ECONOMIA
Inflação já altera itens na feira
Famílias paribanas sentem o peso da alta nos alimentos nas compras.
Publicado em 03/02/2013 às 11:00
A inflação nos itens que compõem a cesta básica assusta e está ameaçando cada vez mais o poder de compra dos paraibanos, tirando inclusive o direito do consumidor de ter uma alimentação adequada. “Tudo está mais caro. Quando falta dinheiro na hora da feira do mês, compro ovos, mortadela e soja no lugar da carne”, disse a auxiliar de limpeza Maria do Socorro Andrade, que mantém a casa sozinha, com uma renda mensal de um salário mínimo (R$ 678,00).
Ela mora com um filho de 18 anos, estudante, na comunidade Renascer I, periferia de João Pessoa. Pagar as contas mensais é uma tarefa árdua para a auxiliar de limpeza que, às vezes, tem que fazer trabalhos extras para poder complementar a renda familiar. “O jeito é a gente arrumar trabalho para ganhar mais dinheiro. Um salário mínimo é pouco para pagar tudo. Quando pinta um serviço de faxina ou lavagem de roupa eu pego para ter mais um dinheirinho no final do mês”, contou.
Não é à toa que dona Maria do Socorro sente dificuldades em pagar suas obrigações mensais. O salário mínimo mal passou dos R$ 622,00 para os atuais R$ 678,00 e logo veio o efeito avalanche de reajustes. Alta do transporte coletivo, depois anúncio do aumento da conta de energia elétrica e no final do mês reajuste da gasolina e diesel. O aumento no preço destes últimos itens irá incidir no valor dos itens alimentícios, já que o preço do diesel influencia diretamente no frete dos alimentos que são importados pela Paraíba.
Mesmo antes de muitos destes reajustes serem divulgados, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentou, no dia 7 de janeiro deste ano, o valor acumulado em 2012 dos insumos básicos que compõem a cesta básica no país.
No estudo, João Pessoa figurou entre a segunda capital brasileira com maior alta da cesta básica. O custo dos itens básicos variou 16,47% em relação ao último mês de 2011. Os principais vilões no ano passado foram farinha (82,23%), banana (50,77%), arroz (36,28%), feijão (33,97%) e tomate (27,95%), que registraram forte alta nos preços.
Dos doze produtos pesquisados pelo Dieese na capital paraibana, onze apresentaram crescimento em seus preços.
Somente em dezembro, o valor da farinha subiu 12,54% e liderou a alta em 2012. O valor da cesta que serve para o consumo de uma pessoa em um período de 30 dias custava R$ 237,85 no ano passado. Em dezembro de 2001 o custo desta mesma cesta era de R$ 204,21.
Mas a auxiliar de limpeza não precisa saber decorado os dados do Dieese-PB para sentir no bolso a alta dos preços das hortaliças, frutas, verduras, legumes e raízes presentes na sua feira. Por mês, dona Maria do Socorro gasta cerca de R$ 400,00 com alimentação, produtos de higiene pessoal e limpeza. Ou seja, 58,99% do seu salário é comprometido com estas obrigações, sem falar na necessidade de reposições semanais de alguns itens como carnes e frutas.
A casa onde mora dona Maria do Socorro, situada em uma área de ocupação desordenada, é própria e a ausência de pagamento de aluguel ajuda a auxiliar de limpeza a ir sobrevivendo, com a ajuda dos seus “bicos”, como ela mesma chama os trabalhos extras. Ela disse que não costuma fazer compras em feiras livres por causa da distância, muito menos nas grandes redes de hipermercados. No supermercado de bairro onde frequenta, Maria do Socorro afirma que é mais cômodo, não precisa usar transporte e os preços são acessíveis. “Mas já comprei inhame por R$ 3,00, R$ 7,00 e R$ 8,00 o quilo. Quando não posso comprar inhame, opto por macaxeira que é mais barato, custa entre R$ 2,50 e R$ 3,00 o quilo) revelou.
Para a equipe de reportagem, a auxiliar de limpeza revelou a sua vida sempre com um sorriso estampado no rosto, mas as suas declarações não esconderam como é difícil a vida do brasileiro que tem que manter o seu lar com apenas um salário mínimo.
“Moro sozinha com o meu filho. Sou pai e mãe dele, tenho que lutar muito para manter a casa porque o ‘tombo’ de tudo cai sobre minhas costas”, confessou.
FATORES CLIMÁTICOS – O supervisor técnico do Dieese-PB, Renato Silva, explicou que os fatores climáticos foram o que impulsionaram o aumento dos preços de alguns itens da cesta básica. “Tanto a seca como o excesso de chuva em algumas regiões provocam a diminuição da oferta e encareceram os preços dos insumos da cesta básica. No Sul do país, por exemplo, as chuvas prejudicaram a produção do tomate”, explicou.
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