ECONOMIA
Paraibanos trabalham mais para elevar renda
Dados do IBGE mostram que número de pessoas com mais de um emprego cresceu 49% em 2011.
Publicado em 05/05/2013 às 10:00 | Atualizado em 13/04/2023 às 15:03
Trabalhar três expedientes por dia, ainda ter que reservar tempo para si e para a família. No caso da mulher, muitas vezes é preciso também administrar o lar. Esta é um pouco da realidade dos paraibanos que possuem mais de um emprego. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), consolidados no Pnad, mostram que o número de trabalhadores com duas ou mais funções na Paraíba cresceu 49,27% em 2011, quando comparado a 2009, saltando de 69 mil para 103 mil pessoas.
Não é difícil encontrar paraibanos que enfrentam uma jornada dupla ou tripla de trabalho em João Pessoa. Everaldo Chaves de Albuquerque, 46 anos, e sua esposa, a Suely Alves de Santana Chaves, 37 anos, fazem parte da estatística do Pnad.
Além de serem funcionários de uma unidade de ensino, ainda vendem refeições e fazem salgados para festas. Durante cinco dias da semana, ele atua como inspetor de uma escola municipal da capital paraibana, das 13h30 às 17h30, e, aos sábados, ainda faz um extra. Já Suely Chaves faz a merenda dos alunos na mesma unidade de ensino, também no período da tarde, de segunda-feira a sexta-feira.
Durante a manhã, o casal faz quentinhas para vender. “O bom é que o nosso almoço já fica garantido e nos poupa tempo”, afirmou Everaldo Albuquerque. Quando chegam da escola no fim da tarde, o casal não tem descanso, começa a terceira jornada.
Ambos vão para a cozinha fazer salgados, já que eles recebem encomendas para festas de aniversários, casamentos e outros eventos.
Pensando nesta rotina, parece não sobrar tempo para mais nada, mas os dois ainda têm que dar conta da limpeza da casa e das roupas do casal e dos dois filhos adolescentes, um de 16 e o outro de 15 anos. “Minha esposa acorda por volta das 5h30 da manhã para lavar roupa”, explicou o inspetor.
Mesmo dormindo por volta da meia-noite durante cinco dias da semana, o inspetor também trabalha aos sábados. Neste dia, Everaldo Chaves ainda ganha um dinheiro extra de R$ 40, trabalhando como inspetor na mesma escola, dentro do programa chamado “Escola Aberta”.
O programa do governo federal apoia o funcionamento, no final de semana, de escolas públicas de educação básica localizadas em territórios de vulnerabilidade social. Juntos, alunos, estudantes e funcionários se reúnem com a comunidade e realizam atividades educativas, culturais, artísticas e esportivas.
Para quem pensa que as atribuições de Everaldo e Suely acabaram se engana. Ele ainda encontra tempo exercer a função de motorista particular nas “horas vagas”. E como fica a administração do lar diante do acúmulo de trabalho? “Eu, minha esposa e os dois filhos nos juntamos e cada um limpa e arruma a casa no fim de semana”, disse Everaldo. “Fazemos tudo isso para aumentar a renda e melhorar o nosso sustento”, disse o inspetor. Mesmo com o acúmulo de funções, o rendimento do mês dos dois fica em torno de R$ 3.500.
Outra rotina que retrata os dados do Pnad é a da diarista Maria José da Silva, 34 anos, curiosamente conhecida como Lilian. Há seis anos ela mantém uma rotina de cinco diárias por semana, todas feitas em casas de parentes de uma mesma família. Os R$1.200 mensais são divididos para pagar todas as contas do mês. Os gastos são para os dois filhos, um com 11 anos e outro com 16 anos, e um irmão de 23 anos que está desempregado.
O dia de Lilian começa cedo. Às 5h30, ela já acorda para fazer o café da manhã, fazer a faxina em casa e correr para o trabalho antes das 8 horas. A volta para casa só ocorre por volta das 19 horas. A renda ainda é compartilhada com mais dois filhos que moram com a avó. “Cada um dos meus quatro filhos tem um pai diferente, e como tive que trabalhar desde que eles eram muito pequenos, dois deles cresceram com a avó”, confessou.
Mas a responsabilidade em ser o esteio da casa começou desde os seus 16 anos de idade. “Quando era mocinha, por causa da relação problemática com meu padrasto, coloquei na cabeça que queria ser independente e fui trabalhar. Hoje, só lamento não ter tido melhores oportunidades na vida, não ter estudado mais. Do resto, não me arrependo de nada, pois aprendi a viver no mundo com dignidade”, orgulha-se.
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