ECONOMIA
Jovens buscam empreender
No caminho do empreendedorismo, jovens paraibanos lideram a própria empresa e inspiram quem quer seguir o exemplo.
Publicado em 22/06/2014 às 6:00
“Sempre quis abrir um negócio”. É o que afirma o estudante de Administração do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPB) Jorge Lucas Wanderley. Mas ele não fala de um sonho distante enquanto estagia enclausurado em um escritório qualquer: aos 20 anos, ele inaugurou o primeiro espaço comercial de coworking da Paraíba, espaços de trabalho colaborativo, chamada de Tot Coworking. Hoje, com 22 anos, não apenas lidera a própria empresa como também inspira outras pessoas que querem seguir o mesmo caminho – ser o próprio patrão em um Estado onde boa parte dos jovens buscam ainda concurso público como carreira.
Contudo, Jorge não é mais um exemplo isolado na Paraíba.
Nos últimos anos, o Estado tem melhorado não apenas em relação ao número de novas empresas abertas, mas também em qualidade e em longevidade: o último estudo sobre a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil, realizado pelo Sebrae, mostra que na Paraíba, 80,5% dos novos negócios quebram a barreira cruel de 2 anos – a prova temporal de que o negócio foi estruturado, é rentável e tem futuro.
No Brasil, o Estado permanece atrás apenas de Minas Gerais (81%) e se situa à frente de potências regionais, como Distrito Federal (79,8%), São Paulo (78%) e Santa Catarina (76%). A taxa de mortalidade, por sua vez, é a segunda menor, de apenas 20%.
Por outro lado, o último relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que no Brasil é executado pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) em parceria com o Sebrae, aponta um dado desolador: o Nordeste é a região brasileira com a menor quantidade de empreendedores que iniciam o próprio negócio por oportunidade. Na Região, a cada empreendimento que começou por falta de oferta de empregos formais, 1,7 outro foi iniciado por alguém que vislumbrou uma oportunidade de negócio. No Sul, essa proporção chega a 3,6, e no Brasil a média é de 2,5.
Duas faixas etárias concentram a maior quantidade de empreendedores de 25 a 34 anos (18,2%) e de 35 a 44 anos (16%). “Entretanto já começa a se perceber que a parcela de jovens abaixo dessas faixas etárias estão se destacando em novos negócios”, diz o analista e gerente da Agência Regional do Sebrae em João Pessoa, Edilson Batista.
“Hoje a visão que as pessoas têm é que empreender, mesmo com todos os riscos, é melhor do que certos empregos. Os professores universitários já preparam os alunos para essa nova realidade, embora essa disciplina não seja ensinada formalmente na grade curricular. Antigamente os alunos eram formados para serem empregados, hoje é apresentada a possibilidade de ser seu próprio empregador”, explica.
Apesar do momento econômico de baixo crescimento, existem oportunidades locais de negócios que podem ser aproveitadas pelos empreendedores. “Os indicadores mostram que o paraibano está tendo essa preocupação de buscar informações, identificar o mercado e analisar as variáveis”, avalia Batista.
Confira quatro histórias de empreendedores que resolveram abdicar da segurança de um salário no final do mês – devidamente descontados INSS e FGTS – e construíram o próprio negócio do zero a partir de uma oportunidade.
EMPRESA É PIONEIRA EM NOVO CONCEITO
Aos 20 anos, Jorge Lucas Wanderley já tinha uma visão clara do que queria para a vida: abrir o próprio negócio. Escolheu o curso superior de Administração do IFPB para adquirir os instrumentos e conhecimentos necessários para dar o “start”. Foi quando descobriu o conceito de coworking pela internet e enxergou uma tendência em espaços de trabalho que começava a despontar no Brasil.
“Conversei com a minha mãe, que também pensava em criar algo parecido, e resolvemos trazer esse conceito para a Paraíba”, conta. Na época, espaços de coworking – estabelecimentos que reúnem empreendedores e profissionais autônomos em espaços de trabalho coletivos, com o objetivo de melhorar a criatividade e o networking – eram restritos às regiões Sul e Sudeste, com alguns empreendimentos na Bahia, Pernambuco e Ceará.
Jorge ainda é estudante de Administração, e cuida da empresa ao mesmo tempo em que escreve o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), mas já inspira outras pessoas que querem se enveredar na carreira de empreendedor. “As pessoas ligam para mim não para perguntar preços dos espaços, mas para pedir informações, dicas de como começar um novo negócio, saber sobre as dificuldades”, admite.
Com essa vocação, o Tot se tornou um ponto de encontro indispensável para os empreendedores pessoenses. Em 2013, sediou o primeiro Startup Weekend João Pessoa, franquia do evento global que é realizado nas principais cidades do mundo. No mesmo ano, Jorge foi convidado para se apresentar na Campus Party Recife, um dos maiores eventos de tecnologia geek do mundo, realizado anualmente em São Paulo e na capital pernambucana.
O empresário deve concluir o curso de Administração em setembro.
UMA NECESSIDADE VIRA OPORTUNIDADE
A história empreendedora de Paulo José, 22, começou com uma necessidade, que depois virou oportunidade. Formado em design gráfico, ele trabalhava em uma agência como diretor de arte, quando passou a sofrer de tendinite. “Só conseguia fazer alguns trabalhos freelancers, não aguentava mais trabalhar em ritmo de agência”, lembra. Mudou completamente sua área de atuação: investiu na gastronomia e abriu a Kingyo Temakeria, restaurante de culinária típica japonesa. “Sempre gostei da cultura japonesa, por isso resolvi abrir a temakeria”, conta.
Evidentemente, a guinada não foi fácil. Paulo não possuía conhecimentos profundos nem em gestão nem em culinária.
“Tive que buscar capacitação junto ao Sebrae, mais tarde entrei no curso de Gastronomia da UFPB. No início, só desempenhava a parte de marketing na empresa, mas atualmente já participo da cozinha, da preparação de sushis”, ressalta Paulo.
O trabalho com restaurantes depende, mais do que outros tipos de produtos e serviços, da localização do ponto comercial.
Enquanto não encontrou o local ideal para investir, Paulo explica que manteve a ideia em banho-maria. “Fui me preparando profissionalmente, estudando o mercado local e vi que esse investimento era viável. Quando o ponto comercial que eu precisava foi desocupado, aproveitei logo a oportunidade”, frisa. Segundo ele, depois da Kingyo, que foi inaugurada há quase dois anos, outras quatro temakerias foram abertas em João Pessoa. “Hoje temos só lucros, o restaurante já se paga”, conta.
Comentários