MEIO AMBIENTE
Açude de Boqueirão: para onde vai a água do reservatório?
Especialistas explicam estratégia de gestão hídrica em reservatório que atende 22 cidades do Agreste paraibano.
Publicado em 22/03/2025 às 7:46

O Açude Epitácio Pessoa, conhecido como Açude de Boqueirão, está atualmente com 54,13% de sua capacidade total, o equivalente a 252.517.996 metros cúbicos de água, segundo dados do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), em conjunto com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa).
Apesar de não estar cheio, a válvula dispersora do reservatório segue aberta, liberando 300 litros por segundo desde 26 de dezembro de 2024.
Por causa disso, a medida gera dúvidas entre a população, que questiona a liberação antes do reservatório atingir sua capacidade máxima.
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Para onde vai a água liberada

O açude abastece 22 municípios e sete distritos da Paraíba, incluindo Campina Grande. A água liberada pela válvula dispersora segue para o Açude de Acauã, garantindo o abastecimento das cidades e das populações ribeirinhas.
O coordenador estadual do Dnocs, Alberto Gomes, explicou: "A gente tem que deixar [a válvula] sempre aberta porque ela pereniza as águas do Rio São Francisco, ou seja, para não faltar água no rio".
Os volumes de entrada e saída de água do Açude de Boqueirão são constantemente monitorados. O reservatório recebe água tanto da chuva quanto do Projeto de Integração do Rio São Francisco, e sua liberação é definida pelos órgãos gestores.
De acordo o especialista em Gestão de Recursos Hídricos, Isnaldo Costa, a operação da válvula dispersora segue critérios técnicos monitorados pela ANA e pela Aesa, como a necessidade de aumentar ou diminuir a vazão. "Hoje, essa vazão está sendo liberada em 300 litros por segundo. Tudo isso é monitorado", afirmou.
Segundo ele, a abertura da válvula não significa esvaziamento do açude, mas sim um gerenciamento eficiente do fluxo de água para abastecimento e outras necessidades, como dessedentação animal.
"A válvula dispersora tem esse objetivo. Ela é liberada e monitorada. Se houver tendência de mais chuvas, ele pode aumentar a vazão", explicou.

Dados do Dnocs apontam que, em janeiro de 2025, o reservatório teve um aumento de 84 cm na lâmina d’água, o equivalente a 23.957.018 metros cúbicos. Em fevereiro, o acréscimo foi de 20 cm, somando 5.961.986 metros cúbicos ao volume total.
Por que a água não é liberada apenas quando o açude está cheio?
A dúvida sobre a necessidade de esperar o reservatório atingir sua capacidade total antes de liberar água é comum. No entanto, o especialista alerta que essa estratégia não é viável.
“Faz 15 anos que o açude não sangra. A última vez foi em 2011. Então, você tem que fazer uma gestão com o que tem”, explicou Isnaldo Costa.
Ele lembra que, em 2017, o reservatório atingiu um dos níveis mais críticos da história, com apenas 2,9% da capacidade total, levando ao racionamento de água. “As pessoas não podem beber vento", afirmou.
Histórico do Açude de Boqueirão e a crise de 2017

O Açude Epitácio Pessoa foi inaugurado em 1957 e se tornou um dos principais reservatórios do estado, fundamental para o abastecimento da segunda maior cidade da Paraíba e municípios vizinhos.
Em 2017, o açude enfrentou uma das maiores crises hídricas da história, chegando a apenas 2,9% de sua capacidade total. A situação levou a um racionamento severo em Campina Grande e região, com restrições no fornecimento de água. A transposição do Rio São Francisco foi essencial para evitar o colapso total no abastecimento.
Desde então, a gestão hídrica do reservatório tem sido aprimorada para garantir que crises como essa não se repitam. A liberação controlada da água é parte desse planejamento, assegurando o fornecimento contínuo à população mesmo em períodos de seca.
A expectativa é que, com as chuvas previstas para março e abril, o açude continue a recuperar seu volume, permitindo ajustes na vazão conforme necessário.
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