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POLÍTICA

80 tiros: Jamarri Nogueira faz apelo por artistas da Paraíba

Clamor faz alusão à morte do músico Evaldo dos Santos, assassinado por militares no RJ.

Publicado em 14/04/2019 às 10:03 | Atualizado em 15/04/2019 às 13:44


                                        
                                            80 tiros: Jamarri Nogueira faz apelo por artistas da Paraíba
Foto: Divulgação

Por favor, não atirem em Morgana Morais nem em Xisto Medeiros. Não metam balas em Raquel Ferreira nem em Suzy Lopes. Não fuzilem Lau Siqueira e Vitória Lima. Não disparem contra Thardelly Lima, Cely Farias e Rafael Guedes. Não mandem chumbo em Tiago Germano e Polyana Resende. Por gentileza, nada de tecos contra Socorro Lira, Aysha, Marcondes Orange e Ruana Gonçalves. Por favor, não firam à queima-roupa André Ricardo Aguiar e Maria Valéria Rezende. Não permitam que suas metralhadoras cuspam em Bertrand Lira, Torquato Joel e Marcus Vilar.

No último final de semana, o músico carioca Evaldo dos Santos Rosa, 51, foi assassinado por militares do Exército, em Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro. Evaldo, negro, foi ‘confundido’ com assaltante. A família de Evaldo estava no carro. Militares teriam se ‘confundido’ e teriam atirado porque acreditaram ser aquele o veículo de um bando de assaltantes. Oitenta tiros ‘por engano’...

Por favor, não atirem em Thelma Ramalho nem em Ilsom Barros. Não metam balas em Milton Dornellas nem em Escurinho. Não fuzilem Pedro Osmar e Paulo Ró. Não disparem contra Jonathas Falcão, Esmeraldo Marques, Thiago Sombra e Victor Rama. Não mandem chumbo em Érica Maria e Dany Danielle. Por gentileza, nada de azeitonas contra Kennedy Costa, Mike Deodato, Dyógenes Chaves e Flávio Tavares. Por favor, não manchem de pólvora Buda, Nanego e Soia Lira. Nem de raspão atinjam Vinícius Rodrigues Camêlo.

Oitenta tiros. E o carro atingido levava uma família para um chá de bebê. No interior do automóvel estavam Evaldo, a esposa, o filho de 7 anos, o sogro de Evaldo (padrastro da esposa) e outra mulher. Evaldo morreu na hora. O sogro foi baleado. Esposa, filho e amiga não se feriram. Um pedestre que passava no local também ficou ferido ao tentar ajudar. Não havia armas no carro. Só havia gente inocente e vítima da legitimação da violência.

Por favor, não atirem em Marcelo Máximo e Servílio de Holanda. Não metam balas em Joziel Santos e Titá Moura. Não fuzilem Guga Limeira e Chico Limeira. Não disparem contra Marcos Pinto, Val Donato, Nathália Bellar e Bira Magalhães. Não mandem chumbo em Rayan Lins e Eric Breno. Por gentileza, não se ‘confundam’ com relação a Laylson Ismar, Beto Cajá, Arthur Vieira e Luciano Monteiro. Por favor, não acionem o cão contra Merlânio Maia e Jairo César. Abaixem as armas quando passarem Sérgio de Castro Pinto e Expedito Ferraz.

Oitenta tiros!!! Logo após a morte de Evaldo dos Santos Rosa, o Comando Militar do Leste (CML) negou que tenha atirado contra uma família e disse que respondeu a uma ‘injusta agressão’ de "assaltantes". À noite, em outra nota, informou que o caso estava sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar com a supervisão do Ministério Público Militar.

Por favor, não atirem em Kennel Rógis e João Carlos Beltrão. Não metam balas em Arthur Pessoa e Edy Gonzaga. Não fuzilem Kalyne Lima, Priscilla Santana e Victor D’Olive. Não disparem contra Ramon Batista, Rodolpho de Barros e Fernando Teixeira. Não disparem contra Sandra Belê, Anna Apolinário e Kélner Macêdo. Não mandem chumbo em Nézia Gomes, Raisa Agra, Rucker Bezerra e Pablo Giorgio. Por gentileza, não atirem em Chico César, Fernando Trevas e Eli-Eri Moura.

Oitenta tirambaços!!! O assassinato de Evaldo (músico negro) e o atentado contra a sua família fazem parte da legitimação da violência e da opressão (características de uma época em que temos Jair Bolsonaro como presidente). Mais casos como esse acontecerão e serão cada vez mais comuns. Nossas famílias estavam dentro do carro que foi ‘confundido’ por militares muito bem armados. Nossos artistas estavam dentro daquele carro. Nossa dignidade estava dentro daquele veículo. Acertaram nosso peito porque estão banalizando – cada vez mais – a nossa morte. Por favor, não atirem em mim (eu sou apenas um jornalista)...

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Angélica Nunes

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