MERCADO EM MOVIMENTO
"O futuro do autismo é o fim do autismo"
Afirmação foi do renomado cientista brasileiro, Alysson Muotri, durante Afya Summit, em São Paulo
Publicado em 25/08/2025 às 22:13
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) permanece um dos maiores desafios do neurodesenvolvimento e a ciência avança em desvendar suas complexas origens. Não há uma causa única, mas as pesquisas apontam para uma interação entre fatores genéticos e ambientais. A genética, com múltiplos genes e variações, desponta como o fator dominante. Por outro lado, elementos ambientais e perinatais – como idade da gestante mais avançada - infecções maternas, exposição à poluição do ar, complicações na gestação ou no parto, prematuridade e baixo peso ao nascer – podem elevar o risco de forma modesta, geralmente em conjunto com a predisposição genética. É crucial ressaltar que, segundo os especialistas, o aumento nos diagnósticos de autismo observado nas últimas décadas não se deve a um "surto" de casos, mas sim à ampliação dos critérios diagnósticos, à maior conscientização de famílias e profissionais, e ao melhor acesso a serviços que permitem a identificação precoce de casos antes despercebidos.
Nesse cenário de crescente compreensão e necessidades, a ampliação dos serviços de apoio é uma urgência. A prova disso é que, só nos três Centros de Atendimento ao Autista (CAAs) estaduais – localizados em João Pessoa, Campina Grande e Solânea – foram realizados, em 2024, mais de 73 mil atendimentos. Cerca de 1.200 crianças e adolescentes com TEA são acompanhados nessas unidades, que operam em parceria com instituições não governamentais e oferecem uma gama de terapias com profissionais especializados em psicologia, fonoaudiologia, nutrição e educação física.

Mas, enquanto a rede de apoio no estado se expande e a ciência desvenda cada vez mais o autismo, o futuro ganha uma nova e surpreendente esperança através de tecnologias que, à primeira vista, parecem saídas da ficção científica. No entanto, elas são uma realidade nas mãos de um brilhante cientista brasileiro: o Dr. Alysson Muotri. Neurocientista, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Califórnia em San Diego, Muotri é uma mente à frente de seu tempo, movido por uma inspiração pessoal profunda – ele próprio é pai de um filho autista nível 3, Ivan. “Quando você se depara com um diagnóstico assim, como pai, tudo o que você quer é respostas”, confessa Muotri, cuja pesquisa busca não apenas entender as complexidades do autismo, mas também o seu próprio filho.

A vanguarda de seu trabalho reside na criação de "minicérebros" humanos em laboratório a partir de células doadas por crianças autistas, obtidas de dentinhos de leite, através do "Projeto Fada do Dente". Esses organoides, apesar de não terem vascularização (fluxo sanguíneo) e serem do tamanho de uma ervilha, replicam a estrutura e a atividade neural de um cérebro humano em desenvolvimento, permitindo o estudo in vitro de doenças genéticas. Com eles, Muotri tem conseguido identificar medicamentos que auxiliam na manutenção das redes neurais e diminuem problemas comportamentais, incluindo drogas já aprovadas para epilepsia e autismo. Indo além, sua pesquisa embarcou esses minicérebros em foguetes para o espaço, usando a microgravidade para acelerar o envelhecimento celular, simulando décadas em apenas um mês – um atalho para desvendar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. A inovação não para por aí: o cientista busca na Amazônia o conhecimento ancestral de plantas medicinais, testando seus efeitos nos organoides cerebrais. Ele inclusive construiu um robô controlado por um cérebro humano criado em laboratório, vislumbrando um futuro onde a “inteligência de organoide” possa complementar ou até mesmo substituir a inteligência artificial.
Acontecem espontaneamente de autistas severos, profundos, nível 3, que saem do espectro depois de alguns anos, sem qualquer intervenção (...) a gente só tem que descobrir como isso acontece em alguns e aplicar nos outros.
Dr. Muotri aponta o caminho mais viável, segundo as pesquisas, para tratar o autismo. "Cada uma dessas síndromes raras vão ser isoladas e caracterizadas individualmente e o autismo vai ser uma comorbidade comum a essas síndromes raras e cada uma delas vai permitir uma medicina um pouco mais personalizada, então cada uma dessas condições vão virar síndromes especializadas, possivelmente definidas numa base neurogenética, onde a gente vai estar entendendo quais são as alterações moleculares, celulares e funcionais para poder buscar formas de terapia e isso pode vir de uma forma farmacológica, pode ser de uma forma de terapia gênica, uma forma até de terapias comportamentais ou outras intervenções".

Essas afirmações instigantes do Dr. Alysson Muotri ressoaram no Afya Summit 2025, realizado no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. A palestra do cientista brasileiro foi apontada por muitos como o ponto alto do evento, que mergulhou em pautas como inteligência artificial na saúde, saúde digital, gestão e bem-estar. A Afya é o maior hub de educação e tecnologias para a prática médica do país, com 25 mil alunos de graduação e 43 mil na pós-graduação em vários estados de todas as regiões do país. Sobre a visão de ensino voltada à humanização com o forte apoio da tecnologia, o Diretor Médico da empresa, Ricardo Morais, definiu a filosofia atual: "Enxergar a Medicina com novos olhos. O futuro não é mais um lugar distante. Ele está aqui, ele é agora."
Veja abaixo a entrevista completa do Jornal da Paraíba com o Dr. Alysson Muotri no Afya Summit 2025
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