ECONOMIA
Crise econômica pode deixar lições importantes para empresários
De década perdida à hiperinflação, empresas com mais de 40 anos no mercado apontam lições.
Publicado em 24/01/2016 às 8:00
A crise econômica atual é apenas mais uma das inúmeras turbulências que o país já enfrentou ao longo das últimas três décadas e meia. Basta apenas citar a época da hiperinflação e dos planos fracassados (veja quadro). Para empresas com mais de 30 anos no mercado paraibano, essas experiências servem como lições que são postas em prática no combate aos novos obstáculos e desafios. Além da expertise adquirida, esses empreendimentos também souberam ousar e foram muito além da dedicação para se manterem competitivas e superarem as crises.
A Conserpa Enger, construção e incorporação, que tem 45 anos de mercado, é uma dessas que já passou por várias reviravoltas econômicas. Segundo o diretor do grupo, José William Montenegro Leal, um dos momentos mais difíceis foi o período em que o presidente Fernando Collor de Melo confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança dos brasileiros, na década de 1990. “Naquele tempo, já vínhamos com uma inflação alta e o confisco da poupança deixou o mercado mais inseguro, quebrando de vez a confiança do mercado. O sistema bancário perdeu credibilidade, mexendo com a produção industrial”, relembrou José William.
Para o empresário, o espírito de eterno aprendiz, humildade e firmeza na gestão foram fundamentais para ultrapassar os maus momentos. “Para superar as piores fases tem de fazer bem o dever de casa como, por exemplo, gastar menos do que arrecada, melhorar a produtividade e não sonegar informações para a equipe. Todos têm que estar comprometidos porque na empresa todos formam um elo”.
O Grupo Conserpa, que atua em João Pessoa e Patos, ampliou o seu mercado no período de crescimento mais forte e manteve a estabilidade do faturamento nos últimos anos, mesmo em meio a atual desaceleração econômica.
O grupo começou a diversificar o portfólio investindo não apenas em unidades habitacionais, mas também em equipamentos turísticos. Em 2011, lançou o hotel Ondas do Atlântico, na praia do Cabo Branco e, no ano passado o Sapucaia, na praia de Tambaú, na capital. Nos dois hotéis, José William optou pela gestão compartilhada com empresa de gestão contratada para administrar os novos empreendimentos.
Outra empresa que também conseguiu superar e enfrentar fases ainda mais difíceis foi a indústria São Braz, com 65 anos de existência. O superintendente da indústria, Leonel Freire, lembrou da época em que os preços eram alterados constantemente por causa da hiperinflação e atingia as duas principais matérias-primas da indústria: café e milho.
Em uma das crises passadas, Leonel Freire contou que parte da empresa foi vendida e deixou de produzir o cuscuz, ficando apenas com café e alguns salgados. Para avançar no faturamento, a indústria lançou outro produto no mercado, o cuscuz Novo Milho e a produção da indústria voltou a ser diversificada com um mix variado de mais de 200 itens alimentícios. “Nas dificuldades você aprende muito, aprimora a gestão. Mas o importante é acreditar e conhecer bem o negócio, ter um produto de qualidade e uma equipe treinada e motivada. Além disso, o empresário tem que ter coragem de arriscar, inovar e acompanhar de perto as etapas da empresa”.
Crises geram expertise.
Para o professor de Gestão, do Departamento de Ciências da Informação da Universidade Federal da Paraíba UFPB, Clézio Amorim, quem já conseguiu superar por pelo menos uma crise econômica do país terá mais serenidade e expertise para resolver os obstáculos futuros, pois desenvolveram uma cultura de coesão, integração, leitura do ambiente e maior reserva psicológica. “Sempre existe uma luz em qualquer crise se você está disposto a mudar, se há criatividade e quando não se enxerga a crise como o caos”.
As principais crises econômicas do país dos últimos 35 anos:
Década Perdida (1980): Referência à estagnação econômica vivida pela América Latina durante a década de 1980, quando se verificou uma forte retração da produção industrial e um menor crescimento da economia;
Hiperinflação (1980/1990): Período em que o Brasil viveu com altos índices inflacionários, chegando a 80% ao mês. Uma das consequências dessa fase que se prolongou até início de 1990 podem ser citadas a perda drástica do poder de compra do consumidor, a alta generalizada e contínua dos preços e o aumento da exclusão social;
Plano Cruzado (1986): Primeiro plano econômico nacional em larga escala desde o término da ditadura militar lançado pelo governo José Sarney. Na época, foram lançadas medidas econômicas como congelamento de preços de bens e serviços, e da Taxa de Câmbio;
Plano Bresser (1987): Lançado após o fracasso do Plano Cruzado quando Luiz Carlos Bresser Pereira assumiu o Ministério da Fazenda no governo Sarney. Nele, instituiu-se o congelamento dos preços, aluguéis, salários e surgiu a Unidade de Referência de Preços como referência monetária para o reajuste de preços e salários;
Plano Verão (1989): Lançado pelo ministro Maílson da Nóbrega, que assumiu o lugar de Bresser no governo Sarney. Entre as medidas estavam alta dos juros, redução dos gastos públicos, congelamento de preços por prazo indeterminado, aumento dos preços administrados pelo governo, reforma monetária (nova moeda) e subindexação dos salários por meio da URP ;
Plano Collor (1990): Oficialmente chamado Plano Brasil Novo, mas tornou-se associado à figura do presidente da época, Fernando Collor. Combinava liberação fiscal e financeira com medidas radicais para estabilização da inflação acompanhadas de programas de reforma de comércio externo. Houve o confisco da poupança com valores superiores a 50 mil cruzados novos;
Crise Cambial (1999): A primeira forte crise da Era Real foi a desvalorização cambial, em janeiro de 1999. A forte desvalorização do real artificialmente controlado era um dos problemas estruturais do plano de estabilização de combate à inflação. A implementação de políticas econômicas com juros elevados e baixo investimento associadas a um câmbio semi-fixo sobrevalorizado gerou acúmulo de problemas econômicos estruturais;
Crise Fiscal e recessão (2015): Em meio a escândalos de corrupção no governo, baixa confiança e descontrole nas contas públicas, a presidente Dilma Rousseff, com baixa popularidade, vem tentando fazer ajustes fiscais, ainda sem êxito, para alcançar superávit primário (economia do governo sem incluir o pagamento dos juros da dívida) para retomar o crescimento da economia e, assim, voltar a ganhar confiança. Contudo, com cenário de taxas de juros e inflação elevadas, o país vive a maior a crise recessiva dos últimos 25 anos, com queda de 3,7% do PIB.
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