ESPORTES
Circuito Mundial de Bodyboard: esporte convive com o preconceito
Mesmo com um litoral extenso e clima favorável à prática dos esportes ligados ao mar, o bodyboard encontra no Brasil uma barreira que vai muito além do mundo esportivo.
Publicado em 10/05/2009 às 9:48
Felipe Gesteira
Especial para o JP
Existe espaço para o bodyboard no país do futebol? Durante o Cobra D’Água Bodyboarding Show, evento que reuniu entre os dias 28 de abril e 3 de maio, mais de 200 bodyboarders de todo o mundo na praia da Armação, em Salvador, válido pela terceira etapa do Circuito Mundial de Bodyboard, a dúvida sobre a inclusão do esporte aquático no coração do brasileiro se mostrava cada vez mais forte, principalmente no que remetia à paixão nacional.
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Jornalistas esportivos de todo o país esqueciam por alguns momentos as notas dos atletas para debater sobre as finais dos campeonatos estaduais de futebol. O mesmo era visto na praia, onde se concentrava a torcida. No lugar dos corpos à mostra, camisas do Bahia e do Vitória acirravam a decisão do Campeonato Baiano. Passeando rapidamente entre os torcedores, não era das baterias ou das manobras que mais se ouvia falar, e sim do Ba-Vi, que se aproximava de seu desfecho.
Mesmo com um litoral extenso e clima favorável à prática dos esportes ligados ao mar, o bodyboard encontra no Brasil uma barreira que vai muito além do mundo esportivo. Futebol é mais que esporte, faz parte da cultura popular, quase uma religião. A prova de popularidade era feita com a presença das estrelas na cidade. Sem conhecer os grandes nomes, como o havaiano Mike Stewart, dez vezes campeão do mundo, a tietagem ficava por conta de Uri Valadão, o ‘baiano voador’, atual campeão mundial de bodyboard. Durante os dias do evento, quando a reportagem foi às ruas perguntar sobre o atleta mais conhecido na cidade, Uri Valadão ficou em último entre três citados. O segundo colocado na pesquisa informal foi Beto, atacante do Bahia, vencido por uma pequena diferença pelo matador do Vitória, Neto Baiano.
Para Valadão, a falta de valorização dos talentos nos outros esportes incomoda mais que a predileção em massa pelo futebol. “A dificuldade não é só para o bodyboard, é para o esporte amador em geral. Me incomoda ver tantos talentos não sendo valorizados. No meu nível, eu poderia ser mais reconhecido, mas também não posso reclamar”, desabafa o campeão. O próprio Guilherme Tâmega, hexacampeão mundial e seis vezes vice-campeão de bodyboard já foi patrocinado pelo futebol nacional. Carioca e vascaíno, o maior bodyboarder brasileiro de todos os tempos foi atleta do Vasco da Gama.
A tetracampeã mundial Neymara Carvalho sente pela falta de remuneração no esporte. Comparando os resultados obtidos aos títulos no futebol, Neymara possui mais conquistas que a Marta, craque da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, porém a realidade salarial das duas atletas é bem diferente. Neymara tem uma filha de três anos e atualmente vive somente do bodyboard. “Para quem quer uma carreira milionária, não é o esporte para se escolher no momento. Eu pago minhas contas, mas não é algo que dê para comprar um apartamento”, disse.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) e da Cobra D’Água, Lucas Izoton, o futebol nunca ficou em primeiro plano. “Os esportes ligados à água e ao mar estão inseridos nos hábitos dos jovens, por isso sempre patrocinamos. Há 16 anos, lançamos o Emanuel, e também patrocinamos o Ricardo e o Zé Marco, todos no vôlei de praia. Pela tendência natural do Nordeste, o que mais se deve investir é em educação, esporte e turismo”, disse Izoton.
Se a semana era de Ba-Vi nos gramados, pela decisão do título estadual, no Mundial também deu Ba-Vi nas águas. Uri Valadão, torcedor do Bahia enfrentou no quarto round da competição Israel ‘Papito’ Salas, fanático pelo Vitória. Os dois caíram na mesma bateria, e no primeiro confronto deu Vitória, assim como no futebol. Mas se no embate direto o rubro-negro levou a melhor, o tricolor foi mais longe na competição.
Os dois encontraram um carrasco pelo caminho, Éder Luciano, que eliminou o Papito no quinto round e o baiano voador no sexto, ambos na disputa homem a homem. O catarinense só foi parado pelo vascaíno Guilherme Tâmega, vencedor da etapa. Mesmo com o time na na Segundona do Brasileirão, a camisa pesou na água, ou no caso do bodyboard, o deixou mais leve.
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