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De olho em eleições da FPF, clubes profissionais disputam o Paraibano Sub-19 através de parcerias com agremiações amadoras
Pelo menos três parcerias estão em atividade na principal competição de base do futebol paraibano
Publicado em 17/08/2021 às 15:34 | Atualizado em 18/04/2023 às 15:12
Por Pedro Alves
Um fato vem chamando a atenção no Campeonato Paraibano Sub-19. É que alguns clubes profissionais fizeram parcerias com agremiações amadoras do estado para disputar a principal competição de base da Paraíba. O torneio dá vagas para a Copa São Paulo de Futebol Júnior e Copa do Brasil, ambas do ano que vem, além de vaga na Copa do Nordeste Sub-20 deste ano. E por que estão sendo feitas essas parcerias? O blog Entre Linhas explica agora.
Uma das motivações é a ausência de estrutura nas categorias de base de alguns clubes profissionais. Ou uma pequena estrutura. Vamos pegar o exemplo do Miramar de Cabedelo. Na tabela formulada e divulgada pela Federação Paraibana de Futebol (FPF), o Tubarão Tubarão como um dos times que disputam o torneio. Puro jogo de cena.
O Miramar hoje não tem categoria de base. E fez uma parceria com o VF4, time do lateral-direito do Grêmio, Victor Ferraz, que atualmente é um dos clubes amadores, filiados à FPF, com melhor trabalho de base no estado. A parceria também se estende ao América de Caaporã, tradicional clube da Paraíba, mas que atualmente não tem registro ativo na FPF.
Ou seja, na prática, o time que entra em campo é o América/VF4, com garotos majoritariamente do VF4, e o mando de campo do time sendo no Estádio Lundrigão, casa do América de Caaporã. Ou seja, o Miramar não tem atletas formados no clube atuando, nem a equipe joga em Cabedelo, sua cidade.
O Tubarão, que está ativo na CBF como profissional, só serve como registro de aluguel, para que os atletas sejam inscritos como jogadores do Miramar de Cabedelo no ponto de vista oficial. O escudo do Tubarão ainda pode ser visto no uniforme, que conta ainda com o brasão da parceria entre América de Caaporã e o VF4.
Os outros casos são semelhantes, mas com um pouco mais de participação dos times profissionais. O Femar tem uma parceria com o Vila Branca, outro tradicional time do estado, mas que hoje só atua nas categorias de base. A equipe é formada por atletas do Femar e do Vila. O uniforme tem os dois escudos, mas tem a estética toda referente ao Vila Branca. E a equipe joga em Solânea, no Estádio Tancredão, casa do Guaxinim do Brejo.
O Internacional-PB itinerante, atualmente de Mamanguape, fez uma parceria com o Santa Rita, clube amador da cidade homônima. A equipe em campo é majoritariamente do trabalho de base feito no Santa Rita. O Internacional-PB empresta o registro para rodar os contratos e o escudo no uniforme, que tem o brasão do Inter e do Santa.
Nas redes sociais, o Santa Rita só faz menção ao próprio clube. Para que o Internacional-PB não deixe de existir por completo, ainda aparece com o seu escudo bem pequeno, em meio a os vários elementos nas imagens produzidas pelo Santa Rita. O mesmo caso acontece com o VF4, que em seus perfis faz a menção que quem está jogando o Paraibano Sub-19 é o América/VF4.
No caso dos clubes amadores, as parcerias são boas porque são oportunidades de vitrine. As agremiações amadoras não podem disputar o torneio, pois a participação exclusiva de clubes profissionais é uma exigência da Federação Paulista de Futebol, para que o campeão e o vice de cada estado possa disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal objetivo das agremiações que participam do Paraibano.
Voltando aos profissionais, há um outro grande motivo para os clubes sem ou com pouca estrutura nas categorias de base fazerem essas parcerias, que não seja só estar em atividade puramente por estar: ter mais um voto nas eleições da Federação Paraibana de Futebol. Portanto, ter algum poder no processo eleitoral.
Os clubes profissionais que disputem, nas duas últimas temporadas ao pleito, a 1ª ou 2ª divisão do Paraibano têm direito a um voto na eleição. Os profissionais que jogarem competições de base nas duas temporadas anteriores ao pleito ganham mais um voto. Ou seja, passam a ter peso dois no processo. Então, mesmo quem não tenha um bom trabalho de base, mas faça essas parcerias e sejam reconhecidos como participantes de torneios de base, vai ter direito a peso dois nas eleições.
Com a pandemia, em 2020, a única competição de caráter amador que houve no estado, organizada pela FPF - que é o que vale para efeito de direito a voto -, foi o estadual feminino. De modo que a entidade baixou uma resolução excluindo a temporada de 2020 como critério para ter direito a voto.
Assim, as duas temporadas válidas para decidir os direitos de voto nas eleições de 2022 são as de 2019 e 2021. Tendo em vista isso, alguns clubes profissionais deram o seu jeitinho de disputar o Paraibano Sub-19. Sem um trabalho decente na base. Emprestando o escudo e o registro. E ganhando poder.
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