Horas após Botafogo-PB fazer menção ao dia do orgulho LGBT, presidente do Conselho critica torcida com falas machistas e homofóbicas

Por Pedro Alves

No dia 25 de março se comemora o dia do orgulho LGBT. Por conta disso, diversos clubes do país fizeram menções ao dia, para exaltar o respeito e demonstrar seus apoios à diferença. Na Paraíba, o Botafogo-PB foi um dos poucos times que registraram o dia e sua importância, nas redes sociais. Bola dentro. 

Elogiei a postagem no meu Twitter, ao mesmo tempo que demonstrei minha torcida para que o discurso da comunicação fosse de fato absorvido pelos dirigentes do clube, ainda muito conservadores e preconceituosos. Fazer uma postagem é bem mais fácil do que promover de fato o respeito à comunidade LGBT. E eu bem sei que não é simples mudar a cabeça de homens que foram educados num contexto de normalização da opressão às pessoas LGBTs. O processo não é simples. Mas tem que ser feito. Urgentemente. E não são só artes para redes sociais que resolvem a questão.

Infelizmente não demorou muito para que o discurso do clube nas redes sociais fosse jogado no lixo por uma pessoa de poder da instituição. O presidente do Conselho Deliberativo (CD) do Botafogo-PB, Alcedo Gomes, horas após mais um empate do Belo na Copa do Nordeste e consequente críticas dos torcedores nas redes sociais, escolheu alvos para destilar preconceitos.  

Na tentativa de criticar a torcida e diminuí-la, Alcedo, num desses espaços das redes sociais, um grupo de Whatsapp intitulado Sócios do Belo, usou termos machistas e homofóbicos. Em um certo momento, o dirigente chamou a mãe de um torcedor de velha, e mostrou total desrespeito não só à mãe do torcedor, mas a sua própria, já falecida. 

Dando sequência à tentativa de criticar a torcida, em virtude de reclamações feitas no grupo por conta dos maus resultados do Belo na temporada, o presidente do CD do Botafogo-PB falou que tinha 50 anos de serviços prestados ao time paraibano e que muitos ali tinham 20 de “dá o cu”. Claramente buscando xingar pessoas sob um discurso homofóbico, onde se vende como óbvia a ideia de que uma outra orientação sexual que não seja heteronormativa denote algo negativo. 

Os absurdos não ficaram impunes, sob o ponto de vista da narrativa pelo menos. O episódio gerou muita repercussão entre os torcedores. A torcida Setor 31, por exemplo, lançou uma nota repudiando as palavras de Alcedo e pedindo respeito.

Uma torcedora do Botafogo-PB que faz parte do grupo e é sócia fez um correto desabafo após o episódio. Escreveu ela, no grupo onde aconteceu o episódio. “A nova diretoria acabou de entrar e é INACEITÁVEL a atitude e as palavras como as do novo presidente do conselho teve essa madrugada. Mas dessa vez eu EXIGIREI uma reparação do clube e desse Alcedo ou cancelarei meu sócio. Se não tem maturidade para estar à frente de um time e receber críticas, não o seja. Estarei aguardando!”. O blog tentou entrar em contato com Alcedo Gomes, mas não obteve êxito.

Na ocasião, o presidente do clube, Alexandre Cavalcanti, que está no grupo, foi cobrado pelas palavras do mandatário do CD. De fato, Alexandre não pode responder pelo que foi dito. Mas tem a obrigação de, caso para o clube seja mesmo um valor o respeito pelas mulheres e pela comunidade LGBT, como disse ser em postagem na rede social, posicionar-se contra o que foi dito. De maneira firme. Sem coleguismo ou aquele papo patrimonialista de “família Botafogo”. O blog entrou em contato com o dirigente, que disse que está com vários pepinos na mão no momento.

- Estou há 36 horas sem dormir, muito cansado. Desde ontem trabalhando arduamente pelo clube. Estou no arbitral da Série C agora, depois tem o do Campeonato Paraibano, e ainda tem o jogo contra o Treze que não tem definição. São vários problemas graves, estou tendo que resolver os mais graves. Todos são. Mas não tenho tempo de ser babá de adultos - comentou Alexandre.

Meu Tweet, aliás, não foi escrito à toa. Discursos homofóbicos e machistas não são raros no Botafogo-PB. Nem são proferidos sob constrangimento. Nesses grupos de torcidas que dirigentes estão e em outros espaços no Whatsapp, como em grupos institucionais, dirigentes trocam farpas recorrentemente com termos misóginos e machistas. Em ilusórias pelejas para mostrarem quem é mais homem do que o outro. Uma coisa ridícula. Onde buscam ser mais homens e nem percebem que diminuem como ser. 

Discursos e práticas precisam caminhar juntos. O processo é simples? Não é! Mas existem meios mais eficazes do que artes de instagram. A educação é e sempre será o melhor deles. Sugiro o clube fazer intensas rodas de debates, aulas e formações para seus dirigentes sobre machismo, feminismo, homofobia, dentre outros assuntos socialmente importantes. Seria um passo fundamental para quem pretende mesmo ser de todos e de todas na Paraíba. 

Os homens que hoje passam pelo Botafogo-PB devem mais respeito ao clube que foi construído com muito suor e amor de Sebastiana de Oliveira. Sem ela não existiria o Botafogo-PB. Já sem alguns, ele sempre seguirá existindo. Até melhor!