ESPORTES
Amor ao futebol
"No dia que o futebol acabar por causa dos corruptos, nós, os românticos, é que seremos os derrotados."
Publicado em 17/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 13:23
Não é uma missão fácil, eu sei. Alguns dirão que é até impossível manter esta dualidade com relação ao futebol. Mas é preciso. Necessário. É, talvez, o grande desafio de quem ao mesmo tempo é sério e apaixonado por futebol. Trabalhar por uma sociedade que não deixe de lado seu amor pelo esporte, mas também não esqueça dos escândalos e dos desmandos que os corruptos cometem em nome dele.
Fazer as pessoas entenderem que um não exclui nem inviabiliza o outro. Convencer os radicais de ambos os lados que nem todo apaixonado por futebol precisa ser alienado, nem muito menos os politizados precisam odiar o jogo.
Falo isto porque recorrentemente chegam a mim pessoas que me questionam sobre o que chamam de flagrante contradição em minha vida. No que, obviamente, discordo veementemente. Política e esporte são assuntos que estão umbilicalmente ligados, um interfere noutro, mas não são necessariamente excludentes.
Entendam isto de uma vez por todas. Eu já entendi. Tenho a capacidade de passar toda uma semana escrevendo sobre os desmandos dos cartolas, detonando os absurdos cometidos em nome do futebol, denunciando arbitrariedades das entidades futebolísticas para, no final de semana, sentar na minha poltrona e assistir a um belo jogo, vibrando com as jogadas e admirando os lances de pura arte que apenas os verdadeiros craques conseguem produzir.
Consigo, inclusive, ser oposição à Copa do Mundo no Brasil, por discordar dos gastos públicos que foram destinados (e desviados) em nome do evento, sem ter que por isto torcer contra a Seleção, que vai em busca do sexto título mundial de sua história.
Meu apurado senso crítico com os problemas extracampo não vão interferir numa paixão construída ao longo de vários anos e iniciadas ainda no bate-papo de infância com meu pai e amigos.
Em resumo, os bandidos não vão jamais vencer. Não terão um papel mais importante do que minha construção como cidadão. Não roubarão de mim a inocência de menino que assistia futebol pelo simples prazer de se emocionar e de se deixar embalar pelo toque de bola encantador, pelo drible desconcertante que desafia a física e pelo gol que permeará para sempre a memória afetiva do eterno garoto.
No dia que o futebol acabar por causa dos corruptos, nós, os românticos, é que seremos os derrotados. Perderemos a ternura e boa parte da sensibilidade. Tornaremo-nos mais chatos. Mais secos. Mais amargurados. Sem, no entanto, conseguir derrotar os larápios, que apenas se deslocarão para explorar uma outra riqueza imaterial e cultural da humanidade.
Temos que combater a bandidagem. Denunciando. Indignando-se. Protestando. Mas acima de tudo continuando a amar de forma plena o esporte que é nosso, do povo, e não dos “doutores” que tentam saquear o esporte.
Na Copa do Mundo, a regra é a mesma. Blatter e companhia são epidemias a serem combatidas com denúncias e processos. Com protestos de rua, que seja. Mas também com gritos de gol, choros emocionados, paixão futebolística e emoção genuína.
Enquanto o esporte for algo que se sente na pele, que se passa de pai para filho e que se perpetua em milhares de corações aficionados, a resistência, brava e resignada, permanecerá viva no campo de batalha e das ideias.
Porta-Retrato
Ao longo de 110 anos de história, a Fifa teve apenas oito presidentes, o que mostra o caráter antidemocrático da entidade. O francês Jules Rimet (foto) foi o que passou mais tempo no cargo: 33 anos. O mais polêmico, contudo, foi o brasileiro João Havelange, que ficou no cargo máximo do futebol mundial entre 1974 e 1998.
De olho na rede
“O maior legado da Copa foi a especulação imobiliária”.
Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.
Cruzeiro lança camisa amarela em homenagem à Copa do Mundo
O Cruzeiro lançou ontem, na Toca da Raposa II, o terceiro uniforme de jogo do clube, inspirado nas cores da Seleção brasileira. A linha comemorativa entra no clima da Copa do Mundo e segue a tendência de clubes como Corinthians, Bahia, Internacional, Santos e Cortiba. Na Paraíba, o Treze foi o único clube do Estado a adotar prática parecida.
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