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ESPORTES

João Pessoa era um certo Antônio

Texto do jornalista Pedro Alves em homenagem póstuma a Jacaré, o Antônio Joaquim de Sousa

Publicado em 26/05/2021 às 20:26 | Atualizado em 18/04/2023 às 15:16

Por Pedro Alves


				
					João Pessoa era um certo Antônio
Foto: André Lins.

 A Covid-19 tem ferido e levado muitos pessoenses. Mas eu nunca imaginei que o vírus pudesse ter a potência de amputar uma parte de uma cidade. João Pessoa, como todo lugar do mundo, tem diversas elas. É limpa. É suja. É povo. É poder. É bela. É feia. É Belo. É Auto. É Fla. É Enzos, Marias, Valentinas e Antônios. 

João Pessoa era um certo Antônio. Joaquim de Sousa. Ou Jacaré. Ou Caroço de Pinha, para os torcedores do Botafogo da Paraíba. Para mim, Jacaré. Um habitante constante do coração da Capital. Sempre bem vestido. Andando seu céu. Bebendo suas antigas casas e chãos. Tragando os ares da maior de suas cidades. 

Jacaré era uma perna trôpega de João Pessoa. Cortada nesta quinta-feira pela Covid-19, que lhe colocou num hospital, onde morreu dessas infecções que nascem para aniquilar.

Jacaré era em si toda uma cidade. A João Pessoa pobre, preta, esquecida, sem perspectivas. Que só sobrevive, um dia de cada vez. Que, às vezes, busca se encher de vazios - afinal, é o que se tem para hoje - prazerosos ou trágicos. Ou esvaziar a cabeça, enchendo-a de paixões. O cigarro, a cachaça, o futebol. Jacaré se agarrava a eles e ela como o poeta que ama seu poema. Pensando bem. Era mesmo este o encontro. E era mesmo ele um poeta. 

Se molhava todo dia desse mar urbano, tendo como norte da sua bússola confusa e trêmula o domingo. Estaria lá sempre a sua casa. O porto seguro desses viver, ser e sentir. Onde morava seu coração - ou seria tudo aquilo seu próprio pulso? O Almeidão e o Botafogo da Paraíba, dois dos mais vitais órgãos de João Pessoa, se emaranhavam a Jacaré. Num  Daí nascia uma luz capital. O sol primeiro. 

Com cinco ou seis anos, tive meu primeiro contato com Jacaré. Relógio nenhum consegue registrar o tempo que levou de eu estar olhando em seu olho para o momento em que eu via o mundo de cabeça para baixo. Ele me pegou e me rodou. Em seus braços. Eu só queria sair dali. Gritei sem chorar. Até ri. Mas queria o chão. Não sabia que eu estava dentro do lugar que eu mais amo. Foi, eu acho, um batizado. Nunca mais saí daqui. Nem de lá. 

A arquibancada sem Caroço é o pavilhão do Botafogo da Paraíba sem a estrela vermelha. O Centro da cidade sem Jacaré é como a praia do Cabo Branco sem o mar. Um surrealismo de mau gosto. Sem nenhum conceito estético. Indefensável. E sem sentido. Como viver, amar, torcer e morrer.

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