ECONOMIA
Guerra entre Rússia e Ucrânia: exportações brasileiras sobem, mas consumidor final fica no prejuízo
Entre as previsões após guerra entre Rússia e Ucrânia, os impactos são diferentes em relação ao mercado externo e interno.
Publicado em 05/03/2022 às 7:16 | Atualizado em 07/03/2022 às 10:01
A guerra entre Rússia e Ucrânia causa impactos no mundo inteiro. A globalização presente nas relações econômicas faz com que as sanções e os bloqueios causados pelo conflito cheguem ao Brasil em médio e curto prazo.
O Jornal da Paraíba consultou Moisés Carvalho, supervisor de comércio exterior da Guaraves, empresa localizada na Paraíba, responsável por diversas marcas de produção de frango no Nordeste. A conversa aconteceu depois da participação do supervisor numa conferência da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De acordo com ele, os impactos são diferentes a depender do mercado externo e interno. No caso das negociações externas, a preocupação estava relacionada às exportações diante dos embargos.
Nesse sentido, Moisés alegou que as previsões indicam que o Brasil não será afetado negativamente em relação à queda na exportação de produtos. Cerca de 3% das aves e suínos produzidos no país são, atualmente, exportados para Rússia e Ucrânia. Apesar do conflito entre os países poder dificultar esse envio, a carne que países da europa compravam da Ucrânia pode se tornar uma demanda brasileira.
O Brasil se torna, assim, um dos países capazes de suprir as necessidades de importação de países europeus diante das baixas causadas pela guerra. A economista Mércia Santos explica, ainda, que esses impactos acontecem através de sanções econômicas que podem vir de diversos países, direcionadas principalmente à Rússia.
A Ucrânia terá a produção afetada, ainda, por causa dos impactos destrutivos dos bombardeios e da guerra cibernética, que afetam aspectos como uso de eletricidade em diversos locais do país.
A especialista ainda destaca que a Rússia vem reduzindo suas negociações com o Brasil desde 2008, com o quantitativo de importações daqui chegando a 1%. Entre os principais produtos enviados do Brasil estão o café, amendoim, carne, soja, açúcar e outros produtos que fazem parte da tipificação de commodities.
Apesar de um possível aumento no volume de nossas exportações, existe uma preocupação que deixa os produtores em alerta a respeito do mercado interno.
Aumentos no bolso do consumidor final após guerra entre Rússia e Ucrânia
O Brasil é um grande importador de fertilizantes russos, que correspondem a 60% de tudo que o país importa do país envolvido na guerra. O país que enviou tropas à Ucrânia já deixou nítido que há intenção de encarecer os insumos. Com isso, os produtores terão um aumento considerável no custo de produção agrícola e, consequentemente, na pecuária. Essa ação em cadeia tende, de acordo com Moisés Carvalho, a aumentar o preço dos produtos para o consumidor final.
Um desses aumentos está relacionado, diretamente, às aves. Conforme a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o brasileiro consome, em média, cerca de 43 quilos de frango por ano. O impacto para as empresas de avicultura se dá pelo sobrepreço dos grãos, alimentação oferecida às aves, que terão custo afetado pela alta dos fertilizantes russos. De acordo com a economista Mércia Santos, entender essa logística é primordial para prever de que modo o bolso dos brasileiros será afetado pelas movimentações bélicas.
Segundo ela, em 2021 o Brasil importou mais de 100 mil toneladas de frango para a Rússia. Essa receita equivale a 167 milhões de dólares. A previsão da reação em cadeia se refere, no entanto, a uma dinâmica a médio e longo prazo.
“Alguns produtores já podem aumentar os alimentos para compensar o aumento na produção daqui pra frente. Deve haver um aumento em toda cadeia, o que já se sabe é que vai ter crescimento nos custos de produção”, explica o supervisor da Guaraves.
Mércia destaca, ainda, que o cenário do custo do frango no Brasil já vinha preocupante. “A inflação já estava elevada, a redução da demanda por carnes vermelhas levou o Brasil a consumir mais frango, inclusive os cortes inferiores, como pés de galinha. Isso vai se somar com os indicadores externos”, explica a especialista.
A conclusão diante das recentes movimentações externas e internas é que, no que tange a produção agropecuária, a guerra se pôs como mais um fator de encarecimento para o mercado interno brasileiro.
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