ECONOMIA
Empreendedores de sucesso apontam erros que podem arruinar o negócio
Quando o assunto é investir no próprio negócio, o melhor é errar o mínimo possível. Conheça com quem faz sucesso, os caminhos para acertar.
Publicado em 30/12/2014 às 12:17
Pepe Lúcio começou vendendo gravetos e hoje é dono da escola de idiomas CNA Ruy Carneiro e da escola bilíngue MapleBear (foto: Kleide Teixeira)
O espírito de empreendedor chegou cedo para Giuseppe Lúcio( mais conhecido como Pepe). Aos oito anos, no município de Patos, Sertão da Paraíba, ele fez o primeiro 'grande' negócio de sua vida: vendeu gravetos e recebeu algumas moedas em troca. O que parecia ser apenas uma brincadeira de criança, na verdade era o sinal de que ali já existia um empresário com carreira promissora. Anos mais tarde, o menino que vendia gravetos e impressionava a mãe, se tornou o dono da escola de idiomas CNA Ruy Carneiro e a escola bilíngue MapleBear, ambas em João Pessoa.
Mas o caminho para o sucesso não foi fácil, assim como para a maioria dos empreendedores. Entrar e permanecer no competitivo mercado exige mais que dinheiro. Disciplina, organização e planejamento também se tornam peças fundamentais nesse jogo. Quem afirma isso são empresários como Pepe, que hoje desfrutam do sucesso, mas não esquecem os dias difíceis e buscam aprender com os erros dos outros.
O primeiro negócio formal de Pepe veio em 1997, quando ele adquiriu uma franquia do Yázigi, após quase 20 anos trabalhando no Banco do Brasil. Segundo ele, a parte mais difícil foi não ter mais um dia certo para receber dinheiro. Antes, como funcionário, Pepe tinha a certeza que o salário estava na conta todo dia 20. Agora, como patrão, o dia 20 se tornou a data para pagamento de impostos.
A falta de capital de giro foi uma das principais dificuldades enfrentadas por Pepe, mas não foi o único. Para quem pensa em abrir o próprio negócio, o empresário lembra alguns erros cometidos por ele e que podem servir de exemplo. Um foi querer expandir a atividade (abrir a 3ª filial sem ter consolidado a 2ª). “Apesar da abertura estar embasada em uma pesquisa de mercado, o negócio foi para frente. A preço de hoje representa um prejuízo aproximado de R$ 300 mil em um ano”, declara. Com receio de perder mais dinheiro, Pepe encerrou as atividades da filial após um ano e meio.
Pela experiência que traz no currículo, ele faz um alerta aos novos empreendedores. “O conselho é lembrar que você terá que trabalhar provavelmente muito mais do que está trabalhando hoje, ganhando inicialmente menos do que espera ou ganha atualmente”, frisa. Apesar das experiências negativas que teve, Pepe não perde o otimismo. “É preciso lembrar que, mesmo se o negócio não deu certo, o que falhou foi o negócio e não o empreendedor. Assim ele pode retomar a ideia de abrir outro negócio, de tentar novamente”, afirma. Uma das dicas do empresário é procurar ajuda especializada, como a do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba (Sebrae-PB).
Dentre as conquistas, Pepe comemora a de ter empresas com mais de 100 funcionários. “Hoje temos cerca de 400 pessoas que vivem do que construímos”, declara. Com os erros cometidos, ele diz que ficou mais cauteloso e acha que sua experiência pode servir de alerta para quem deseja se arriscar como empreendedor. “O mais importante é ter foco e muito trabalho para atingir um estágio que você possa, por exemplo, tirar férias sem se preocupar com a empresa”, destaca.
Sobre empregar familiares, tema polêmico entre os empreendedores, Pepe explica que nunca teve problemas, “pois sempre tratou parentes como qualquer funcionário”. Segundo ele, “mesmo tendo demitido familiares, não tive problemas de relacionamento com eles, pois foram decisões profissionais que não afetaram a relação parental”.
Empreender: um sonho de menina
Ainda criança, Angélica Costa tinha uma brincadeira preferida: ser dona de uma loja. O tempo passou e ela foi trabalhar em uma empresa multinacional (varejo de moda e serviços), na qual ocupava cargo de liderança. Com a falta de tempo, o desejo de abrir o próprio negócio foi ficando adormecido, mas nunca esquecido. “Com a jornada elástica não tinha tempo, mas acabei acumulando conhecimento que me serviria mais tarde”, declara.
Ao sair da empresa, o sonho de Angélica começou a se tornar real. Depois de muito planejamento e pesquisa de mercado, ela abriu a loja multimarcas – Calcinhas.com – no Centro de João Pessoa. Antes de abrir as portas, a empresária procurou orientação no Sebrae, fez cursos virtuais e presenciais e não se apressou na fase de planejamento. Fez questão de analisar cada ponto de forma detalhada, pois não queria cometer erros primários.
Economista por formação, Angélica não descuida do negócio. É firme nas decisões e procura aprender com as experiências dos outros. Como empreendedora, ela diz que as principais preocupações são a incerteza da economia e o cumprimento das obrigações financeiras que são muitas no início da atividade, o que não ajuda, segundo ela. “No início é preciso investir muito antes de vir o retorno, mas nem todos os empreendedores têm essa disponibilidade de capital”, frisa.
Para quem deseja mudar de empregado para patrão, Angélica diz que é preciso ter atitude, perseverança, qualidade e uma missão definida. “A minha, por exemplo, é ver o cliente satisfeito. Meu diferencial é oferecer um produto de excelente qualidade com preço acessível. Independentemente do valor comprado, o que me importa é ver o cliente sorrindo. Isso é meu grande incentivo como empreendedora”, declara.
Dentro do planejamento do negócio, Angélica tem como hábito ler sobre experiências de outros empreendedores para saber onde pode melhorar e o que evitar para não arruinar sua atividade comercial. “O erro, infelizmente, faz parte da tomada de decisões, minimizá-lo é nosso maior desafio”, afirma.
Quem quer começar não deve abrir mão de um bom planejamento
Ariano Novaes, da Flip Flop chinelaria, aconselha que é preciso viver em estado de alerta pois sucesso não cai do céu
(foto: Leandro Pereira)
A história de Ariano Novaes, proprietário da Flip Flop chinelaria, também serve de exemplo para os futuros empreendedores. A principal dica dele para quem quer começar é não abrir mão de um planejamento minucioso. “É preciso planejar muito para tentar minimizar os erros”, conta. Dono de duas unidades da Flip Flop em João Pessoa, ele está ajustando os detalhes finais para ampliar o negócio com uma nova loja em Guarabira, que deve ser inaugurada no final de janeiro, e outra no Retão de Manaíra.
O empresário diz que é preciso viver sempre em alerta. Não dá, por exemplo, para iniciar uma atividade e esperar o sucesso cair do céu. “Considero que meu negócio é ousado, pois concorre com grandes marcas. É indispensável um estudo de marketing detalhado e o acompanhamento constante do mercado para saber as novidades que surgem e não perder espaço”, declara Novaes.
Os erros cometidos por outros empresários servem de aprendizado para o dono da Flip Flop. “Olhar os erros dos outros e observar as mudanças no mercado são fundamentais para o bom funcionamento do negócio. A inteligência de mercado tem que funcionar, não basta ter o dinheiro para iniciar a atividade”, frisa Novaes. “Estou sempre presente nas minhas lojas, não posso desejar o sucesso acompanhando de longe”, pontua.
Entre as estratégias para se manter firme no mercado, o empresário diz que busca o diferencial em relação aos concorrentes. O tempo de ganhar dinheiro, segundo ele, é na alta temporada (de dezembro a fevereiro, período de verão e de férias). Os turistas que visitam João Pessoa são clientes em potencial, por isso, Novaes incentiva os funcionários a conhecer a cidade para saber indicar restaurantes, programas, etc. “Não adianta apenas vender o produto, é preciso cativar o cliente. No caso do cliente, temos que ter informações turísticas, isso faz toda a diferença”, declara.
Empreender significa planejar antes de qualquer coisa
O básico para quem deseja abrir o próprio negócio é o planejamento, segundo o analista técnico do Sebrae-PB Alexandro Teixeira. Segundo ele, o espírito de empreendedorismo não pode dispensar o levantamento de informações essenciais como: qual será o público-alvo? O local é estratégico para esse tipo de atividade? O público que se deseja alcançar passa na rua na qual se pretende abrir o negócio?
“São muitos os pontos que os empreendedores precisam avaliar para não cometer erros fatais que podem culminar com a 'morte' do negócio”, declarou Teixeira. Ele disse também que é preciso analisar questões referentes aos fornecedores, ao custo da mercadoria, aos concorrentes, etc. “Tudo isso faz parte do planejamento básico e é fundamental para que o empreendedor tenha sucesso e rentabilidade”, explicou.
Essas respostas podem ser obtidas com a realização do plano de negócios, oferecido pelo Sebrae e visa orientar as pessoas que desejam ser donas do próprio negócio. “Não basta a atividade ser viável, é preciso analisar minuciosamente o mercado antes de investir. Quem arrisca sem planejamento está mais propenso a encerrar as atividades e não provar o gosto do sucesso como empreendedor”, destacou o analista.
Com o plano de negócios em mãos, é hora de usar a criatividade para buscar o diferencial no mercado. “O empreendedor tem que ser criativo, precisa oferecer algo diferente em relação aos concorrentes. Mas até para definir essa diferença ele vai precisar fazer o planejamento correto”, explicou Teixeira. O diferencial pode estar no preço, na qualidade do produto, na forma de entrega, etc. São muitas as possibilidades, mas a escolha errada pode colocar a atividade em risco.
Plano de negócios varia de acordo com necessidades e objetivos do empresário
O plano de negócios oferecido pelo Sebrae tem três modalidades e varia de acordo com as necessidades e objetivos de quem procura. O primeiro é para quem chega com a ideia de abrir o negócio próprio. Nesse caso, segundo o analista técnico, é feita a análise que busca saber a viabilidade da atividade.
Outra modalidade é para quem já está no mercado e enfrenta alguma dificuldade. “Nesse caso buscamos conhecer a dificuldade para então direcionarmos o empreendedor para uma consultoria. Se ele não fez planejamento, a situação pode ser mais complicada”, explicou Teixeira. Para esses empreendedores, o Sebrae orienta os possíveis caminhos para salvar a atividade. Por fim, o plano de negócios abrange casos de empreendedores cujas atividades estão 'indo muito bem, obrigado'. “Geralmente são pessoas que querem ampliar o produto, melhorar o faturamento ou até mesmo montar um novo negócio”, frisou.
De acordo com o analista, o tempo de sobrevivência das microempresas na Paraíba aumentou nos últimos anos porque os empreendedores estão mais conscientes da necessidade de planejamento. “As pessoas estão mais preocupadas em planejar antes de montar o negócio próprio. Antes os principais casos de abertura de microempresas eram de pessoas que tinham perdido o emprego, ou seja, estava ligada à sobrevivência. De uns anos para cá esse perfil mudou. Hoje temos a abertura por oportunidade, as pessoas percebem que o mercado precisa daquela atividade e investem”, explicou.
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