ECONOMIA
Especulação: imóveis saem 5 vezes mais caros que carta de crédito
Como a maioria dos mutuários não tem reserva para cobrir a diferença das avaliações - que chegam a 30% -, maioria dos negócios não se concretiza.
Publicado em 23/08/2009 às 8:22
Jean Gregório
Do Jornal da Paraíba
O aquecimento da demanda no setor imobiliário não provocou apenas recordes de vendas na construção civil, mas também a chamada sobrevalorização de preço no lançamento de imóveis em João Pessoa, deixando potenciais mutuários frustrados por não encontrarem casas e apartamentos no valor de sua carta de crédito.
O impasse vem se estabelecendo pela falta de consenso no critério de avaliação entre o que pede o mercado via construtoras e os engenheiros da Caixa Econômica Federal. Como a maioria dos mutuários não possui uma reserva para dar de entrada e cobrir a diferença das avaliações - que chegam até a 30% -, a maioria dos negócios não se concretiza.
Para se ter uma ideia da diferença de valores, o preço médio dos imóveis da construtora da capital chega a ser cinco vezes mais caro que o valor médio da carta de crédito oferecido pela Caixa. Enquanto o valor médio de um imóvel da construtora em João Pessoa era de R$ 205 mil até maio deste ano, o preço médio da carta de crédito oferecido pela Caixa no primeiro semestre deste ano na Paraíba ficou apenas em R$ 41 mil.
Uma das explicações é que o metro quadrado do imóvel na capital mais que dobrou nos últimos cinco anos, passando de R$ 1.047 (2004) para R$ 2.260 (2009). Os imóveis da orla também seguiram a mesma tendência, saindo em 2004 de R$ 1.430 para R$ 2.800, segundo dados consolidados pelo tecnólogo em imobiliária Fábio Henriques, assessor do Sinduscon-JP (Sindicato da Indústria da Construção Civil em João Pessoa). Vale lembrar, que o valor médio da carta de crédito da Caixa é do Estado, enquanto a média do imóvel citado é apenas referente à capital paraibana.
Atualmente, construtoras de João Pessoa têm mais de R$ 1 bilhão de imóveis em oferta na capital e produzem em torno de cinco mil novos imóveis por ano mas, apenas três, em cada dez mutuários que procuram os corretores para fechar negócio, possuem capital para pagar a diferença das avaliações entre o valor do imóvel no mercado e o da carta de crédito.
Cálculos do Sinduscon revelam que outra despesa que dificulta o processo dos mutuários descapitalizados são as despesas com a alíquota do Imposto sobre Transferência de Bens e Imóveis (ITBI), que em João Pessoa é de 3% do valor de compra, além das despesas com cartório. Somadas, chegam a 5% do valor do imóvel.
O presidente do Sindimóveis-PB (Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado da Paraíba), Jarbas Araújo, disse que o debate sobre o critério de avaliações de imóveis é “oportuno e extremamente importante”. O candidato a carta de crédito que está com todo o perfil requisitado, aprovado pelo agente financeiro, vive um momento de expectativa com ela nas mãos e de frustração após receber o parecer dos engenheiros da Caixa Econômica Federal, que reduz de 20% a 30% o valor do imóvel, avaliado pelo mercado.
“Um imóvel que custa, por exemplo, R$ 100 mil, é avaliado pelos engenheiros da Caixa por apenas R$ 60 mil ou R$ 70 mil. A Caixa tem de entender que um imóvel tem um preço que leva em consideração o preço de mercado e a lei da oferta e da procura, e não simplesmente uma avaliação estrutural e técnica do imóvel”, afirma Jarbas, que sugere a terceirização das avaliações. “Os engenheiros da Caixa entendem de estrututura, mas de mercados são corretores e construtoras”, frisou. O presidente do Creci-PB (Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Paraíba), Rômulo Soares, também já havia criticado anteriormente o tipo de avaliação da Caixa.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA manteve contato, por telefone, com assessoria da Superintendência da CEF em João Pessoa para saber a posição do banco sobre as avaliações dos imóveis criticadas pelo presidente do Sindimóveis e do Creci, mas até o fechamento desta edição o banco não se manifestou.
Leia mais na edição deste domingo do Jornal da Paraíba.
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