ESPORTES
Craques do passado: Lamar, o rei do Sertão e o amuleto do Litoral
Título, grandes exibições e gol de placa marcaram a passagem do cearense pelo futebol paraibano.
Publicado em 30/01/2022 às 10:24 | Atualizado em 30/01/2022 às 10:37
Quando o baixinho Lamar chegou para ajudar o Atlético de Cajazeiras que capengava no Campeonato Paraibano, em 2003, ninguém poderia imaginar que aquele jovem cearense de 23 anos iria conseguir escrever uma linda história no futebol da Paraíba. Pelo Trovão, pelo Botafogo-PB e, mais tarde, pelo Nacional de Patos, Lamar brilhou e deixou saudades por onde passou. Colecionou títulos e atuações que agradaram os torcedores. Rápido e habilidoso, Lamar foi um dos bons nomes do início do século no futebol da Paraíba. Foi protagonista no Sertão e fundamental em segundos tempos no Litoral.
O início foi para lá de promissor, no Atlético de Cajazeiras. No decorrer do primeiro turno do estadual, Lamar chegou para o time comandado por Jorge Luiz, que lhe conhecia do Ceará. O Trovão Azul era o atual campeão paraibano e defendia o título naquela temporada. Mas tinha pela frente um grande time do Botafogo-PB, com Miltinho, Durval, Maurício e Nilson Sergipano.
“Minha história com a Paraíba começou em 2003, através do técnico Jorge Luiz, que foi quem me colocou no futebol. Ele me ligou e apresentou o projeto, e eu devia essa a ela. E eu caí como uma luva nesse time. Chegamos já ganhando, do Treze, em Campina Grande. Comecei a me destacar, decidir jogos e fomos campeões do primeiro turno em cima do Sousa”, lembra.
O Trovão não temia ninguém. E fez frente aos favoritos, Treze, Botafogo-PB e Campinense. No segundo turno, se classificou novamente para o mata-mata, avançou para a decisão, mas acabou perdendo para o Alvinegro da Estrela Vermelha, que forçou a final geral do Campeonato Paraibano.
Lamar já era o maestro do Trovão Azul. Quase sempre armando as jogadas para o artilheiro daquele estadual, Paulinho Guerreiro, seu conterrâneo. Fez um grande estadual, sendo um dos melhores meias do torneio. Chamou atenção do Botafogo-PB, que acabou batendo o Atlético de Cajazeiras de Lamar na final e ficando com a taça.
“Eu arrebentei nos jogos contra o Botafogo-PB. Na mesma semana que perdemos o título para o Belo, me ligaram para fechar com o clube. O Botafogo-PB era um timaço e íamos jogar a Série C do Campeonato Brasileiro. O Botafogo-PB montou um grande time e chegamos até o quadrangular final”, conta o ex-meia.
O AMULETO ALVINEGRO
Após ter feito um grande estadual, Lamar virou o camisa 15 de um Botafogo-PB já bem montado, que iria disputar a Série C do Campeonato Brasileiro. Não era certo que o meia teria espaço na equipe de Washington Lobo, que perdeu Miltinho, mas que manteve Maurício e ganhou Geraldo e Betinho, ídolo do clube, para o setor de criação.
Com humildade, no entanto, Lamar ganhou algum espaço, mesmo com as várias opções para o meio-campo no grupo alvinegro. Não chegou a ser titular, mas era peça sempre chamada nos jogos, sobretudo quando a equipe precisava de algum ânimo novo no setor ofensivo.
Lamar entrava e incendiava as partidas, ao lado de outro baixinho rápido, o atacante Helinho. Eles eram sempre escolhidos pelo treinador para mudar o rumo da partida. E davam conta do recado. No mais inesquecível jogo de Lamar entrando de segunda com a camisa alvinegra, o meia entrou e fez o gol da vitória do Botafogo-PB no clássico contra o Campinense na fase final da Série C, explodindo de alegria um Almeidão carregado de tensão.
- As vezes que eu entrava, eu ia bem, fazia gol. Criei uma identidade muito grande com o Botafogo-PB. E eu fiz um gol muito emblemático. O Botafogo-PB não podia nem empatar com o Campinense no Almeidão naquele jogo pelo quadrangular final. Mas já acabando o jogo, aos 47 minutos do segundo tempo, eu saí de cara com o goleiro Jaílson, que estava no Palmeiras agora, e estava no Campinense na época, e eu fiz o gol. Lotado o Almeidão estava. O torcedor lembra muito desse gol até hoje. Tenho orgulho de ter vestido a camisa do Belo e torço até hoje pelo Belo - relembra.
Lamar ficou ainda no Botafogo-PB na temporada seguinte, em 2004, quando virou titular. Mas naquele ano, Campinense e Treze mandaram no estadual, disputaram a taça do Paraibano e deixaram o Belo sem calendário no segundo semestre.
O REI DE PATOS
Após sair para o ASA de Arapiraca, Lamar voltou para o futebol paraibano só em 2007. Não foi para Treze, Campinense ou Botafogo-PB. Quem apostou no cearense foi o Nacional de Patos, tradicional clube do Sertão do estado, mas que sempre ficou no quase em termos de estadual.
O Sousa já havia sido campeão paraibano e o Atlético de Cajazeiras também, mas nenhum representante da maior cidade do Sertão paraibano havia erguido a taça mais importante do futebol da Paraíba. Lamar, no entanto, foi para Patos para escrever essa página que faltava.
Com um time de jogadores da região, da Paraíba ou de cidades próximas do Ceará, parecia uma equipe modesta. Mas em campo não foi. Era um grupo que aliava a experiência de Raminho, Edmundo e Rogério Costa, a juventude de Carlinhos Paraíba e o auge de Lamar. Após a demissão do técnico Zinho, o meia reencontrou Jorge Luiz, com quem tinha trabalhado no estado no Atlético de Cajazeiras.
“Era um elenco fantástico, um grupo maravilhoso. Foi um timaço. Eu tive a oportunidade de jogar lá e fazer um gol de placa. Tem uma placa no José Cavalcanti até hoje. Fiz um campeonato fantástico. Batíamos em Botafogo-PB, Treze, Campinense, jogando bem, verticalmente. Até hoje, eu vou à Paraíba, bato fotos e dou autógrafos. É um solo que eu amo de verdade”, disse o meia.
Lamar ainda fez parte da campanha histórica do Canário do Sertão na Série C do Campeonato Brasileiro daquele ano, quando o clube chegou ao octogonal final da competição, ficando com a oitava posição do torneio, a melhor colocação de um clube do Sertão paraibano em torneios nacionais.
Em 2008, Lamar se transferiu para o Treze, onde seria a estrela do time comandado por Fito Neves. Ainda na pré-temporada, o meia rompeu o ligamento cruzado de um dos joelhos e praticamente perdeu a temporada inteira pelo Galo da Borborema. Na Paraíba, já na reta final de carreira, vestiu as camisas do Miramar de Cabedelo e do extinto Flamengo-PB.
“Eu comecei no Sertão, lá em Cajazeiras, com muita dificuldade, consegui chegar na capital, no grande Botafogo-PB, e depois voltei para o Sertão para conseguir ser campeão pelo Nacional de Patos, um time menor, chegando também ao Treze depois. É um estado maravilhoso para mim”, completa.
Lamar encerrou a carreira pelo Barbalha, em 2014. Atualmente, aos 41 anos, o ex-atleta mora no Crato e agora é treinador. Ele comanda o Crato, que em 2022 está disputando a primeira divisão do Campeonato Cearense. Enquanto trilha uma nova história, Lamar sabe que na Paraíba tem uma linda a contar dos tempos de jogador.
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