Deu Trump! Vivemos para ver!

O mundo acordou perplexo. Aconteceu o que parecia impossível. Donald Trump derrotou Hillary Clinton e é o novo presidente dos Estados Unidos.

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Enquanto acompanhava a apuração, na madrugada desta quarta-feira (9), lembrei muito da eleição de Ronald Reagan, em 1980. Reagan era temido por ser um ultraconservador e uma espécie de estranho no ninho da política, um canastrão de Hollywood que queria virar presidente.

Mas não era exatamente assim. Quando chegou à presidência, derrotando o democrata Jimmy Carter, Reagan não era mais um ator. E já governara por duas vezes o estado da Califórnia. Durante seus dois governos na Casa Branca, não aconteceu nada do que não estava previsto, nem dentro dos Estados Unidos, nem no diálogo com o mundo.

Trump, sim, parece encarnar tudo (e muito mais) o que, equivocadamente, se temia em Reagan. A vitória do não político, as ideias mais extremadas e menos generosas, o enfrentamento ao poder estabelecido.

O que surpreende na eleição de Trump é a ruptura que ela representa, a julgar pelo homem que vimos em campanha.

Democratas de um lado. Uns mais progressistas, outros menos. Republicanos do outro. Uns mais conservadores, outros menos. Mas todos jogando de acordo com as regras há muito estabelecidas na mais longeva democracia do nosso mundo.

Com Trump é diferente. Algo se quebrou, está se quebrando – como na letra daquela canção sobre os americanos.

Um ano atrás, ninguém acreditava que ele resistiria à pré campanha. Resistiu, se fez candidato. Contra o próprio partido. Contra a mídia, pondo por terra os institutos de pesquisa. Enfrentando o establishment.

Em cada eleição americana, há uma espécie de consenso em torno de algo que é muito maior do que um processo específico que culminará com a escolha de quem vai governar o país pelos próximos quatro (ou oito) anos. Digamos que há um conjunto de forças subjetivas que asseguram, vença quem vencer, a manutenção dos valores permanentes da democracia americana.

O Donald Trump da campanha ameaça a sobrevivência dessas forças. Torçamos para que elas se sobreponham a ele.

E, mais do que nunca, pensemos na letra da canção: Deus abençoe a América! E o mundo!