pagam a maior taxa naquela instituição: 439,74% ao ano. A menor taxa do banco é paga pelos clientes Itaucard 2.0 Nacional, Itaucard 2.0 Internacional e Itaucard 2.0 Gold, todas com juros de 100,99% ao ano.
O banco com as menores taxas de juros, segundo estudo da Proteste, é o Banco do Brasil, com juros rotativos variados: Ourocard Platinum (52,34%); Ourocard Gold (68,62%); Ourocard Platinum Amex (85,21%); Ourocard International (106,92%); Ourocard (107,46%).
A coordenadora da pesquisa, Renata Pedro, explicou que os resultados obtidos foram encontrados em faturas específicas, logo podem sofrer alterações para mais ou para menos em outras contas.
“Pegamos faturas de consumidores comuns e, a partir delas, vimos a taxa de rotativo dessas pessoas. Não significa que todas as pessoas pagam isso, pode ter gente que paga mais ou paga menos. O que queremos mostrar é que sim, você pode estar pagando. A ideia é para que o consumidor preste atenção ao que tem na fatura, pois provavelmente ele vai encontrar taxas até mais altas que as analisadas”, disse a técnica do Proteste.
TAXAS FORA DA REALIDADE
De acordo com Renata Pedro, as taxas são exorbitantes e acontecem porque as instituições financeiras são livres para aplicar os valores que julgarem necessários. “O porquê dessas taxas é uma questão que buscamos as respostas. No Brasil não há um órgão que delimite o teto desses juros, então os bancos colocam as taxas que quiserem”.
A especialista reforçou que os juros bancários do país fogem da realidade aceitável. “Eles (os bancos) alegam que as taxas variam de acordo com o cliente, se for alguém com bom relacionamento, os juros são menores, já se for alguém que não consegue pagar suas contas, essas taxas são maiores.
Falam também da taxa Selic, que ela é responsável pelos juros, mas ainda assim constatamos que são taxas muito altas, não se explica pagarmos tantos juros, enquanto os países vizinhos pagam bem menos”, disse Renata Pedro.
Ao consumidor só resta adotar medidas básicas para não cair na armadilha colocada pelos bancos.
“O principal conselho é nunca se permitir entrar no rotativo. Pague sua fatura à vista e integralmente, assim não vai incidir juros. Outro conselho é sempre fazer planejamento familiar, não gastar mais do que possui. Infelizmente o brasileiro tem em mente que o cartão é uma extensão da renda. Ele gasta tudo que ganha no mês e acha que pode continuar gastando com o cartão. Daí chega a fatura, ele não tem como pagar, entra no rotativo e se cria uma 'bola de neve'”, destacou Renata Pedro.
Comentários