A rua se consagra, cada vez que é ocupada, como espaço democrático de convivência e confraternização. Muitas vezes, é espaço de fuga, de abrigo, até de moradia. Apresenta-se como espaço constitutivo da sociedade. Ambiente de locomoção, de passagem, de transformação. Por tudo isso, a rua se expressa também como espaço de encontro e empreendedorismo. Em João Pessoa, a rua Joaquim Avundano tem se desenvolvido como um espaço de acessibilidade e inclusão produtiva, onde empreendedores e microempreendedores se encontram para desenvolver seus negócios individuais, mas agindo no coletivo.
Como forma de ocupar a rua, para além dos espaços físicos de residências, a Feira Florear chegou na rua Joaquim Avundano para aglomerar empreendedores. Sidney Pereira, arquiteto urbanista e idealizador da Feira Florear explica que o principal objetivo é o encontro do cliente com a marca. Com o apoio de proprietários de outros estabelecimentos da rua, Sidney conseguiu, em janeiro de 2024, fazer mais uma edição da Feira Florear, desta vez, na Rua Joaquim Avundano.
“Miramar é um bairro de passagem, a configuração dele já contribui para que as pessoas passem por lá. Se vem da Zona Sul, passa por lá, pega a (Avenida) Epitácio. Para circular na cidade, acessam o Miramar”, detalha Sidney, reforçando que a escolha pela rua para a composição da Feira Florear faz parte, também, do que a Joaquim Avundano tem se tornado.
A curadoria da feira engloba marcas de diversos segmentos, como gastronomia, cosméticos, beleza, decoração, jardinagem e moda autoral. A entrada ao público é gratuita e a próxima edição já está marcada para os dias 7 e 8 de junho.
A grande proposta da Feira Florear é celebrar a rua como espaço de encontro entre as pessoas e as marcas envolvidas na ação. A feira tem a finalidade de expor ao público marcas que dão importância à matéria-prima de seus produtos e à história por trás de seus conceitos. O evento também destaca empreendedores que prezam por seus processos produtivos e reforçam o compromisso com um mercado que busca reduzir os impactos ambientais.
A realização é da Armazém Produções, de Sidney Pereira, que surge também com a ideia de movimentar e fortalecer o mercado produtivo, garantindo inclusão para diversas iniciativas empreendedoras e sustentáveis no mercado. Aproveitando o mesmo nome, Sidney inseriu, também na rua Joaquim Avundano, o Armazém Loja Colaborativa, fortalecendo a identidade de economia criativa e o consumo de marcas independentes, englobando, em um só lugar, diversas marcas parceiras e colaborativas.
“Desde 2023 eu tenho pensado em transformar o Armazém em um guarda-chuva de negócios, então além da Armazém Produções, tem a loja colaborativa, que é uma forma de permanecer fixamente”, detalha Sidney.
A loja tem seus parceiros e fica Na Casa de Joca, outro empreendimento da rua Joaquim Avundano que também atua como espaço colaborativo. No Armazém, os empreendedores conseguem expor seus produtos que antes eram vendidos apenas pela internet, facilitando o atendimento e o encontro do cliente com a marca, de forma palpável. No local, há marcas independentes de João Pessoa, Campina Grande e Recife.
“Minha sina com urbanista é levar as pessoas para a rua, fazer com que as pessoas permaneçam na rua. Isso é uma coisa que está na minha essência. Quando quisemos fazer uma nova feira, depois da Armazém, queria que fosse algo diferente, que eu pudesse puxar uma ponta diferente. E por mais que a gente veja a rua como esse encontro de cultura, cada espaço tem características diferentes. É interessante ver a mudança desse público para o fim da tarde e à noite, com prestação de serviço de dia e uma noite mais movimentada”, detalha Sidney Pereira.
Economia circular e diversa
Há cerca de dois anos, a empreendedora Giovanna Maia decidiu reformar uma das casas da rua Joaquim Avundano e abrir as portas para um bar com confort food, música e integração social. Como a maioria das casas são germinadas, as residências do local são, de modo geral, iguais. Mas o toque de cada empreendedor garante a autenticidade.
Proprietária do Loca Como Tu Madre e Na Casa de Joca, Giovanna deixou a carreira de servidora pública para empreender. Depois de alguns negócios, encontrou na rua localizada no bairro de Miramar a estética e receptividade que precisava para uma terceira versão do Loca, que já havia passado por Brasília e por outro bairro de João Pessoa.
"Eu sabia a força do Loca, pelo que eu já vivi dele, sabia que ele seria uma potência para a rua. Diferentemente de meus colegas lá (da rua), eu trabalho com atividades que envolvem outro tipo de empreendimento, bebida, que traz essa fórmula de celebração, eu sabia que a gente iria carimbar, mas eu não esperava a velocidade da entrega”, enfatiza Giovanna Maia.
Aos 18 anos Giovanna foi morar em Brasília para estudar Direito. Como servidora pública por muitos anos, o sonho dela é empreender e montar o próprio estabelecimento, fazer seu próprio investimento.
“Abri o Loca em Brasília, foi uma casa de muito sucesso por lá, durou 9 anos, até a pandemia, e decidi voltar para João Pessoa, porque minha família toda estava aqui. Se fosse para recomeçar, recomeçaria aqui, com os meus”, conta Giovanna.
A casa onde hoje funciona o Loca Como Tu Madre foi reformada, mas manteve uma característica local. As expectativas de Giovanna foram superadas e há dois anos o espaço é encontro, empreendimento e celebração. Além disso, foi o impulso para que outros empreendimentos surgissem no ambiente.
“Algumas casas lá, automaticamente, se viabilizaram a se tornar casas comerciais. As pessoas que moravam, cederam as suas casas para o canto comercial”, detalha.
Foi quando, em 2024, nasceu Na Casa de Joca. Diferentemente das demais casas germinadas da rua Joaquim Avundano, essa, especificamente, passou por uma reforma na década de 1960 e já se apresentava de uma forma diferente. Giovanna Maia a transformou, portanto, em um complexo coletivo, pautada na economia colaborativa e inclusiva. Hoje, Na Casa de Joca é um espaço que comporta estúdios de criação e publicidades, pizzaria de fermentação própria, bar e cozinha fria. Eles se intitulam como “um coletivo na rua Joaquim Avundano, no Miramar”. E o que mais encanta Giovanna nesse processo de unir estruturas é a diversidade.
“A diversidade da gente ter essa economia circular, própria, dentro da nossa rua, dentro das nossas casas, dentro de Miramar, que fortalece todo esse projeto que a gente vem nutrindo. Já vem da força do coletivo. O próprio bairro já contava essa história, estar ali na rua, com a força coletiva, é o que a gente quer junto com essa diversidade”, enfatiza Giovanna.
Orientação e capacitação
A analista técnica do Sebrae-PB, Rosário Brito, explica que a inclusão produtiva é a incorporação das pessoas que estão em situação de vulnerabilidade econômica e social, no mercado de trabalho formal ou informal. "Um meio de ajudar essas pessoas a ter sua própria renda, a ter condições de prover o seu sustento", detalha.
Ruas e espaços públicos, em particular, são acessíveis para a maioria das pessoas, tornando-se pontos de encontro naturais onde ideias inovadoras podem florescer e onde a comunidade pode apoiar diretamente seus empreendedores locais. "Muitas pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social têm algum talento, elas sabem fazer alguma coisa que pode contribuir para ela adquirir sua renda, porém elas não estão em condições de ver o que fazer", explica Rosário.
Uma saída viável, segundo a analista técnica do Sebrae-PB, para colocar a inclusão produtiva em prática é a união do poder público com a sociedade.
Rosário Brito explica que o empreendedorismo é uma das formas de contribuir, capacitando as pessoas para empreender de forma assertiva com algo que ela já tenha talento. "Tanto ela pode trabalhar para terceiros, como ela pode trabalhar para si próprio. Com um plano de negócio, com a ideia criativa, eles podem entrar no segmento da economia criativa, do artesanato, e o plano de negócio vai ajudar, além das orientações, das capacitações", explica.
Para quem estiver buscando capacitação e orientação, as pessoas podem procurar a sede do Sebrae-PB ou ligar no 0800-570-0800.
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