Tiquinho Soares: do início difícil com dispensa no Treze à glória em Portugal e retorno triunfal ao Brasil

Aos 31 anos, Tiquinho Soares é estrela do futebol brasileiro com a camisa do Botafogo. Mas o atacante ralou muito, passou por várias fases difíceis até viver esse grande momento.

Foto: Vítor Silva / Botafogo

Para quem acompanha Tiquinho Soares desde o início da sua carreira no futebol da Paraíba e do Rio Grande do Norte ainda soa estranho todo o sucesso e grandes performances que o atacante conseguiu ter desde a sua grande passagem pelo Porto até o seu retorno triunfal ao futebol brasileiro, sendo o principal nome do Botafogo, atual sensação e líder do Campeonato Brasileiro. 

É que Tiquinho Soares sempre foi um profissional esforçado. Mas em seu início de carreira, era difícil imaginar que o atacante alto, até certo ponto desengonçado, naquela época, iria se tornar um belo centroavante, inteligente e letal. Há dez anos, por exemplo, Tiquinho Soares era dispensado por “não corresponder às expectativas”, do Treze, que disputava a Série C de 2013.

Tiquinho Soares: Promessa do América-RN

Natural de Sousa, Tiquinho Soares teve uma rápida passagem pelo futebol de base do Sertão paraibano. Passou pelo Centro Recreativo Angelim (CRA), projeto social que havia em sua cidade natal.

Tiquinho Soares
Foto: Arquivo pessoal

Depois disso, Soares foi para o seu primeiro ambiente profissional. Com os pais morando em Natal, o jogador foi integrado à base do América-RN, onde também viria a começar a sua carreira profissional. Assinou seu primeiro contrato no Mecão, mas nunca se firmou no profissional. 

De volta à terra, mas sem empolgar

Em 2010, grande parte do sub-20 do América-RN foi emprestado para o Botafogo-PB para as disputas da Copa Paraíba daquele ano, que era sub-21, mas que valia uma vaga na Copa do Brasil do ano que vem. O Belo vivia uma grande crise. Desde 2007 não tinha série nenhuma e vivia, no segundo semestre, de disputas competições de base, como essa. 

Sem categoria de base ativa, o Botafogo-PB teve que importar vários jovens jogadores. Fez essa parceria com o América-RN e recebeu alguns atletas da base do Dragão, dentre eles Tiquinho Soares. Na Paraíba, virou apenas Soares. Recebeu a camisa 9 do Belo no torneio, fez vários jogos de titular pelo clube, mas em nenhum momento empolgou. De toda forma, foi campeão sob o comando do potiguar Francisco Diá. Mas não despertou interesse no clube em ficar com o jogador para as disputas do Campeonato Paraibano do ano seguinte.

Tiquinho Soares, Botafogo-PB
Tiquinho Soares posa em pé em jogo do título da Copa Paraíba 2010 contra o CSP (quinto jogador da esquerda para a direita) // Foto: Edônio Alves

Começo da mudança

Em 2011, um clube que estava começando a despontar na Paraíba e que investia em jovens talentos da região olhou para Soares com carinho. O CSP de Josivaldo Alves contratou o atleta e passou a emprestar o jogador para vários clubes do país. 

Um deles foi o Treze. Em 2013, o Soares fez o seu primeiro grande campeonato como profissional. No comando do ataque do CSP, o atacante fez um ótimo Campeonato Paraibano, marcando gols, se tornando o artilheiro do Tigre no torneio, a melhor referência técnica e um dos goleadores do torneio. 

De modo que fez total sentido a contratação dele por parte do Treze no segundo semestre daquele ano. Antes do Galo, ainda naquela temporada, Soares foi emprestado ao Cerâmica-RS, em sua primeira saída do futebol nordestino. Não se firmou e acertou empréstimo com o Galo.

Tiquinho Soares
Foto: Amauri Aquino

Não dá para dizer que Soares não teve oportunidades no Alvinegro de Campina Grande. Ele teve chances, atuou algumas vezes como titular, mas a hoje estrela do Glorioso não se firmou, não fez boas partidas e foi dispensado no meio da Série C, na pior fase do clube na competição. Foi um dos bodes expiatórios após a goleada sofrida por 6 a 0 para o Santa Cruz.  

Em 2014 jogou nos gaúchos Pelotas e Veranópolis e ainda ajudou o novato Lucena, da Paraíba, a subir para a elite do futebol paraibano. Parecia que Soares seria um jogador que teria sempre mercado, sobretudo nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e na periferia futebolística do Rio Grande do Sul, mas que dificilmente passaria disso. Uma análise que fazia justiça ao seu futebol apresentado até aquele momento. 

A virada Portuguesa

Ainda com contrato, apoio e aposta — que depois viria a se provar certeira — do CSP, Tiquinho Soares era constantemente emprestado por Josivaldo para aparecer em outras vitrines. Com contatos em Portugal, o dirigente do Tigre conseguiu colocá-lo no Nacional da Madeira, apesar de Soares até aquela altura não ter apresentado ser tão promissor. 

E foi aí que a coisa realmente virou. No Nacional da Madeira, Soares voltou a ser Tiquinho e jogou muita bola. Virou titular absoluto e danou a fazer gol em solo europeu pelo clube da Ilha da Madeira, na elite do futebol português. 

Na segunda temporada já era a estrela do clube e chamou atenção de outro clube português, o Vitória de Guimarães. O clube tirou Tiquinho Soares da Ilha da Madeira, após duas temporadas. No novo time, Tiquinho Soares seguiu com a sua fase goleadora e foi um dos destaques do futebol portguês na temporada 2016/2017.

Tiquinho Soares
Foto: Divulgação

O Porto se interessou pelo atleta e contratou o camisa 9 brasileiro. Que seguiu indo bem, agora com a camisa de um dos maiores clubes do país e da Europa, e por onde atingiu seu auge, ficando por cinco temporadas. Foi pelo que fez no Porto que por bem pouco Tiquinho Soares não chegou à seleção brasileira. Convocação que pode ficar perto novamente ou até se tornar realidade com a grande fase que vive no Botafogo neste ano. 

Depois do Porto, Soares foi seduzido pelo dinheiro chinês, que lhe tirou da Europa. Jogou uma temporada no Tianjin Teda FC de onde se transferiu para a Grécia. Ficou duas temporadas no Olympiakos e retornou em 2022 para o futebol brasileiro, para vestir a camisa do Botafogo. No Glorioso, Soares é um dos principais atacantes do Campeonato Brasileiro deste ano. Na temporada, Tiquinho tem 21 gols em 30 jogos. E está pedindo passagem. Após uma trajetória de muita dificuldade, crenças de poucos, mas muito trabalho e perseverança.