Médica quebra barreiras e traz esperança a mães de bebês com microcefalia

Adriana Melo, pioneira nas pesquisas da zika em gestantes, vem mudando a realidade de diversas famílias.

A médica Adriana Melo, a primeira a identificar a ligação do vírus da zika com a microcefalia, encontrou na maternidade uma missão de vida. E isso não apenas dentro de casa com as duas filhas, mas também no ambiente de trabalho, que ela diz ser uma de suas paixões. Responsável por guiar gestantes a um universo frequentemente novo para elas, a obstetra teve que assumir nos últimos anos um novo papel para as pacientes que descobriram a malformação em seus bebês: o de mãe.

E a figura materna de Adriana se delineou, sobretudo, por meio do auxílio incondiconal às necessidades dessas mulheres e de suas crianças. “Eu sempre tive uma relação muito próxima com minhas pacientes e extrapolava um pouquinho o vínculo, mas com a zika isso veio mais forte, porque nessa hora eu vi o abandono. Eu vi o risco de elas serem abandonadas com crianças que têm potencial”, explica a obstetra, que assiste inúmeras mães de Campina Grande, cidade onde começou a carreira e vive atualmente.

Incansável e perseverante, Adriana ressalta que fez questão de tomar para si a luta dessas mães e de seus filhos, inclusive com recursos próprios, por serem de origem humilde e não terem a quem recorrer. “A gente sabe que várias coisas poderiam ser feitas, eu mesma já usei o serviço público [de saúde] e sei que o acesso é dificil, é por isso que brigamos para que elas tenham esse suporte”, comenta.

Conforme a médica, o contato com as mulheres é constante, principalmente nos grupos de WhatsApp dos quais fazem parte. A rede social, com o passar do tempo, se tornou uma maneira eficaz de Adriana saber dos problemas das crianças e de estreitar ainda mais os laços com elas. “Sei de cor o nome de todas. Às vezes, tem uma que precisa de vaga para exame, outra, de lugar em UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Aí, eu ligo para diretor de hospital, secretaria de saúde e me envolvo mesmo”, menciona.

Médica quebra barreiras e traz esperança a mães de bebês com microcefalia“Fora isso, a gente gente também conversa muito, ri, troca ideias, organiza visitas. Hoje, nos tornamos uma grande família porque terminamos convivendo muito e sabendo de todas as dificuldades de cada uma”, frisa a premiada médica que conta, ainda, com o suporte do marido e das filhas na empreitada. "Sou uma mãe presente mesmo nas ausências", observa.

Outras ações do bem

Decidida a ampliar os trabalhos na área da saúde, Adriana e outros profissionais criaram o Instituto Professor Joaquim Amorim Neto de Desenvolvimento, Fomento e Assistência a Pesquisa Científica e Extensão (IPESQ). A organização deu início a uma campanha para arrecadar fundos voltados às famílias de bebês com microcefalia e, em parceria com a Energisa, viabilizou que as doações pudessem ser feitas por meio da conta de energia. Para contribuições a partir de R$ 1, os interessados podem ligar para o número 0800 083 0196 ou procurar uma agência da concessionária mais próxima.

Outra forma de ajudar é doando pessoalmente itens como fraldas, alimentos e roupas na clínica de Adriana, que fica localizada no bairro da Prata, em Campina Grande. No local, a médica reservou uma sala exclusiva para receber os donativos, que também serão entregues às mães. “Nos últimos tempos, as doações diminuíram e tivemos que comprar com nosso próprio dinheiro", lamenta. "Acho que isso acontece porque o brasileiro tem memória curta, pensa que o problema já foi resolvido. Só que não é bem assim, né?”, finaliza.