ECONOMIA
Estudo genético afasta ameaça de extinção do caprino Marota
Raça é nativa do Nordeste e na Paraíba está o maior rebanho nativo do país, com mais de 200 exemplares.
Publicado em 02/08/2015 às 12:01
O mapa genético do caprino Marota já está traçado e traz com ele a melhor notícia do ano de 2015 para os pesquisadores e criadores: a ameaça de extinção da raça está afastada a curto e médio prazos. A boa-nova está na tese de doutorado em Ciência Animal da Universidade Federal do Piauí, que a professora Jeane de Oliveira Moura, do Instituto Federal de Educação no Piauí, trabalha. O Marota é uma raça nativa do Nordeste e é na Paraíba que está o maior rebanho nativo do país, com mais de 200 exemplares.
A raça Marota ocupa posição de destaque na lista de animais ameaçados de extinção, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO. O trabalho da bióloga, executado com os animais do plantel mantido pela Embrapa há mais de 20 anos, começou há nove meses e está fundamentado nos estudos de variabilidade e diversidade genética. A ideia do mapeamento era conhecer o fluxo gênico – passagem de um determinado gene de uma geração à outra – para que os cientistas possam conduzir melhor e com mais segurança os trabalhos de melhoramento genético e conservação da raça.
A coleta de amostras do material biológico – cerca de 3 mililitros de sangue de cada animal – foi o primeiro passo. Enviado ao laboratório Deoxi Biotecnologia, no município de Araçatuba, em São Paulo, o material foi submetido à moderna tecnologia de genotipagem, como o BeadChips, que contém mais de 50 mil marcadores moleculares. A análise confirmou a variabilidade e a diversidade genética do plantel de caprinos Marota mantido pela Embrapa.
A variabilidade genética mede a tendência dos diferentes alelos de um mesmo gene que variaram entre si em uma população Os alelos são as formas alternativas de genes. No ser humano, por exemplo, a cor dos olhos pode variar de preto, castanho, azul, verde e suas tonalidades. Portanto, a cor dos olhos pode ser o resultado de diferentes alelos. No caso do caprino Marota, o alelo responsável pela cor da pelagem, que é branca, já está fixado, não tendo variabilidade para esta característica.
A partir de agora a equipe da Embrapa e da Universidade Federal do Piauí vai propor um modelo de manejo genético que busque o acasalamento de animais divergentes geneticamente, para manter a maior proporção de variabilidade da raça Marota. A importância da variabilidade em um rebanho, segundo Jeane Moura, é porque se evita a perda de vigor causada pela reprodução de animais ou pessoas geneticamente consanguíneas.
"O outro foco do estudo", diz a professora, "será o descarte de animais geneticamente semelhantes, já que manter um plantel sem variabilidade não atinge o objetivo maior, que é a preservação da raça". Esse esforço é importante para melhor uso dos recursos disponíveis à pesquisa na região Nordeste. O trabalho manterá informações genéticas para futuros cruzamentos com raças sem resistência a doenças, seca e altas temperaturas.
Maior rebanho está na Paraíba
A história da preservação de pequenos animais nativos no Brasil tem como o principal expoente o engenheiro civil e professor universitário aposentado Manoel Dantas Villar Filho, conhecido nacionalmente como Manelito Dantas, de 78 anos. Foi no distante ano de 1972, na Fazenda Carnaúba, no município de Taperoá, no Cariri paraibano, a 216 quilômetros de João Pessoa, que ele deu o pontapé inicial.
Incentivado pelo primo Ariano Sussasuna, o professor Manelito Dantas construiu um 'império' com animais nativos, tendo no caprino Marota o principal destaque. Passados 43 anos do início da maior empreitada da vida da família Dantas Villar em Taperoá, a Fazenda Carnaúba, com 960 hectares, exibe prosperidade. O núcleo de conservação de pequenos animais mantém 16 raças nativas, com mais de 200 exemplares só de Marota. É o maior rebanho da raça conhecido no Brasil.
Um nativo do Nordeste brasileiro
O rebanho de caprinos (Capra aegagrus hircus) no Brasil está praticamente estabilizado desde 2011, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE -, levantados pela pesquisa pecuária municipal. São quase 10 milhões de exemplares. Os cinco estados com os maiores rebanhos concentram 81,8% de todo o efetivo nacional. Bahia, Pernambuco e Piauí são os estados que ainda permanecem como os maiores criadores de caprinos.
Como outras raças, a Marota surgiu de um processo de seleção natural de caprinos introduzidos pelos portugueses no período de colonização do País. É uma raça nativa do Nordeste. A origem dela é o Vale do Rio São Francisco, entre os sertões de Pernambuco e Bahia. De pelagem branca, pequeno porte e pouco produtor de leite, ela é rústica e se adapta bem às típicas adversidades nordestinas, como altas temperaturas e longos períodos de seca. Em toda a região, existem pelo menos 2 mil exemplares, puros, espalhados pelos estados do Piauí, Paraíba, Pernambuco, Ceará e Bahia.
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