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MEIO AMBIENTE

Erosão na Barreira do Cabo Branco: o que podemos explicar sobre isso?

Não é de hoje que a erosão na Barreira do Cabo Branco é um problema grave e alvo de muitos debates e intervenções.

Publicado em 28/12/2022 às 8:12


                                        
                                            Erosão na Barreira do Cabo Branco: o que podemos explicar sobre isso?
Prefeito quer construir uma estrada contornando a falésia, no projeto de alargamento da orla de João Pessoa. (Foto: Secom-JP/Divulgação).

O trânsito na ladeira do Cabo Branco, em João Pessoa, voltou a ser liberado, após mais de cinco anos interditado por causa da erosão da Barreira do Cabo Branco. Desde 2014 o local sofria interdições recorrentes na circulação de veículos, e em 2017 o acesso foi fechado por tempo indeterminado. A intervenção humana no topo da falésia, como o asfalto e a circulação de veículos, somado ao processo da força das ondas no sopé da barreira, foram apontados por pesquisadores e pela Prefeitura de João Pessoa como causas da erosão na Barreira do Cabo Branco.

O que é a Barreira do Cabo Branco?

A Barreira do Cabo Branco é uma falésia, uma forma de relevo litorâneo derivado do processo de abrasão marinha, que é a erosão causada pela ação contínua da água do mar em uma superfície rochosa. Suas principais características são as escarpas altas e íngremes, sem vegetação na porção vertical.

No caso da falésia do Cabo Branco, trata-se de uma falésia ativa, isto é: ela ainda sofre do processo de erosão pela força das ondas. No litoral paraibano existem também falésias inativas, como no caso da região de mata que separa os bairros de Altiplano e Cabo Branco.

O que causa a erosão na Barreira do Cabo Branco?

Além das ondas no sopé da barreira, há anos que vários pesquisadores apontam o impacto das construções humanas no topo da falésia como causadores da erosão.

A exploração da parte superior da barreira começou na década de 1970, quando foi inaugurada a rodovia PB-008, conhecida como Via Litorânea, que liga a praia do Cabo Branco com as praias do Seixas, Penha e o Litoral Sul. O traçado da via se estende da orla da capital passando pela falésia e pelo Farol do Cabo Branco.

Com a inauguração da via, que é asfaltada, aumentou o fluxo de carros e pessoas sobre a região da falésia, sobretudo viagens de turismo para que os visitantes conhecessem o farol.

Para alguns pesquisadores, não só o fluxo de veículos acelerou o processo natural de erosão da falésia viva, como também as construções na parte superior e o asfalto das rodovias contribuíram para essa aceleração. Da parte dos veículos, as frenagens constantes e o peso de caminhões e ônibus, por exemplo, impactam a estrutura do solo, da mesma forma como as construções no topo da barreira. Já o asfalto acabou impactando na drenagem da água da chuva, que deixou de ser feito de forma uniforme e passou a escoar nas margens da barreira.

Quando começou a interdição da Barreira?

Os problemas de trânsito em torno da Barreira do Cabo Branco são antigos e em diversos momentos houve interdições. Ainda em novembro de 2014, a Avenida Panorâmica, que percorre a parte de cima da Barreira, foi interditada após parte da falésia desabar.

Na mesma época, a Ladeira do Cabo Branco, que dá acesso à parte de cima da Barreira, também foi interditada, mas apenas provisoriamente. À época, o trânsito ficou restrito em algumas partes. E uma das medidas foi limitar o acesso à Ladeira. Antes mão dupla, por um tempo ela ficou restrita a quem subia, fechando-se a circulação para quem a descia. Tal mudança, contudo, foi temporária.

A interdição definitiva da Ladeira do Cabo Branco só aconteceu três anos depois, em 2017. Em janeiro daquele ano, a Secretaria de Planejamento e a Semob, ambas da Prefeitura de João Pessoa, decidiram pela interdição emergencial depois de um novo desabamento provocado pela erosão na área. A partir daí, a gestão municipal prometeu realizar uma análise técnica da área.

O estudo foi realizado nos meses seguintes e foi essa análise que baseou o fechamento da Ladeira e a interdição definitiva da Barreira para o trânsito de veículos. Em maio de 2017, as linhas de ônibus que passavam pelo local foram alteradas. Poucos dias depois, os carros também deixaram de passar pela Ladeira e pelas ruas que contornam a Barreira.

Na época, duas ladeiras adjacentes localizadas no bairro de Cabo Branco e que ligavam o trânsito da praia ao bairro de Altiplano foram modernizadas e asfaltadas, para serem as rotas alternativas daqueles veículos que antes usavam a Ladeira. Além disso, ruas que passavam ao largo da Barreira e que antes eram de barro também foram asfaltadas. Uma delas foi a avenida Luzinete Formiga, que permitia que os motoristas saíssem do Altiplano direto para a Estação Cabo Branco sem passar pela área afetada pelas erosões. No mais, as obras de um hotel também foram embargados por afetar a área.

A propósito, o problema era considerado de tamanha gravidade que, nos anos seguintes, até mesmo a circulação de pedestres e ciclistas passou a ser questionada. Mas, em que pese algumas áreas mais próximas à barreira terem sido interditadas, o fechamento total nunca aconteceu.

Quais obras já foram feitas para conter a erosão?

A erosão da Falésia do Cabo Branco é uma preocupação antiga do poder público municipal. Registros de jornais da década de 1970 já apontavam para a necessidade de intervenções na área a fim de evitar o avanço sistemático do mar. Há pelo menos 50 anos, portanto, já se sabia que o problema existia e desde então muitas obras paliativas foram realizadas ou ao menos prometidas.

As principais, no entanto, eram todas corretivas, como a reconstrução sistemática da calçadinha de Cabo Branco nas proximidades da Barreira, após serem destruídas pelo mar. Foram muitas as obras no local ao longo das décadas.

Nos anos 2000, duas promessas principais não chegaram a sair do papel. A mais radical, mais polêmica e também mais contestada por ambientalistas era a que previa a construção de oito quebra-mares ao longo de 2.600 metros, cerca de 500 metros mar adentro. A obra custaria R$ 60 milhões, mas nunca foi executada, muito em função de críticas ao projeto e devido aos impactos ambientais que provocaria.

Ainda assim, duas obras foram executadas, mesmo após críticas. A primeira foi uma obra de drenagem executada em 2018 e a segunda foi o enrocamento do sopé da Barreira. Essa segunda foi a mais criticada.


				
					Erosão na Barreira do Cabo Branco: o que podemos explicar sobre isso?

Quais as propostas para o futuro da barreira?

O prefeito Cícero Lucena vem realizando uma série de encontros para discutir a questão da Falésia do Cabo Branco. A Secretaria de Comunicação da Prefeitura de João Pessoa chegou a divulgar encontros em Madri, na Espanha, com integrantes do Instituto de Ciencias de lá Construcción Eduardo Torroja, e em João Pessoa com a Reitoria da Universidade Federal da Paraíba.

Entre as promessas, estaria a engorda das praias de Cabo Branco e de Tambaú e “obras de estabilização” da Barreira.

As medidas, contudo, são duramente criticadas pelo Departamento de Geociência da Universidade Federal da Paraíba. O processo de erosão seria algo natural e uma intervenção sem o planejamento necessário poderia agravar o problema em vez de contê-lo.

A questão, segundo o Departamento, é que se trata de uma falésia viva que passa por um processo de erosão que em grande parte é natural e não pode ser contido. A saída seria realizar um estudo interdisciplinar que produza um relatório completo a partir de audiências públicas para se chegar a um consenso sobre a questão.

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Jornal da Paraíba

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