ESPAÇO OPINIÃO
Soberania do crime
Estamos perdendo a batalha dentro de casa para o crime organizado. Estamos perdendo a "soberania" interna para o crime.
Publicado em 16/09/2025 às 8:30 | Atualizado em 16/09/2025 às 10:41

As circunstâncias da morte do vereador Peron Filho, da cidade de Jacaraú, cujo corpo foi encontrado na entrada da cidade de Pedro Régis, no Litoral Norte da Paraíba, chamam a atenção para o empoderamento do crime no país. A vítima foi atingida por três disparos nas costas e morreu ainda no local.
É apenas mais uma triste história entre tantas, que revelam, pouco a pouco, como a população brasileira vai se tornando cada vez mais refém do crime. Independente da cor, da classe, do credo ou da posição pública. Todos estão vulneráveis e perdendo gradativamente a segurança, a liberdade de ir e vir e até o direito de viver.
Todos os dias, algum pai, mãe ou filho perde um parente para o crime. Equanto isso, autoridades públicas inconsequentes, em vez de enfrentarem os problemas de forma consistente e verdadeira, preferem escolher inimigos imaginários e discursos vazios, para proteger de forma mesquinnha seus projetos políticos ineficientes. Como o tal discurso da soberania nacional.
No último fim de semana, noticiou-se que um terreiro de umbanda teve seu culto interrompido, em João Pessoa, e seus objetos foram vandalizados por criminosos. Uma das hipóteses é a de que facções foram as responsáveis pelo crime, mas o caso também é investigado como intolerância religiosa. O crime já não se limita ao tráfico ou ao assalto: agora interfere na fé, no cotidiano, na cultura, nas eleições...
Assaltos que acontecem ou deixam de acontecer por determinação de integrantes de facções criminosas. Já é uma realidade em comunidades na grande João Pessoa. Com testemunhos concretos de quem teve seus pertences "devolvidos" a mando de grupos criminosos. Trata-se de um controle social perigoso, que se propõe a substituir a autoridade estatal.
No último domingo (14), no bairro do Cabo Branco, antes conhecido como local de calmaria e serenidade, um homem foi morto a tiros em plena luz do dia. E nas areias da praia, às vistas de moradores, turistas e trabalhadores. No mesmo dia, em Conceição, no sertão paraibano, um homem foi executado a tiros enquanto utilizava o notebook na calçada de casa. O crime reina quase sem oposição. O que há é o lamento tardio. E o temor.
Citei exemplos da Paraíba para demonstrar que tudo isso acontece sob nossos olhos. Mas na noite desta segunda-feia (15), em São Paulo, criminosos fortemente armados mataram em via pública o ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, de 68 anos. Uma das hipóteses é que se trate de vingança do PCC.
Um importante especialista em segurança pública paraibano e estudioso do crime organizado alertou: estamos muito próximos de nos tornamos um "narcoestado". Se nada for feito concretamente para evitar esse atual estado de coisas. Se as leis não forem edurecidas, se o rigor com os criminosos não for aplicado.
Se um novo pacto da segurança pública não for urgentemente firmado. Aí perderemos o controle. Sim. Estamos perdendo a batalha dentro de casa para o crime organizado. Estamos perdendo a "soberania" interna para criminosos. É essa que precisamos resgatar.Essa é a verdade que nenhuma propaganda populista vai esconder quando presenciarmos a próxima execução, o próximo homicídio, a próxima cena de violência bem embaixo de nosso nariz.
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