ESPORTES
Laços históricos e disparidades econômicas marcam os oito finalistas
G1 mostra características que unem e separam os remanescentes da Copa. Maioria sul-americana partilha origem comum. Espanha é eixo de ligação.
Publicado em 30/06/2010 às 10:00
Do G1
A Copa do Mundo chega à fase de quartas-de-final nesta sexta-feira (2) com oito países que, embora tenham características sócio-econômicas díspares, possuem ligação histórica e cultural. Os quatro representantes sul-americanos (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), os europeus (representados por Alemanha, Espanha e Holanda) e a única nação africana remanescente, Gana, têm uma longa série de disputas e rivalidades travadas fora dos gramados, iniciada séculos antes do francês Jules Rimet idealizar a competição.
Confira tabela com informações dos países finalistas
A Espanha, classificada nesta terça-feira (29), está no eixo central dessa relação. Uruguai, Paraguai e Argentina já integraram a Coroa Espanhola até o início do século XIX, quando alcançaram a independência. O Brasil também ficou formalmente sob domínio espanhol por 60 anos, durante a União Ibérica (1580-1640). O Reino dos Países Baixos, conhecido como Holanda, após travar uma guerra de 80 anos contra a nação ibérica, teve a independência reconhecida em 1648.
Livres, os holandeses também iniciaram uma era de expansionismo colonial. Chegaram a ocupar diversas cidades do Nordeste do Brasil, como Salvador, Natal e João Pessoa. A capital era Mauritsstad, agora Recife, onde se fixaram entre 1630 a 1654, até serem expulsos pelos portugueses. Em boa parte desse período, os pernambucanos foram governados por um conde alemão de origem, Maurício de Nassau.
Em compensação, em 1637, a Holanda tirou dos portugueses o domínio do que hoje é o sul de Gana, região então chamada de “Costa do Ouro”, em 1637. Após resistirem, os portugueses renunciaram de vez ao território em 1642. Em 1831, a Holanda vendeu o assentamento ao Reino Unido.
A Alemanha só conseguiu unificar-se em 1871, o que a deixou fora das disputas coloniais. Entretanto, durante o século XX foi protagonista, e derrotada, em duas guerras mundiais. Na Segunda (1939-1945), ocupou a Holanda durante cinco anos, que resistiu em suas colônias. O Brasil declarou guerra aos alemães, e enviou tropas contra o Eixo, em 1942. A Espanha adotou oficialmente a neutralidade, mas apoiou o regime nazista. Gana era colônia britânica, mas de lá foram enviadas tropas que lutaram por todo o continente africano. Só obteve a independência doze anos após o fim do conflito, em 1957.
Desigualdades
Nos aspectos econômicos e sociais, as diferenças tornam-se mais evidentes. Por um lado, a Alemanha, mais rica entre os oito, é, além da representante do G8 (grupos das oito nações mais desenvolvidas do mundo), o segundo maior país exportador (US$ 500 bi, estimados em 2009, segundo a OMC), uma potência industrial e referência nos setores energético e de transportes.
Do outro lado, Paraguai (0,761) e Gana (0,526) são os únicos que apresentam índices de desenvolvimento humano (IDH) considerados intermediários. Respectivamente, 19% e 28% de suas populações vivem abaixo da linha de pobreza. Os paraguaios são dependentes de Brasil, Argentina e, em menor grau, do Uruguai, no comércio exterior, e sua economia é caracterizada pela informalidade. Gana tem recursos naturais e é um dos países menos pobres e instáveis polticamente da África. Entretanto, depende muito de ajuda e financiamentos externos.
Holanda e Alemanha são signatárias do Tratado de Paris, em 1951, que deu origem à atual União Europeia (UE). A Espanha só aderiu à UE em 1986, após sua redemocratização. Os quatro sul-americanos classificados foram exatamente os membros fundadores do Mercosul, em 1991, associação comercial que, ao contrário da UE, até hoje não conseguiu expandir-se e incorporar novos membros plenos.
No critério de qualidade de vida, a campeã é a Holanda (0,964 no IDH), seguida pelos alemães e espanhóis. A Espanha lidera pela taxa de longevidade (expectativa de vida de 80,1 anos). Atrás dos alemães, os dois europeus também apresentam bons índices econômicos, embora sejam afetados pela crise no financeira do continente.
Já o Brasil, único representante dos BRICs (grupo dos principais países emergentes), impressiona pelo gigantismo e desequilíbrio. É a oitava economia do mundo e tem pouco menos que toda a população e quase o dobro da área dos outros sete rivais juntos. Ao mesmo tempo, nos índices de qualidade de vida, ocupa um discreto sexto lugar no IDH e é penúltimo em longevidade.
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